Trump está na frente nas pesquisas e Joe Biden cada vez mais em queda livre com sua candidatura, sem saber quantos dias mais ela pode sobreviver, mas a turma de Trump já grita que a eleição presidencial de novembro nos Estados Unidos vai ser roubada.
Como se fosse um observador sereno e imparcial, um alto funcionário de um grande think tank conservador dos Estados Unidos acaba de prever a ocorrência de “esforços de extrema direita” para “reverter” (overturn) o resultado dessa eleição, já que “é de 0% a chance de uma eleição livre e limpa”.
Essa notícia é extravagante – a começar pelos zero por cento da estimativa – mas é alarmante, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil, cuja vida política e econômica é tão influenciável pelas oscilações da vida americana. Um eventual segundo governo Trump, com sua sede de sangue depois da derrota de 2020 para Biden, não vai engolir um Brasil como o de hoje.
E o que o tal think tank pretende com sua previsão é sugerir que a volta de Trump não será impensável se ele perder novamente, assim como não foi impensável sua permanência depois de perder em 2020. Para não dar a impressão de que estimula a repetição do ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021, o alto funcionário exagerou em sentido contrário.
– Mike Howell – diz a notícia, no Guardian, de Londres – diretor-executivo do Projeto Oversight, na Fundação Heritage, fez seus comentários num evento em Washington, compartilhando os resultados de um exercício hipotético cobrindo vários cenários plausíveis que poderiam acontecer depois da eleição. Um desses cenários, bem estranho, envolvia Barbara Streisand [a atriz judia] sendo sequestrada pelo Hamas, manifestantes antifascistas do movimento BLM (Black Lives Matter, Vidas Negras Importam) ocupando uma prisão e o FBI prendendo Trump depois da eleição.
Surrealista e inacreditável, não é, coisa de terraplanista? Mas a Fundação Heritage é a mesma que fez o Projeto 2925, a plataforma de um novo governo Trump.
BIDEN NÃO CONVENCE
Depois do desastre do debate com Trump na CNN, o Presidente Joe Biden já deu duas entrevistas para provar que está afiado e em condições de enfrentar a campanha e vencer a eleição. Mas não convenceu. A primeira entrevista foi exclusiva, a George Stephanopoulos, da rede ABC – gravada e sujeita a edição. Além disso, Biden continuava rouco, a voz fraca e sem vitalidade. A segunda foi uma coletiva, ao vivo e não sujeita a qualquer edição. Mas Biden repetiu aquele fio de voz e a falta de vitalidade. Além disso, ele cometeu dois deslizes de linguagem, um antes da entrevista, numa reunião de cúpula na Otan, ao chamar o ucraniano Zelenski de “Presidente Putin “, e o segundo quando se confundiu de novo e chamou Kamala Harris de “Vice-Presidente Trump”.
Mas o que de pior da semana foi o apelo de George Clooney, o ator e produtor, grande amigo de Biden, que algum tempo antes do debate organizara em torno de Biden um jantar de coleta de contribuições financeiras para sua campanha.
– Naquela noite – disse Clooney, num apelo para Biden desistir da candidatura – o Presidente que conversou comigo era o mesmo que depois vi no debate.
A LIÇÃO DA ABIN-PARALELA: DESCONFIE PRIMEIRO DE SEU PRÓPRIO ESPIÃO-CHEFE
Mal digeriam os detalhes escabrosos da denúncia contra Bolsonaro no caso das joias sauditas, os brasileiros se viram diante do caso igualmente inacreditável da Abin-paralela – especialmente a gravação da conversa do então diretor da Abin oficial, Alexandre Ramagem, com o Bolsonaro pai sobre as medidas necessárias para blindar o Filho01, o Senador Flavio no caso das rachadinhas.
O Bolsonaro pai ficou tão furioso ao saber que tinha sido grampeado por seu próprio espião-chefe que pode acabar com a candidatura deste a prefeito do Rio. Mas a gravação pode abortar igualmente as manobras iniciais para uma futura candidatura do Filho 01 a Presidente da República – candidatura que manteria viva a dinastia dos Bolsonaro de sangue e de saída acabaria com as eventuais pretensões da ex-primeira dama Michelle, que só é Bolsonaro pela metade, via casamento.
Mas a fúria de Bolsonaro não tem fundamento. Ardiloso e paranoicamente desconfiado como é, ele tinha de imaginar que numa conversa tão perigosa quanto aquela seria mais seguro pedir que Ramagem lhe entregasse o celular. Totalmente seguro não seria, porque Ramagem poderia ter outro celular em outro bolso, gravando a conversa. Nessa brotheragem-bandidagem, é de seu próprio espião que você tem de desconfiar primeiro.
MILEI SAÍU CALADO DE CAMBORIÚ
O Presidente da Argentina Javier Milei teve de ficar calado a respeito de Lula na reunião conservadora de Camboriú. Ao lado de Bolsonaro, agora indiciado pela polícia como ladrão de joias, como poderia Milei acusar Lula de corrupção?
No fim de semana passado, a conclusão do inquérito sobre as joias da Arabia Saudita frustrou o plano fascista de fazer barulho com a molecagem de Milei, de avacalhar o Presidente do Brasil em pleno território brasileiro, e assim compensar parcialmente a repercussão global das eleições na Inglaterra e na França.
No Brasil, curiosamente, onde tanta gente se pergunta quando afinal Bolsonaro vai ser preso, a notícia de seu indiciamento e a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, de tornar público todo o conteúdo das investigações e da denúncia, tiveram menos repercussão que fora do Brasil.
Depois do fiasco de Camboriú, a próxima jogada do bolsonarismo deve ser um comício na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo. E o próximo passo do processo criminal das joias deve ser o pronunciamento da Procuradoria Geral da República, que tem prazo para falar.
O Procurador-Geral Paulo Gonet pode oferecer denúncia imediatamente ou pedir novas diligências da PF. Ele poderia também arquivar o caso, se entendesse não haver fundamento nas acusações, mas essa hipótese nem é considerada possível – tão documentado está o roubo das joias.
BIDEN NÃO CONVENCE
Depois do desastre do debate com Trump na CNN, o Presidente Joe Biden já deu duas entrevistas para provar que está afiado e em condições de enfrentar a campanha e vencer a eleição. Mas não convenceu. A primeira entrevista foi exclusiva, a George Stephanopoulos, da rede ABC – gravada e sujeita a edição. Além disso, Biden continuava rouco, a voz fraca e sem vitalidade. A segunda foi uma coletiva, ao vivo e não sujeita a qualquer edição. Mas Biden repetiu aquele fio de voz e a falta de vitalidade. Além disso, ele cometeu dois deslizes de linguagem, um antes da entrevista, numa reunião de cúpula na Otan, ao chamar o ucraniano Zelenski de “Presidente Putin “, e o segundo quando se confundiu de novo e chamou Kamala Harris de “Vice-Presidente Trump”.
Mas o que de pior da semana foi o apelo de George Clooney, o ator e produtor, grande amigo de Biden, que algum tempo antes do debate organizara em torno de Biden um jantar de coleta de contribuições financeiras para sua campanha.
– Naquela noite – disse Clooney, num apelo para Biden desistir da candidatura – o Presidente que conversou comigo era o mesmo que depois vi no debate.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.