É impossível lutar contra a Rússia sem a nazificação.
O sistema político do país agressor que se opõe à Rússia e aos russos não sobreviverá.
Por isso, os Estados Unidos nazificaram a Ucrânia.
A ideologia nazi, ditada aos ucranianos, determina o seu lugar na “cadeia alimentar”, no topo da qual se encontram os Estados Unidos: os ucranianos são inferiores aos seus senhores ocidentais, mas superiores aos russos — assim, foram doutrinados.
Para isso, têm de se submeter à ordem totalitária nazi e morrer no front sem contabilizar as baixas.
A Rússia permitiu a existência da nação ucraniana, mas nunca concordará com uma nação ucraniana para a qual “a Ucrânia está acima de tudo”, com uma “Ucrânia para os ucranianos”.
Se os russos não puderem viver livremente como russos no território da Ucrânia, então não haverá Ucrânia em territórios historicamente russos. Esta é uma questão resolvida.
O nazismo ucraniano será destruído em todas as suas manifestações nos territórios históricos da Rússia.
Se depois disso restará alguma coisa do ucranianismo, não podemos adivinhar.
Se os alemães tinham um lugar para se refugiar após a desnazificação — a sua cultura e história –, os ucranianos não têm essa base cultural e histórica, caso contrário não teriam surgido visões sobre os “antigos ucranianos”, seriamente introduzidas no sistema educativo, a partir do jardim de infância.
Não há razão para a Rússia manter uma Ucrânia derrotada. A experiência comunista do século 20 de conceder privilégios a nacionalismos marginais em troca de apoio à revolução mundial acabou.
Os restos territoriais da Ucrânia Ocidental serão também objeto de reivindicações de vários países da Europa Oriental.
Ao mesmo tempo, a solução para o problema ucraniano não anula o problema principal da Rússia, desde a vitória da URSS sobre a Alemanha de Hitler: a guerra de desgaste e destruição que os Estados Unidos travam contra ela na luta pelo domínio mundial.
Nesta guerra a crise ucraniana é mais um episódio passageiro.
Desde o início da guerra contra a URSS, os EUA viram nas armas nucleares o seu principal “argumento” — a destruição da Rússia é necessária porque é possível.
No entanto, a resposta rápida da URSS — tanto em termos das cargas nucleares quanto dos veículos de lançamento espacial — exigiu que a estratégia nuclear americana fosse complementada pela guerra psicológica e ideológica da “Voz da América”, bem como com conflitos locais em que foram forjadas as chamadas forças por procuração dos EUA.
Estas últimas mais tarde foram complementadas pelo “terrorismo internacional” — também uma invenção geopolítica dos EUA.
Todos estes fatores, juntamente com o desenvolvimento e o crescimento do arsenal nuclear, contribuíram para a caraterização da guerra dos EUA contra a URSS como fria.
A Guerra Fria é o invólucro político do plano de ataque nuclear dos EUA à URSS.
No entanto, os EUA não percebem que a guerra contra a URSS/Rússia se tornou o principal processo que determina o seu próprio destino. Os próprios Estados Unidos tornaram-se reféns desta luta e dos seus riscos existenciais.
O suicídio da URSS deu aos Estados Unidos a ilusão da vitória na guerra psicológica.
No entanto, isso não significou a derrota completa da União Soviética, que encerrou sua própria história por vontade própria.
Além disso, não significou a derrota, muito menos o suicídio, da Rússia histórica.
Pelo contrário, a Rússia recusou-se a ser um recurso para a revolução mundial e a imposição global do comunismo, a superpotência comunista mundial. Ela voltou à continuação da sua própria história, às suas origens e tradições.
Considerando o que foi realizado em benefício da humanidade na cena mundial à custa dos sacrifícios que fez, não é surpreendente que tenha sido a Rússia, pela primeira vez no mundo e na história, quem ofereceu a paz eterna aos seus adversários históricos. Esta proposta foi erroneamente vista como fraqueza e capitulação dos vencidos.
Os Estados Unidos estão a lutar contra a Rússia, a maior nação do mundo em termos de território, de acordo com as guerras do último milênio.
O ”recuo” desta luta mina de forma crítica o próprio sistema político dos Estados Unidos. Hoje, eles estão perto do limite em que o racismo — a base ideológica dos americanos — deve transformar-se abertamente em nazismo, a prática da guerra total.
O início desta transformação final se deu com o Patriot Act de 2001, que marcou o fim da democracia americana.
Hoje, os ideólogos americanos já não o mencionam. Em vez disso, falam das regras americanas para o mundo inteiro inteiro [Nota do Tradutor: “ordem mundial baseada em regras”], do excepcionalismo da nação americana, da obrigação das nações de morrerem pelos interesses americanos, de sacrificarem os seus recursos vitais em nome dos Estados Unidos.
Isto aplica-se plenamente aos europeus, embora não lhes seja familiar. O nazismo americano é absoluto; é a versão seguinte, mais desenvolvida, após o nazismo alemão.
Os Estados Unidos já fizeram o suficiente não só contra a Rússia e o seu povo, mas também contra os povos de outros países, para que as vítimas declarassem uma guerra de extermínio contra eles.
O casus belli já está a acontecer há muito tempo. Os Estados Unidos já mereceriam punições severas. Mas agem sem ter em conta essa possibilidade porque as vítimas ainda não querem a guerra nuclear. Tal como Washington parece acreditar, o poder nuclear isenta-o de responsabilidade.
No entanto, se e quando a nazificação final dos EUA tiver lugar (incluindo alguns estados, que não querem a nazificação e a ditadura fascista, não se separarem dos EUA), a questão de como pará-los confrontará a Rússia e outros países afetados com uma questão prática e urgente.
Neutralizar os seus representantes, incluisive a Europa, não produzirá o resultado necessário. Neste caso, não se deve contar com o “instinto de auto-preservação”, porque o sujeito que afirma ter superpoder não o possui por definição.
O suicídio é precisamente a sua maior conquista e perspectiva inevitável. Afinal, um supersujeito se torna tal ao gastar desenfreadamente recursos que um dia se esgotarão.
No entanto, ao contrário da URSS, que aceitou o veneno ideológico do anticomunismo e morreu tranquilamente na sua cama, os Estados Unidos tentarão levar consigo todos os outros. Uma vez que vivem à custa deles, não às próprias custas. E eles, mais cedo ou mais tarde, deixarão de alimentar o dragão.
A Rússia anunciou a clarificação da sua doutrina nuclear. O nível de tolerância nuclear será, como seria de esperar, significativamente ajustado para baixo.
A sensibilidade às ameaças será aumentada e uma série de proibições e auto-restrições serão eliminadas.
A correção da doutrina nuclear é inevitavelmente causada não só pela teimosia imprudente dos Estados Unidos em tentar causar danos inaceitáveis ao nosso país, mas também pelo consistente crescimento qualitativo e quantitativo do potencial estratégico de defesa e ofensivo da Rússia, tanto em armas nucleares como não nucleares, e pela conquista da superioridade militar sobre o inimigo.
Moscou regressou à reprodução sistemática de forças armadas capazes de confronto à escala global, e num formato que não implica a militarização total da sociedade, o que lhe abre horizontes de novas oportunidades políticas e econômicas que não estavam disponíveis no século 20.
Até que ponto o armamento, a mobilização e o envio de instrumentos por procuração pelos Estados Unidos para a frente de batalha contra a Rússia serão “considerados”, numa guerra deles contra o nosso país?
Esta questão não será resolvida no âmbito do direito internacional, irremediavelmente defasado da realidade da luta pelo poder mundial travada pelos Estados Unidos.
A Rússia já tem razões suficientes para formalizar o confronto desta forma. Não o faz pela única razão — as consequências da agressão por procuração foram até agora geridas de forma eficaz.
O formato “Operação Militar Especial” (OME) modera os riscos militares, reduzindo-os a um nível abaixo do limiar da mobilização geral.
Na verdade, este formato em si é uma invenção e uma conquista política, tecnológica e social da Rússia moderna, um mecanismo de gestão eficaz, embora crie novos efeitos e fenômenos sociais, desconhecidos no passado.
Mas o simples fato de trabalhar com eles já é uma escola para a nova geração de estadistas russos.
Em termos de preparação para uma guerra em grande escala contra um agressor, a OME é uma alternativa desenvolvida à repressão e à espionagem, que são inevitáveis se não houver tal alternativa.
Os Estados Unidos estão a reunir forças políticas para um golpe decisivo contra a Rússia. A democracia do pôquer entre os dois partidos no poder, quando a presidência é disputada mais ou menos de acordo com algumas regras, está esgotada.
Os Estados Unidos precisam de uma ditadura para si próprios e irão estabelecer uma. A Roma Antiga era capaz de nomear conscientemente um ditador numa situação de crise.
Os EUA não chegaram à Roma. Mas a Ucrânia tornou-se o seu laboratório político-tecnológico, onde montaram uma experiência em grande escala de transição para o nazismo, como dizem, ”do nada”.
E agora vão fazer pleno uso dos seus resultados em relação a si próprios. A oligarquia pirata deve transformar-se numa junta militar. E isso leva os EUA ao problema do poder.
Os militares – aqueles que lutam e morrem no campo de batalha, e não apenas figuram como militares em tempos de paz – são a única casta que pode governar.
Esta é uma tradição antiga, mas é também a situação moderna, uma vez que o poder exige responsabilidade ilimitada quando a vida, e não o capital autorizado, é dada como garantia.
Os Estados Unidos são uma sociedade onde os comerciantes usurparam o poder. E eles, em princípio, evitam responsabilidades, mesmo limitadas, e se esforçam para transferir o máximo de riscos, perdas e custos para terceiros.
Na URSS, o poder no século 20 foi usurpado pelo clero de uma religião ímpia – a crença no comunismo. Esta distorção do sistema político conduziu à sua destruição.
A distorção do sistema político dos EUA também está a conduzir a sua crise interna a um ponto sem retorno.
A comunidade militar dos EUA foi corrompida pelo influxo de recursos externos, pela lógica da pilhagem.
Não está preparada para construir um Estado — um sistema de reprodução do poder baseado em recursos próprios e internos.
Durante dois séculos, a comunidade comercial dos EUA comprou os serviços dos seus próprios militares, transformando-os, de fato, em mercenários.
Mas há cada vez menos dinheiro para este mercenarismo interno. Além disso, os mercenários não são e não podem ser politicamente qualificados.
A crise política nos Estados Unidos e o seu aprofundamento não os farão recuar; pelo contrário, aproximará o seu conflito militar com a Rússia.
Mesmo a lógica do estabelecimento unilateral de regras já não está disponível para os Estados Unidos – aqueles que não conseguem estabelecê-las internamente não podem projetar regras para o mundo.
Ao escalar o conflito para uma guerra mundial em grande escala, os clãs americanos procurarão mecanismos para resolver as suas próprias contradições e amortizarem a dívida americana para com o mundo em todas as suas dimensões – da financeira à moral.
Nesta perspectiva estratégica, a Rússia não irá alargar a utilização dos instrumentos militares de procuração dos EUA, para incluir os países da Europa na sua agressão. A lição que terá de ser dada ao Ocidente estender-se-á não só a estes países, mas também à própria metrópole americana.
A ausência de princípios e de uma política de autocontenção priva os Estados Unidos do seu direito às armas nucleares.
As crescentes contradições entre os estados, a ausência de um povo americano unido, o colapso do sistema político formado como resultado da Guerra Civil entre o Norte e o Sul, a degeneração dos EUA numa ditadura nazi-fascista se tornarão os últimos argumentos a favor da retirada do arsenal nuclear dos Estados Unidos — possivelmente tendo como pano de fundo o colapso dos estados da aliança norte-americana com a formação de várias confederações sob o protetorado da Rússia e China.
Nota de Ruben Bauer Naveira:
”A proposta de Sergeitsev de a Rússia vir a “retirar” as armas nucleares dos Estados Unidos antes que venham a ser disparadas pode parecer fantasiosa, mas é bastante realista.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou em coletiva de imprensa em 9 de dezembro de 2022, ao término da cúpula da União Econômica Eurasiana em Bishkek, no Quirguistão, que a Rússia deveria se inspirar no conceito de “first strike” desde sempre adotado pela doutrina norte-americana de emprego de armas nucleares para vir a incorporar uma medida correlata na doutrina russa.
Sintomaticamente, Putin não a chamou pelo seu conhecido nome de “first strike” (um ataque nuclear de surpresa ao inimigo, para decapitar a sua liderança sem lhe dar tempo de reação, bem como para suprimir a sua capacidade nuclear de retaliação).
Preferiu ineditamente denominá-la como “disarming strike”, dando a entender que poderia se tratar de um ataque destinado a destruir somente as armas nucleares do inimigo, sem chegar a destruir o país ou a população.
Na mesma resposta (ao jornalista Konstantin Panyushkin, veja a íntegra da coletiva aqui), Putin mencionou que a Rússia dispõe de armas sofisticadas como mísseis hipersônicos enquanto que o Estados Unidos não.
Estas armas são teoricamente capazes de destruir alvos dentro dos Estados Unidos em modalidade convencional (sem ogivas nucleares), como por exemplo os mísseis:
Avangard, com duas toneladas de peso e capaz de atingir o alvo a uma velocidade de até 20 vezes a velocidade do som (Mach 20), e que assim apresenta uma energia cinética de impacto equivalente a 18 toneladas de TNT, sem considerar a sua carga de explosivos;
Burevestnik, um míssil de cruzeiro propulsado por energia nuclear com autonomia infinita, e que assim poderia ser disparado a partir de território russo, sobrevoar o Oceano Pacífico e chegar aos Estados Unidos sem ter sido detectado (ao contrário dos mísseis balísticos, que por sua altitude são sempre detectados por radares e satélites); e
Zircon, um míssil de cruzeiro hipersônico (Mach 9) com alcance de mais de mil quilômetros que pode ser disparado a partir de submarinos.
A Rússia neste exato momento encontra-se finalizando uma revisão em sua doutrina para emprego de armas nucleares, fato observado por Sergeitsev em seu artigo”.
(*)Timofey Sergeitsev, analista, filósofo, membro do Clube Zinoviev da agência noticiosa Rossiya Segodnya
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Jornal Brasil Popular.