Entre os dias 21 e 23 de março, o Complexo Cultural de Planaltina foi palco de um evento transformador: o Festival Cine Deburu. Com apoio da Lei Paulo Gustavo, o festival trouxe curtas-metragens de diferentes gêneros e estilos, sempre com a temática das religiões afro-brasileiras, promovendo uma imersão cultural, educacional e artística para o público.

Deburu, termo que faz referência à comida ritual dos Orixás Obaluaê e Omolu, foi a inspiração para o nome do evento, que faz referência ao milho de pipoca estourado em uma panela, geralmente com óleo de dendê, um prato essencial na tradição dessas religiões.
Os 18 curtas selecionados foram exibidos em três categorias competitivas: Melhor Filme de Ficção, Melhor Filme de Não Ficção e Melhor Filme pelo Júri Popular. No último dia, a cerimônia de premiação contou com um júri de peso composto por Edileuza Penha de Souza, Antônio Balbino e Ana Poney.
Cinthia Santos, produtora cultural e mestre de cerimônias do festival, brincou com o público durante os três dias do evento, dizendo que sua meta era alcançar a edição 115. “Virem mais depois é lucro, mas até a 115 a gente vai ter que estar se virando para fazer. Festivais que celebram e mostram as histórias a partir de uma perspectiva não colonizadora sobre o cinema e a cultura afroindígena, das religiões de matriz africana, são fundamentais. É importante que a gente conte nossa versão das histórias, pois fomos silenciados e nossas narrativas foram recontadas sob a ótica do colonizador. O cinema é uma ferramenta de cura, de reencontro e de ressignificação. Ver o público se identificando com essas temáticas e com as diversas interseccionalidades que ele traz, é essencial”, afirmou Cinthia.

Em uma seleção com 218 filmes de todas as regiões do Brasil, o festival se destacou pela diversidade de produções, especialmente nos gêneros documentário e ficção, com filmes finalizados entre 2020 e 2025, com duração de até 30 minutos.
Isabelle Araújo, que atuou como curadora junto com Mariana Souto e Ana Caliandra, destacou o papel do audiovisual como um mercado de trabalho fundamental. “Foi um processo de curadoria diverso e gratificante. Pudemos ver uma grande variedade de produções de diferentes cultos e religiões do Brasil. Festivais como esse são essenciais para dar visibilidade aos povos de matriz africana, além de ressaltar a importância da Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que possibilitaram a realização desse evento e o apoio a essa produção”, comentou Isabelle.
Exposição Fotoquímica: Egbé – A Força da Memória Ancestral

Além das exibições cinematográficas, o evento também contou com a exposição fotoquímica “Egbé è Família”, que trouxe o olhar de três iniciáticos de terreiro – Andyara Miranda, Lukambila (Brenda Paixão) e Pedro Bercamp. Por meio da fotografia impressa e revelada pela técnica de cianotipia, a exposição trouxe uma narrativa que evoca a memória dos mais velhos e os mistérios do tempo. A cianotipia é uma das primeiras técnicas fotográficas, caracterizada por um trabalho manual e artesanal, que remete aos tempos antigos e à ancestralidade.

Os Vencedores do 1º Festival Cine Deburu
A qualidade dos filmes exibidos tornou a escolha dos vencedores uma tarefa difícil, mas os grandes premiados foram:
🏅 Melhor Filme de Ficção – Na Volta Eu Te Encontro (Direção: Urânia Munzanzu) | Prêmio: R$2.500,00
🏅 Melhor Filme de Não Ficção – Silêncio na Boiada (Direção: Luiza Fernandes) | Prêmio: R$2.500,00
🏅 Melhor Filme pelo Júri Popular – Pedagogias da Navalha (Direção: Colle Christine, Alma Flora e Tiana Santos) | Prêmio: R$2.000,00
Além dos prêmios em dinheiro, as diretoras vencedoras também receberam um troféu exclusivo do festival, confeccionado pela talentosa artista @barraventoatelie.
O Festival Cine Deburu se consolidou como uma celebração da resistência cultural afro-brasileira e um passo importante na valorização das culturas e religiões de matriz africana no Brasil. Que venham mais edições!














