A CONSTRUÇÃO DO BRASIL
NOTÍCIA ATUALÍSSIMA
Notícia extraída da BSB Revista em 10/4/2025: Na noite de 10/abril/2025, manifestantes indígenas e as forças de segurança da Polícia Militar do Distrito Federal e do Congresso Nacional se confrontaram em frente do Congresso. A tentativa de invasão aconteceu durante ação do Acampamento Terra Livre (ATL). Os indígenas marcharam do acampamento junto à antiga Funarte em direção ao Congresso, armados com arco e flecha, tacapes e outros artefatos. Ao chegar à frente da Câmara dos Deputados, alguns indígenas avançaram e derrubaram as grades de proteção. Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os indígenas. A deputada federal índia Célia Xakriabá (PSOL-MG) atingida pelas polícias passou mal, com falta de ar, junto a outros indígenas. O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal registrou o atendimento de pessoas que tiveram mal súbito e foram transportadas para hospitais.

A DESCOBERTA DO BRASIL
O Brasil se insere na expansão da Europa Ocidental, que havia recebido graciosamente a mais avançada tecnologia da China, ao passar da economia pré-capitalista, ainda fundiária de reduzido mercantilismo, para a economia capitalista. “Participando das atividades do comércio na Europa, o antigo condado Portucalense, agora Reino de Portugal e Algarve, abriu a grande via de expansão rumo ao litoral ocidental africano, descobrindo e economicamente explorando as regiões da Guiné, serras Leoa e dos Reis, foz dos rios Zaire e Gâmbia” (Luís Henrique Dias Tavares, “O Primeiro Século do Brasil”, Editora da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999).
A primeira História do Brasil, escrita em 1576 por Pero de Magalhães Gândavo, tomou por título “História da Província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil”. Obra renascentista revelou as belezas naturais e a exuberância da vida em ambiente tranquilo.
Mas, para efeito do Brasil que se formou e no qual se vive no século XXI, tomaremos, de início, “O Brasil Nação”, de Manoel Bomfim (1868-1932), publicado em 1931.
Lê-se no Prefácio, de julho de 1928, do “historiador competente, psicólogo profundo, escritor primoroso, o professor Manoel Bomfim” como o crítico Almir Ferreira o saudou, no lançamento de “O Brasil Nação”, pelas páginas do Diário Carioca:
“Uma República deve ser conduzida na política de caracteres definitivos, senhores dos seus destinos, e que não possam descer. Ora, isto como nos governamos é a obra de criaturas temerosas, antes de tudo, de serem descidas, que nenhuma fez uma subida no seu esforço. E tanto que, consagrada indiscutivelmente a República nestes últimos vinte anos, vimo-la definida na inteira degradação dos costumes políticos. Já nem importam os nomes, que eles não modificariam esse parecer. Contudo, ensinaram muito esses vinte últimos anos: tudo que se poderia aprender de um mundo totalmente podre. Foram de crise no Ocidente, foram a ultimação do regime já definido. Aprendi, então, como nossos dirigentes são incapazes de compreender e realizar a democracia, como temem a liberdade, que nunca conheceram; aprendi como se mostra a degradação de uma classe por definição de escol; como se organiza o Estado para a exclusiva injustiça, até a torpeza e o roubo; como é preciso não ser honesto, nem sincero, nem apto… Vi como evolui a corrupção, como se consagra a infâmia e a ignorância, como é livre o poder para atentar contra as mais humanas das tradições brasileiras – a da bondade e compaixão… E, assim, se fez o esquema das qualidades precisas a um político para ser estadista na República brasileira…”.
E, concluindo o Prefácio: “Houve a inevitável reação, ao menos para a coragem de dizer o que me pareceu necessária verdade”.

DO ARCAÍSMO DO ESTADO
A antropologia ainda discute a chegada do ser humano às Américas, mas há evidências que eles vieram da China, um dos polos civilizatórios mais avançados daquela época, há cerca de 20.000 anos pelo Estreito de Bering, então uma ponte de gelo formada na glaciação Würn (cerca de 150 mil anos). Estes migrantes constituíram as civilizações maia, asteca, inca e os tupi brasileiros.
Darcy Ribeiro, dos gênios brasileiros, designa “processos civilizatórios”, os movimentos da evolução sociocultural resultante das sucessivas revoluções tecnológicas, exemplificando com os equipamentos e a utilização de novas fontes de energia (D. Ribeiro, “Configurações Histórico-Culturais dos Povos Americanos”, Global Editora, SP, 2016, 2ª edição).
Especificamente para o Brasil, nosso genial antropólogo afirma que “não nasceu como etnia”, mas surgiu “como espécie de subproduto indesejado e surpreendente de um empreendimento colonial, cujo propósito era produzir açúcar, ouro ou café e, sobretudo, gerar lucros exportáveis” (Darcy Ribeiro, “Os Brasileiros Livro I – Teoria do Brasil”, volume IV dos “Estudos de Antropologia da Civilização”, primeira edição em português pela Paz e Terra, Rio, 1972, citações da 3ª edição, pela Editora Vozes, Petrópolis, 1978). Cuba, antes da libertação de 1º de janeiro de 1959 pelos guerrilheiros comandados por Fidel Castro.
Mas o Brasil não apenas era um país continental, como dos maiores do globo terrestre. Não poderia ser uma fazenda de qualquer plutocracia.
Era, então, indispensável construir uma elite inteiramente doutrinada na submissão colonial. E isso ocorre exatamente no alvorecer do capitalismo, ainda que pelas mãos de um reino estruturado no modelo feudal, resistente à modernização do Estado. Daí a primeira iniciativa foi deixar a instrução nas mãos da Igreja Católica. Um país de analfabetos tementes a Deus.
A extinção dos índios, majoritariamente tupis, quando não convertidos e escravizados pelos jesuítas e outros padres católicos, foi uma consequência da construção da “fazenda Brasil”. Também Darcy Ribeiro nos narra a desdita destes nativos em “O Povo Brasileiro – A Formação e o Sentido do Brasil” (Companhia das Letras, SP, 1995): “os grupos indígenas encontrados no litoral português eram principalmente de tronco tupi, que, havendo se instalado uns séculos antes, ainda estavam desalojando antigos ocupantes oriundos de outras matrizes culturais. Somavam, talvez, um milhão de índios, divididos em dezenas de grupos tribais”. Lembrar que o Brasil descoberto estava reduzido aos limites do Tratado de Tordesilhas (1494), em torno de 1.800.000 km², mas que, ainda assim, já seria o 17º maior país em extensão territorial, não o 5º, como hoje.
O Brasil começa a ganhar a forma atual com a União Ibérica, quando os reis de Castela também o foram de Portugal e, consequentemente, do Brasil, entre 1581 e 1640, e, na procura de índios e riquezas, brasileiros e portugueses fora além dos limites de Tordesilhas.
O analfabetismo, politicamente cultivado, chegou ao século XX. Por ocasião da República, o Brasil contava com 85% de analfabetos (1890), no início do século (1900) eram 74%, quando do golpe de 1964, 36%, ao fim do golpe (1980), 25%, no alvorecer deste século (2000), 13% e, atualmente (2025), estimam-se 7%.
Confronte-se com a média mundial de analfabetos, mesmo no início do século passado (1900), na ordem de 20%.
Por isso que afirmamos ser a ignorância e o arcaísmo do Estado um mesmo projeto de poder, nascido no exterior, conduzido pela instrução e pela cultura de massa, para dominar o Brasil, governado por aqueles maus brasileiros descritos por Manoel Bomfim.
(*) Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
*As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.