Aos poucos, à medida que cada peça nova é colocada, vai aparecendo, como num quebra-cabeças, o desenho que revela o quanto Lula já conseguiu fazer do que surge como um plano amplo de inclusão social, continuação necessária do Bolsa Familia de seus primeiros governos.
O Bolsa Família pretendia e conseguiu reduzir substancialmente os níveis de miséria absoluta em que vivia grande parte da população brasileira. Agora que tanta gente foi incorporada pelo menos aos estratos mínimos da classe média, o que se revela como prioridade do governo é atender à própria classe média ou ao menos esse estrato mais pobre dela.
A última medida nesse sentido foi o projeto de lei que isenta do imposto de renda os contribuintes cuja renda mensal vai até cinco mil reais e concede descontos aos que ganhem até sete mil.
Algum tempo antes, Lula anunciara o programa Pé de Meia, que remunera estudantes pobres simplesmente por estudarem.
É claro que esse programa, quando for mais conhecido, vai servir de pretexto para os engravatados da Faria Lima alegarem que Lula está gastando um dinheirão para adolescentes e jovens gastarem com maconha e bebida. A mesma coisa aconteceu quando o lançamento do Bolsa Família foi recebido com a reclamação fatalista de que “essa gente” nunca mais vai procurar emprego.
A concessão de bolsas a estudantes pobres alcançou em pouco mais de um mês 2 milhões de beneficiários e a tendência é se universalizar. É uma política tão revolucionária quanto o aumento do salário mínimo acima da inflação e vai oferecer às gerações jovens a perspectiva de um projeto de vida e de esperanças que vinham sendo mortas pela automação, pela uberização e pelos outros desmandos do neoliberalismo.
São medidas que se encaixam num projeto amplo de tornar os pobres menos pobres, sem tornar os ricos menos ricos. Mas essa queixa vai ser feita, à medida que evoluir o projeto de taxação das grandes fortunas, e vai ser feita sob o argumento de que as grandes fortunas é que investem na criação e ampliação de empresas e assim criam empregos que dão de comer aos não afortunados. Mentira, são as pequenas empresas que criam mais empregos e menos resistem a aumentos salariais, porque estes aumentam os lucros do comércio, da indústria, da agricultura e dos serviços.
É por isso que Getúlio Vargas dizia que no Brasil é muito difícil convencer a burguesia a ganhar mais dinheiro.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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