A alteração na política de distribuição de dividendos da Petrobras, anunciada pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates, no final de julho, pode tirar a companhia do posto de maior pagadora a seus acionistas entre as maiores petroleiras do mundo.
Levantamento realizado pelo vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, demonstra que, mesmo com a menor receita entre as seis, o pagamento de dividendos da Petrobras foi o maior no primeiro semestre de 2023.
Com receita de US$ 52,48 bilhões, a Petrobras pagou US$ 10,92 bilhões em dividendos referentes aos meses de janeiro a junho deste ano.
Segunda que paga mais dividendos teve receita 3x maior
A segunda petroleira que mais pagou dividendos nesse período foi a Exxon Mobil que distribuiu US$ 7,44 bilhões aos acionistas, tendo registrado uma receita no período mais de três vezes superior à da Petrobras (US$ 169,48 bilhões).
Coutinho, que é engenheiro químico, diz que a manutenção desse nível de distribuição de dividendos é insustentável e coloca em risco o futuro da companhia.
A distribuição de dividendos da Petrobras no primeiro semestre de 2023 foi feita com base na política anterior da companhia, que previa o pagamento de 60% do percentual do fluxo de caixa livre (dinheiro à disposição no caixa). O percentual foi reduzido para 45%.
Primeiro trimestre de 2023 (elaboração: Aepet)
A pesquisa do vice-presidente da Aepet mostrou ainda que a relação entre investimentos líquidos e dividendos pagos pela Petrobras no segundo trimestre de 2023 foi 10 vezes superior à média das cinco grandes petroleiras analisadas.
Enquanto a estatal brasileira pagou de dividendos um montante mais de cinco vezes superior ao que realizou em investimentos líquidos, a estadunidense Exxon Mobil pagou de dividendos 80% do total dos investimentos realizados. A petroleira inglesa BP foi a que menos pagou dividendos em relação aos investimentos líquidos realizados.
Coutinho concluiu que “a relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobras são discrepantes em relação à gestão das grandes petrolíferas mundiais”.
Investimento está e continuará abaixo da média histórica
A pesquisa ainda comparou o nível de investimento do segundo trimestre com os últimos 17 anos da Petrobras, concluindo que “os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas”.
Apesar de ter diminuído o volume de dividendos pagos aos acionistas, quando comparado a 2021 e 2022, a proporção de dividendos pagos em comparação aos investimentos líquidos é bem superior à média do período analisado.
“Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido do último trimestre foi 44 vezes mais alta se comparada com a média de 2005 a 2020”, afirmou o vice da Aepet.
Felipe Coutinho diz acreditar que o novo plano estratégico (2023-2027), apresentado por Jean Paul Prates, está com um investimento projetado relativamente baixo, em torno de US$ 78 bilhões (R$ 400 bilhões) em cinco anos.
“É 30% menor, se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobras, desde 1965, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 71% menor, se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões em valores atualizados”, destacou.
Mudança nos dividendos melhorou, mas ainda é conservadora
Em entrevista à Agência Brasil, o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras, opinou que a mudança na política de distribuição de dividendos da petroleira brasileira vai possibilitar ampliar os investimentos da empresa, mas que a porcentagem de 45% ainda é conservadora.
“É um ganho, com certeza, porque o que a Petrobras estava pagando de dividendos era algo totalmente surreal. A Petrobras estava pagando mais dividendos do que tinha de lucro. Nenhuma empresa faz isso, acho que só empresa familiar”, destacou.
Questionada pela Agência Brasil sobre o levantamento da Aepet, a assessoria de imprensa da Petrobras disse que a nova política de distribuição de dividendos permitirá manter o objetivo da empresa “de promover a previsibilidade do fluxo de pagamentos de proventos aos acionistas”.
A estatal complementou que, ao mesmo tempo, “garante a perenidade e a sustentabilidade financeira de curto, médio e longo prazos da Petrobras, sem comprometer a capacidade de crescimento da companhia”.
Do Monitor Mercantil com Agência Brasil e Aepet
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