Em publicação exclusiva para o Jornal Brasil Popular, o poeta Pedro Tierra apresenta o sexto poema da série Amanhece sobre S. Bernardo, nesta quarta-feira (12). Confira o número VI.
Amanhece sobre S. Bernardo
VIII.
A construção
da voz
No princípio era o silêncio.
Ou o idioma intraduzível
aos ouvidos das altas varandas.
A voz que o feriu,
apartou-se
da moenda circular,
desse engenho tropical
que nos condena
e girava um canto tão igual,
que não era senão
outra forma de silêncio,
como o mel da cana moída
entre os dentes da madrugada
repetindo incessante
o mesmo açúcar.
Aquela voz de ventos gerais
nasceu da moenda circular
até gritar por tua boca.
Guiado pela voz
você aprendeu a palavra
pela entonação do grito.
Como um exercício
de quem arranca do silêncio
o direito de falar por sua gente.
Aos seus iguais e aos seus diferentes.
Para exprimir esperança num idioma universal,
aquele que bate nos abismos do peito
como os atabaques de Olorum,
e lateja no sangue e acende a paixão
antes de alcançar a luz do entendimento.
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Amanhece sobre S. Bernardo III
Amanhece sobre S. Bernardo VII