Centenas de milhares de pessoas expressaram descontentamento com escolha de Michel Barnier; decisão pela qual o presidente ignorou a vitória da esquerda nas eleições legislativas de julho
No último sábado (07/09), cerca de 300 mil pessoas tomaram as ruas da França para protestar contra a nomeação do conservador Michel Barnier como primeiro-ministro pelo presidente Emmanuel Macron.
A manifestação em Paris atraiu 160 mil participantes, enquanto outras cidades, como Lille, Bordeaux e Marselha, também foram palco de grandes protestos, conforme reportado pelo People’s Dispatch.
A escolha de Barnier, conhecido por seu apoio a políticas neoliberais e posições anti-imigração, em vez da candidata da NFP, Lucie Castets, gerou uma reação negativa entre os progressistas e grupos de esquerda, que organizaram os protestos.
Os manifestantes pediam que Macron respeitasse os resultados da eleição geral de julho, na qual a coalizão progressista de esquerda, Nova Frente Popular (NFP), obteve o maior número de assentos no parlamento.
A decisão também foi criticada por facilitar a entrada de elementos da extrema direita no governo – setores de esquerda alegam a possibilidade de ter havido negociações secretas entre Macron e a líder do Frente Nacional, Marine Le Pen.
Manès Nadel, líder de um sindicato estudantil que convocou o protesto, afirmou que Barnier é “um homem do passado, homofóbico e anti-migrante”. Ele criticou Macron, o chamando de autocrata, e afirmando que ele desrespeita a vontade popular e que deve renunciar se não respeitar os resultados eleitorais. “Se ele não [respeitar o voto], nós o forçaremos a recuar ou a renunciar”, declarou Nadel.
Os eleitores apoiaram o NFP devido à sua promessa de romper com as políticas impopulares dos últimos anos. “Se eles [o NFP] nos traírem, estaremos atrás de cada barricada para lembrá-los por que os elegemos. Se eles esquecerem Kanaky, se esquecerem a Palestina”, afirmou Nadel. “Somente uma política de ruptura fará com que a extrema direita recue.”
Durante os protestos, Manuel Bompard, parlamentar da França Insubmissa, partido de Jean-Luc Mélenchon, afirmou que o grupo continuaria sua oposição tanto no parlamento quanto nas ruas. “Estamos prontos para nos mobilizar nas ruas se o Presidente da República continuar com seu golpe antidemocrático”, declarou Bompard.
Os protestos também expressaram frustração com a política externa da França, especialmente em relação ao genocídio em Gaza. A recente detenção de Imane Maarifi, profissional de saúde que trabalhava como voluntária na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, intensificou a indignação. Grupos de esquerda, incluindo a France Unbowed, criticaram o apoio de Macron a Israel e a repressão a ativistas pró-palestinos.
Símbolos de solidariedade à Palestina foram visíveis em muitos protestos, com a France Unbowed organizando uma manifestação separada em 8 de setembro para apoiar a Palestina.
Centenas de pessoas participaram do evento, reafirmando o compromisso do NFP com a promessa de impor um embargo total de armas e sanções a Israel até que a justiça para os palestinos seja alcançada.
O fim de semana de protestos evidenciou a ampla oposição às tentativas de Macron de manipular os resultados eleitorais, com sinais de que a resistência continua forte. Os próximos dias determinarão se o presidente considerará a pressão popular, mas, por ora, os preparativos para um governo Barnier continuam.