Eu nasci aqui, ali na L2.
No HMIB.
Morei no plano.
No lago.
Fiz do bloco brinquedo.
Somos projetadas.
Gostamos que nos vejam como plano cartesiano.
Cheio de eixos e sem esquinas.
Com encantos escondidos.
Com mistérios a serem descobertos.
E gostamos de arte.
Temos o traço quase reto.
Somos de concreto. Fortes.
Formas claras.
E abertas ao tenro horizonte.
Pintamos o sete em nosso céu.
Somos quase místicas, há quem diga.
Nunca seremos unanimidade.
Há aqueles que jamais entenderão como funcionamos.
Aqueles que se perdem em nossos números e siglas.
Que para nós se
Faz tão lógico.
Cheias de símbolos.
Ignoramos o importante e distinto em nosso cotidiano.
São apenas transeuntes de nossa paisagem.
Nós permaneceremos. Tantos outros passarão.
Nossa aridez tergiversa com o deserto.
Sobrevivemos ano após ano.
Renascemos em nossas queimadas.
E ainda temos em nós a miragem de um oásis para os forasteiros.
Temos recôncavos e convexos.
Somos da cor vermelha da poeira que se acosta em nossos monumentos.
Somos cerrado. De árvores de galhos retorcidos e raízes profundas. Casca-grossa. Carregado de flores exóticas.
Nada nos é fora do lugar.
Nada nos causa estranheza.
Abrigamos todos. Sem distinção.
Rimos daqueles que não nos gostam, é porque ainda não se permitiram ver nosso pôr-do-sol ou nosso despertar que nunca se repete.
É que nossa arquitetura não se sobrepõe. Não disputa entre si. Sua pujança está em ser única.
Enfeitamos compondo o espaço.
É que ainda não passaram por debaixo de nossas pontes.
Porque não foram para além de nossas janelas.
Não só transpiramos trabalho.
Não só amamos política.
Bebemos na rua.
Nos derramamos sobre nós.
E fecundamos poesia e som debaixo do chão.
Não queremos parecer com ninguém. Porque somos como todos e ninguém em particular.
E quando nos vem dizer de nossa frieza em breve percebem que é só a aparência de nossa engenharia. Onde nos falta avenidas está lotado de passagens secretas pra nosso coração, que é quente como agosto, mas jamais seco como setembro.
Mariana Gondim Jacob
Parabéns, Brasília.
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