Parece até que se passou uma eternidade, mas finalmente a bola começa a rolar nos estádios e nas dilatadas pupilas dos torcedores. Na Europa os campeonatos alemão e espanhol já dão as caras. Sem muita novidade, além, é claro, da ausência do público. O que é triste, mas ainda necessário.
Na Bundesliga, O Bayern de Munique desfila glorioso e imponente, sem rivais à vista para jogar água no legítimo Chopp bávaro – mais uma Oktoberfest à vista. Com Lewandowski de garoto propaganda – e candidatíssimo a melhor do ano.
Já nas Tierras Del Rey, com a quase sempre disputa binária – Real ou Barcelona. Imprevisível saber neste momento quem sairá fortalecido da quarentena. Zidane pode surpreender, como já fez em outras ocasiões, quando levou os merengues ao topo mesmo com elencos nem tão galácticos. Embora os blaugranas se mostrem mais encorpados. E tenham o maior jogador da atualidade, de quem se pode esperar sempre o impossível, o genial Messi. É acompanhar para ver.
E aqui nas terras tupiniquins? O que podemos esperar no retorno de nosso futebol pentacampeão? Tudo poderia ser simples e direto – mas a bola nos liberta do cartesianismo: e o que na fria matemática poderia ser improvável – mostra-se, no calor das camisas e nas voltas da pelota, verdadeiramente considerável.
O Flamengo permanece anos luz à frente dos demais – no retrovisor apenas um verde suíno, mas talvez menor do que realmente aparece no reflexo. Wanderley Luxemburgo promete, mas a confirmação é outra história. O Palmeiras possui um elenco invejável – mas até hoje ainda não encontrou uma formação segura. O Mengão agradece.
Já o São Paulo, de Fernando Diniz, é outra fábula. Um técnico que conquistou mais fama pelo que promete do que efetivamente pelo que faz. Uma camisa supercampeã que sofre fracassos e vexame após vexame na última década. Os são-paulinos hoje são verdadeiros carnavalescos – vivem de fantasia. E a do momento chama-se Diniz – que parece ter muita teoria, mas sem muito resultado.
Os demais cariocas e paulistas correm por fora. O combalido Vasco, o apequenado Botafogo, o sonhador Fluminense (que aposta novamente em Fred). Seria um novo time de guerreiros ou um novo pesadelo?
O Corinthians vive uma crise sem tamanho. Salários atrasados, perda de jogadores, técnico sem respaldo, torcida desconfiada. Nada demais para um time que tem no sofrimento o orgulho da vitória. O Santos espera por um milagre – talvez aquele raio que já caiu três vezes na Vila, mas que, depois de Neymar, parece ter dado um tempo.
Nas Minas Gerais, o trem tá feio. O Cruzeiro, depois de grandes conquistas na primeira década, amarga uma dívida que lhe penhora até os cobertores. Sem condições de manter a própria base, a batalha da série B pode virar uma guerra. Com um trágico fim. O Galo, por sua vez, não chega a tanto, mas não está tão bem. Perdendo bons jogadores e sem contratações de peso no radar. Sampaoli é um estrategista – mas faz milagres?
No Sul, os dois gigantes arquirrivais caminham juntos. Bons elencos, trabalhos bem encaminhados, porém já dando sinais de desgaste, principalmente no tricolor com Renato Gaúcho. Mas, efetivamente, podem surpreender. A raça gaúcha e o brio dos pampas costumam dar o ar da graça em decisões.
No Nordeste a alegria fica por conta da Copa local – e a grande atração é o Fortaleza de Rogério Ceni, que defende o título.
Os campeonatos estaduais parecem já ter dono. Mas a quarentena pode frustrar nossos cálculos e haver grandes surpresas. Quem poderá imaginar? Difícil, mas não impossível.
Quanto à Libertadores e Copa do Brasil, a possibilidade de uma surpresa se torna maior – é o emocionante e desequilibrado mata-mata. Um erro de passe, uma falta mais perigosa, ou uma entrada mais dura e um consequente cartão vermelho – detalhes tão pequenos de um clássico são coisas muito grandes para desatender. Certamente estarão presentes.
Os dados serão lançados. Façam suas apostas e torçam. A bola vai rolar outra vez em 2020. Esperemos que haja condições e que seja uma jornada non stop. E preparar nossos memes para zoar os amigos e colegas. E sermos zoados também. A festa é brincar.
O que nos resta, uma vez que os estádios ainda estarão inacessíveis por conta da pandemia, é aquecer nosso lugar no sofá, deixar a cerveja na temperatura certa, preparar nossa bandeira e vestir o manto – pois a bola está voltando. Com muita emoção, com muita disposição, e até certa apreensão – mas com muita saudade. Então, seja bem-vinda, sua coisa linda!