O setor agrícola dos EUA critica as tarifas impostas por Donald Trump e pede que a Casa Branca negocie acordos com os países mais afetados, inclusive com a China. O temor do setor, comunicado ao governo do país, é de que os agricultores sejam afetados, tanto pelo fechamento de mercados externos como pelo encarecimento da importação de fertilizantes e outros insumos.
Consultadas pelo UOL, as maiores entidades do agronegócio americano apontam que o risco da guerra comercial é de que Trump abra caminho para um avanço do Brasil no mercado internacional, principalmente na soja e milho.
A decisão da China de retaliar todos os produtos americanos em 34% é uma comprovação desse temor.
A bolsa de Chicago já refletiu esse temor ontem, com os contratos futuros da soja americana em queda. Com 40% da produção dos EUA destinada ao mercado externo, a preocupação é de que eventuais retaliações por parte da China e outros países afetados pelas tarifas de Trump beneficiem o Brasil, com a soja nacional substituindo o que até agora viria dos EUA.
Nos dois primeiros meses de 2025, as importações de soja americana pela China aumentaram 84,1% em comparação com o ano anterior. Como o maior comprador mundial de soja, a China importou 9,13 milhões de toneladas entre janeiro e fevereiro.
Analistas apontam que isso pode significar uma corrida por parte dos chineses para comprar o produto americano, antes que seja alvo de uma eventual retaliação.
Casa Branca sugere maior subsídio para compensar perdas
Ontem, reuniões entre membros do Executivo e congressistas republicanos indicaram que uma compensação ao setor do agronegócio pode vir na forma de novos subsídios ao campo nos EUA. A Secretária de Agricultura, Brooke Rollins, esteve tanto com o presidente do Comitê de Agricultura do Senado, John Boozman e com o senador John Hoeven para tratar do assunto.
Os congressistas republicanos temem perder apoio do setor em seus respectivos estados, caso os fazendeiros não sejam compensados por eventuais retaliações.
Para o presidente da American Farm Bureau Federation, Zippy Duvall, quem pagará pelas tarifas de Trump serão os fazendeiros americanos.
“O comércio é fundamental para o sucesso dos agricultores e pecuaristas de todo o país”, disse. “Compartilhamos o objetivo da administração de nivelar o campo de jogo com nossos parceiros internacionais, mas o aumento das tarifas ameaça a sustentabilidade econômica dos agricultores que perderam dinheiro na maioria dos principais cultivos nos últimos três anos”, alertou.
Segundo ele, mais de 20% da renda agrícola vem das exportações. O problema, diz Duvall, é que os agricultores dependem de importações para suprimentos essenciais, como fertilizantes e ferramentas especializadas.
“As tarifas aumentarão o custo de suprimentos essenciais, e as tarifas retaliatórias tornarão os produtos cultivados nos Estados Unidos mais caros em todo o mundo”, disse. “Essa combinação não apenas ameaça a competitividade dos agricultores no curto prazo, mas também pode causar danos no longo prazo, levando a perdas de participação no mercado”, afirmou.
O apelo da entidade é para que o governo americano busque uma negociação com os principais parceiros, “a fim de evitar tarifas que coloquem os agricultores e pecuaristas na mira da retaliação e a buscar estratégias que ampliem as oportunidades de mercado para os homens e mulheres que cultivam os alimentos dos quais todas as famílias americanas dependem.”
Na Associação de Soja dos EUA, a constatação é também que o tarifaço representará obstáculos para o setor e que suas exportações serão substituídas pelo produto brasileiro.
A entidade prevê:
Ameaça de perda de negócios nos mercados de soja existentes devido a possíveis retaliações tarifárias;
Aumentos de preços de insumos para os produtores locais.
“O anúncio de tarifas básicas de 10% para todos os países e taxas tarifárias adicionais e individualizadas para aproximadamente 60 países afeta todos os dez principais mercados de exportação de soja dos EUA”, alertou a associação.
“Isso inclui o principal mercado de exportação, a China. As novas tarifas sobre a China se somarão às tarifas de 20% já impostas, elevando a taxa tarifária sobre os produtos chineses que entram nos EUA para 54%”, indicaram.
“Apesar do desânimo com o aumento das tarifas em todo o mundo e o que isso pode significar para seus negócios, os produtores de soja estão esperançosos de que o governo tenha um plano para negociar rapidamente com os países afetados”, cobrou a entidade.
O presidente da associação, Caleb Ragland, fazendeiro de Kentucky, disse que espera que “o governo trabalhe rapidamente com os países afetados para criar novas oportunidades de acesso ao mercado para a soja e outros produtos dos EUA nesses mercados, para que essas tarifas mais altas possam ser removidas”.
“Há um sentido de urgência nas negociações comerciais, já que as preocupações com a ação retaliatória dos principais mercados de exportação são prioridade para os produtores de soja dos EUA”, afirmou.
“As guerras comerciais do tipo ‘olho por olho’ não são benéficas, e a agricultura dos EUA não pode se dar a esse luxo”, completou Ragland.