A suspensão das aulas presenciais nos mais diversos recantos do país, em decorrência das medidas de isolamento social necessárias ao enfrentamento da pandemia do coronavírus, escancarou as desigualdades sociais e educacionais que estruturam a sociedade brasileira, e abriu uma janela de oportunidades para o mercado da educação, ávido por disputar os fundos públicos através da comercialização de plataformas de educação a distância, softwares, modelos pedagógicos, métodos de ensino e aprendizagem, conteúdos e soluções tecnológicas.
No entanto, há uma grande pressão de setores do empresariado, afetados em virtude da necessária paralisação dos serviços não essenciais, pelo fim das medidas de isolamento social, o que aumenta a pressão pela reabertura das escolas em meio ao agravamento da crise sanitária, em especial pela reabertura das escolas públicas de educação básica, uma vez que a imensa maioria das crianças e adolescentes estão matriculados nas escolas públicas, e que a reabertura dessas escolas é condição essencial para que milhões de trabalhadores e trabalhadoras retornem aos seus postos de trabalho.
Esse conflito de interesses termina por anular a defesa primordial da vida e por aprofundar as desigualdades educacionais, uma vez que a expansão irrefletida da Educação a Distância aprofunda o abismo existente entre a educação das elites e a educação das classes trabalhadoras, sendo estas carentes de acesso à internet banda larga, computadores, tablets e smartphones.
Testemunhamos ainda o aprofundamento da precarização do trabalho dos profissionais da educação, obrigados a se adaptar a uma realidade para a qual não foram devidamente formados e para a qual não são devidamente valorizados, ou ainda a substituição de profissionais da educação por robôs em ambientes virtuais, o que é revelador de um processo absolutamente desumanizado.
A educação como prática de liberdade, como ato de amor, como processo de construção coletiva e democrática do conhecimento, pressupõe relações entre seres humanos, afeto, comunidade escolar, pertencimento ao espaço-tempo escolar, valorização profissional, igualdade de condições, valorização da vida, e isso tudo está sendo progressivamente descartado, tanto no processo de imposição da EaD como no processo de imposição do retorno prematuro às aulas presenciais.
Ademais, o governo Bolsonaro tem um pacote completo de destruição da educação pública, da creche à pós-graduação, que engloba o fim do Fundeb, o Plano Mais Brasil, o Future-se, a Educação Domiciliar, a expansão irrefletida da Educação a Distância, a militarização da educação básica, a política de vouchers, dentre outras propostas que têm como norte a precarização e privatização. Faz-se imperativo retomar a mobilização social, dentro e fora das redes sociais, em defesa de uma educação pública, gratuita, laica, democrática, não militarizada e de qualidade.