Voltou a acontecer. O chavismo bravo voltou a acontecer. Em meio a uma campanha midiática de intoxicação [des]informativa e uma guerra comunicacional de última geração na qual participou o próprio Elon Musk –o mega milionário sul-africano residente nos Estados Unidos e proprietário de X, antes Twitter- como “padrino” da extrema direita venezuelana, as bases bolivarianas voltaram a ganhar outra batalha, desta vez nas urnas: os votos derrotaram aos bots e a Elon Musk.
Porém a guerra continua. Em sua fase atual, se trata de uma guerra híbrida que utilizou as eleições presidenciais do domingo 28 de julho como instrumento para impulsionar um golpe de Estado oligárquico, contrarrevolucionário e de características fascistas, tutelado por Washington através do Departamento de Estado; a generala Laura Richardson, chefa do Comando Sul do Pentágono, e a Agência Central de Inteligência [CIA], ainda que algo limitada esta última porque tem que operar desde a Embaixada dos EUA na Colômbia, com a colaboração do lobby cubano-estadunidense de Miami, Flórida, com Marco Rubio e o senador Bob Menéndez [declarado culpado de 16 acusações penais devido a “um caso clássico de corrupção em grande escala” segundo determinou a corte federal] à frente.
Uma conspiração que contou, ademais, com a cumplicidade da ultra direita cartelizada da Europa e da América Latina, e dos presidentes de Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai, que intentam reeditar ao fenecido Grupo de Lima como instrumento da política de ‘mudança de regime’ Made in USA.
O objetivo: impor um regime paralelo com Edmundo González Urrutia, o testa de ferro de María Corina Machado, como figura de proa; uma espécie de Juan Guaidó 2.0, em referência ao auto proclamado “presidente encarregado” sem eleições, pra variar, um fantoche produto de laboratório das fábricas de elite e das políticas desestabilizadoras de Washington, implantado a golpes de twitter pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelos belicistas e supremacistas do ‘governo nas sombras’ [Deep State] que lhe rodeavam na Casa Branca: John Bolton, Mike Pompeo e o criminoso de guerra convicto do caso Irá-Contras, Elliot Abrams.
Assim, se poderia dizer que, se o fracassado levante civil-militar de 11 de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chávez constituiu o primeiro golpe midiático do Século XXI [a partir do papel chave jogado pelos três principais conglomerados privados locais: Venevisión, do magnata Gustavo Cisneros, Globovisión, sob a batuta de Alberto Ravell, e Radio Caracas Televisión [RCTV], a atual intentona em curso constituiria um golpe digital redes ao estilo Maidan na Ucrânia, em 2014, porém atualizado com tecnologias sofisticadas.
Na realidade, se trata de um golpe de Estado continuado que segue o esquema das ‘revoluções coloridas’ [golpe suave] de Gene Sharp, que desde junho passado começou a fabricar nas chamadas redes sociais e nos meios oligopólicos privados uma metarealidade mediante a difusão de notícias falsas [fake news] e distorcidas matrizes de opinião, que, adaptando a técnica militar do enxame às plataformas comunicacinais, “posicionaram” ao candidato da ultra direita Edmundo González com mais de 30 pontos acima do aspirante do oficialista Partido Socialista Unido de Venezuela [PSUV], Nicolás Maduro, em busca de sua reeleição.
Uma guerra comunicacional assimétrica estratégica, que segue os parâmetros da Doutrina Conjunta de Operações de Informação do Pentágono, que combina o emprego integral da guerra eletrônica, as operações psicológicas [PSYOP], as operações nas redes de computadores e celulares [guerra cibernética] e a decepção militar como ferramentas de manipulação e de fabricação de uma determinada percepção da população nativa e as audiências do exterior, ao que se somaram desde junho passado sabotagens contra o sistema elétrico e a infraestrutura crítica, tentativas de magnicídio contra o presidente Nicolás Maduro e um blackout informativo sobre suas atividades de campanha.
Apagão informativo protagonizado, também, pelas agências noticiosas internacionais e pelos consórcios midiáticos hegemônicos ocidentais [entre eles, Bloomberg, CNN, Reuters, EFE, AFP, The New York Times, France 24, Euro News, os diários El País, ABC e El Mundo de Madri e El Universal e El Nacional de Caracas), que, a partir de invisibilizar e praticamente ‘cancelar’ ao candidato do Grande Polo Patriótico, foram configurando um universo paralelo à margem da realidade. Para isso, ocultaram e/ou subestimaram outras pesquisas demonstrativas como as de Hinterlaces, ICS, Dataviva e Ideadatos, que mostravam ao presidente Maduro como eventual triunfador das eleições.
Segundo alertou, a um par de dias antes da jornada eleitoral, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, o plano consistia em cantar “fraude” na tarde do dia das eleições desde um centro paralelo fora do território venezuelano, onde o Conselho Nacional Eleitoral [CNE] é o único árbitro dos processos eleitorais. Desde esse lugar situado em Miami, os conspiradores golpistas se conectariam ao que a oposição dirigida pela golpista María Corina Machado chamou de a “transmissão oficial”.
Praticamente até as 5 da tarde do domingo 28 de julho [uma hora antes do encerramento das votações], a jornada esteve caracterizada por um clima de paz, tranquilidade e absoluta normalidade, ademais de fervor cívico e uma massiva participação cidadã. Nos distintos canais de televisão, os dez candidatos, incluído o da Plataforma Unitária, Edmundo González, ponderaram a jornada eleitoral como um exercício democrático e pacífico, como uma festa cívica; e todos destacaram a eficiência do sistema eleitoral e sua rapidez: menos de um minuto em sufragar.
Avançada a tarde, existia uma grande expectativa pelo primeiro informe que o Conselho Nacional Eleitoral deveria emitir depois das 22 horas, aproximadamente. Porém foi quase na primeira meia hora da segunda 29 de julho que o CNE emitiu seu primeiro veredicto, ao declarar que, com 80 por cento dos votos apurados, Nicolás Maduro era o vencedor com 51.20 por cento dos sufrágios, sete pontos acima do opositor Edmundo González.
Já então havia começado uma nova fase da intentona golpista, com a posta em marcha de uma operação psicológica de grande envergadura, própria da guerra híbrida, no marco da qual grupos de delinquentes [guarimberos] violentos, motorizados, buscaram incendiar as ruas e esquentar e caotizar o país, provocando distúrbios e atos vandálicos em vários estados da República, enquanto nas redes sociais circulavam com grande profusão vídeos e notícias falsas de fatos ocorridos em anos anteriores.
Além disso, com a passagem das horas se esclareceria por que o CNE havia declarado a vitória irreversível de Maduro sem completar os 100% dos sufrágios: os nós do sistema de transmissão do Conselho Nacional Eleitoral tinham sofrido um ataque cibernético massivo para que não houvesse resultados nessa noite e María Corina Machado pudesse “declarar” vencedor a seu testa de ferro Edmundo González.
O ataque para provocar um “apagão eleitoral” tinha sido lançado desde Macedônia do Norte, um pequeno país da ex-Iugoslávia, nos Balcãs, onde um grupo de hackers se especializou em delinquência cibernética através de granjas de bots [e ainda na terça 30, já entrada a noite, continuava]. Como parte da sabotagem cibernética que requentou o sistema de transmissão, o fiscal identificou a dois venezuelanos fugitivos da justiça: Lester Toledo e Leopoldo López, e também a líder de Vente Venezuela, María Corina Machado.
Passado o meio-dia da segunda 29 de julho, depois de receber as credenciais do presidente do CNE que o credenciavam para um novo mandato de seis anos [janeiro 2025-2031], o presidente Nicolás Maduro disse que o novo intento golpista era protagonizado desde o exterior pelos líderes da indústria da contrarrevolução Juan Guaidó, Antonio Ledesma, Julio Borges e Leopoldo López. Também disse que o fascismo não entende de diálogo nem de democracia e se lhe combate com a lei e a Constituição. E acusou a Elon Musk, o dono de X [ex-twitter], de ser o “padrinho” da extrema direita venezuelana e de financiar e estar por trás da desestabilização e das campanhas de ódio, respaldando a ideologia fascista de María Corina Machado. Além disso, asseverou que o Pentágono cria novas tecnologias e personagens como Musk e Zuckerberg aparecem [como supostos protagonistas].
Pela noite da terça 30, a união civil-militar policial tinha recuperado as ruas e o país estava em aparente calma. As autoridades anunciaram a detenção de 730 guarimberos [delinquentes] [entre eles 10 líderes], acusados de terrorismo. No saldo informado dos distúrbios de ruas figuravam um oficial morto por disparo e 23 militares feridos. Muitos dos detidos eram venezuelanos repatriados que tinham preparação militar; 90 por cento estavam drogados e 80 por cento tinham antecedentes penais.
Um dia antes, numa drástica e inesperada decisão, Nicolás Maduro anunciou o rompimento de relações com Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai. A mensagem foi óbvia: Venezuela vai negociar diretamente com os Estados Unidos, não com governos covardes, fantoches.
(*) Por Carlos Fazio | 02/08/2024 | Venezuela Tradução > Joaquim Lisboa Neto
Biblioteca Campesina, Santa Maria/BA, 3 agosto 2024.
Acessa original > https://rebelion.org/la-victoria-de-nicolas-maduro-y-el-golpismo-latente/
Fontes: La Jornada