O ensino laico, universal e público (gratuito) é básico para formação de um povo consciente e capaz de se defender. Esta possibilidade só veio, e parcialmente, acontecer no Brasil depois de 14 de novembro de 1930, quando Getúlio Vargas cria o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, onze dias após ser designado Presidente pela junta militar vitoriosa da Revolução. Ou seja, fomos por quatro séculos adestrados a pensar condicionado e de modo subordinado.
A partir da análise etimológica da palavra sujeito, escreve Rubens Casara (“A Construção do Idiota”, Da Vinci Livros, RJ, 2024): “o processo de subjetivação não produz apenas subjetividade, leva também necessariamente a um quadro de submissão, não de todo consciente”. Daí se afirmar que o brasileiro não é um povo religioso, mas supersticioso. E a crença nos jogos de azar comprova.
Também o pensamento dual, simplificador, impede de conhecer a imensa gama de pensamentos e ações que existem entre a esquerda e a direita, o ateísmo e o teísmo, entre o capitalismo e o socialismo. Mas sempre foi do interesse dos poderes escravistas evitar a reflexão mais ampla e profunda, por ser libertária.
Colocado diante desta realidade fica mais fácil compreender porque as queimadas, que se espalham pelo Brasil, não decorrem de fenômenos naturais, da falta de ação defensiva em favor do clima e da natureza. As queimadas, principalmente nas regiões centro-oeste e sudeste, são ações criminosas de uma polícia civil e militar aparelhada pelos interesses estrangeiros, especialmente nos últimos seis anos.
O POQUÊ DAS QUEIMADAS NO CENTRO-SUL BRASILEIRO
Desnecessário enfatizar a riqueza natural do Brasil, temos terra fértil, água doce em abundância, energia de várias fontes primárias e toda gama de minerais.
A área aqui tratada das queimadas, o centro-oeste e sudeste brasileiro, abrange quase dois milhões de quilômetros quadrados, ou seja, território semelhante à soma da Alemanha, Finlândia, Reino Unido e Venezuela. E no mais rico local do Brasil.
E tem mais. Está no sistema hidroviário Paraguai-Paraná, que poderia ser o principal eixo da integração da América do Sul, envolvendo quatro mil quilômetros, e incluindo a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, como escoadouro natural e mais econômico da agropecuária do centro-oeste e sudeste brasileiro.
As queimadas propiciam aumentar estas áreas em benefício dos que, efetivamente, lucram com a agropecuária brasileira, as finanças apátridas. Os proprietários das terras ou agentes operativos, como na tradição de nossa economia, defendem os interesses estrangeiros que lhes dão comissões. O que também incentiva a corrupção, que sempre acompanha os negócios antinacionais.
Na BSB Revista, de 14/09/2024, com diversas fotos ilustrativas, é registrada a cortina de fogo que agride as terras indígenas Xingu e Capoto Jarina, próximas ao município Peixoto de Azevedo (Mato Grosso). O Estado de Mato Grosso tem 86 terras indígenas, onde 46 povos estão assentados. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registra o aumento de 48% nestes últimos meses das queimadas, em relação ao mesmo período de 2023.
Na região do Cerrado, o aumento foi de 60%. Em São Paulo, as queimadas se espalham por todos os cantos, exigindo a presença de bombeiros do Rio de Janeiro para dar combate.
Do outro lado do Atlântico, os países africanos África do Sul, Angola, Gabão, Malawi, República Democrática do Congo, Ruanda, Zâmbia, Zimbabue, entre outros, não apontam incêndios florestais como os do centro-sudeste brasileiro. As condições climáticas serão tão diferentes? Afinal as questões ligadas à ecologia são localizadas, particulares ou é uma única, mundial?
A conclusão só pode ser: o Brasil é uma colônia das finanças apátridas que aparelhou as inteligências militares e policiais e corrompeu os governos em todos poderes.
COMO SALVAR A NAÇÃO BRASILEIRA
O primeiro passo para salvar a nação e construir verdadeira cidadania, que não se confunde com o voto em urna eletrônica.
A cidadania se constrói com o Estado forte e atuante. Nada de mercado que tira o interesse nacional e coloca o interesse dos gestores de ativos, residentes em paraísos fiscais espalhados pelo mundo.
Getúlio Vargas nos deu o caminho em novembro de 1930, criando o ministério para cuidar da educação e da saúde, condições fundamentais para o povo poder agir, e, no mesmo mês, o ministério do trabalho, que deve ser a base da riqueza; não o rentismo preguiçoso e inútil.
Sob domínio do neoliberalismo, o Brasil chegou ao pior Congresso de sua história, mesmo nele computando o do Império onde mais valia um Imperador, ausente das questões nacionais, do que instituições para o desenvolvimento do País.
E o judiciário, onde a escolha se dá pela filiação ideológica e não pelo saber jurídico, tendo um ministro qualificado pelo presidente da República que o nomeou como “tremendamente evangélico”.
Precisa-se, urgentemente, colocar como obrigação do Estado dois conjuntos de ações: defesa da soberania e construção da cidadania.
Na defesa da soberania dotar o Brasil de recursos para enfrentar as agressões do exterior que hoje são, quase exclusivamente, oriundas da capacidade de criar e operar recursos derivados da teoria da informação. Dedicar recursos públicos para produção e controle das mensagens, sejam nas tecnologias de fabricação, sejam na de uso de equipamentos em terra e no espaço, e também na criação de linguagens e sistemas próprios. O uso quase único da Microsoft e o caso Elon Musk são apenas exemplos que todos identificam; mas veja no seu celular e no seu notebook o que tem de tecnologia brasileira.
Na construção da cidadania caberá ao Estado a construção e manutenção de escolas do tipo que o Governador Leonel Brizola construiu, com a assessoria de Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) que começam no primeiro ano do ciclo elementar e concluem no terceiro ano do ensino médio.
Também o Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser ampliado para atender todas as enfermidades em todo território nacional e, principalmente, atuar de modo preventivo.
Ao lado da educação e saúde, o Estado deve prover residências, o que inclui a urbanização ecologicamente adequada, para que não exista morador de rua e as favelas sejam urbanizadas com arruamento. E a mobilidade urbana. Por que cidades em países da Ásia e da Europa podem ter metrô e ônibus sem tarifas e o Brasil não pode? Porque eles não se deixam achacar com juros extorsivos de dívidas não auditadas.
As queimadas, como se vê, exibem o Brasil real, financista e corrupto, que a imprensa controlada pelo capital estrangeiro não mostra.
É uma oportunidade que surge, diante da devastação do País, para todos exigirem a precedência da Questão Nacional, que cuida evidentemente da população fragilizada, nas dimensões destas fragilidades e não por identitarismo, como principal preocupação do Governo Brasileiro.
O mês do sete de setembro é muito oportuno para que voltemos o olhar para a Questão Nacional.
(*) Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Legendas: BSB Revista