Na corrida em que se empenha para não sair do lugar, isto é, para garantir sua vaga no segundo turno da eleição presidencial, Bolsonaro está voltando a táticas de sua campanha de 2018 e inventando novas táticas baseadas nos mesmos apelos – ou o protesto contra falsas ameaças aos valores da família ou o protesto contra o que o Supremo, o Congresso, os governadores e os prefeitos não o deixam fazer.
Na campanha de 2018, ele recorreu à mentira ingênua mas eficaz do Kit Gay e à mamadeira com bico em forma de pênis para assustar pais e mães desinformados (e predispostos por religiosos das correntes mais retrógradas) com o risco de suas crianças serem submetidas a práticas homossexuais em verdadeiras maratonas de pedofilia.
Na semana passada, Bolsonaro foi a seu bem adestrado cercadinho para avisar que a esquerda está a ponto de aprovar no Congresso um projeto do PT que relativizaria o crime de pedofilia, reduzindo as penas impostas a ele.
Nessas ondas de fakenews existe sempre algum fato verdadeiro ao qual amarrar o “fato” inventado. Foi assim com o Kit Gay, inventado a partir de um livro publicado na França e traduzido no Brasil, que nem o governo Lula, nem o governo Dilma jamais compraram para distribuir nas escolas. Foi assim com a mamadeira erótica, que de fato existia, não em creches abastecidas pelo governo petista, mas em sex shops, para machões idiotas se divertirem em despedidas de solteiro.
Agora, é verdade que existe o tal projeto que relativizaria o crime de pedofilia, só que ele nem o favorece como pretende Bolsonaro, nem foi de iniciativa do PT e das esquerdas. O projeto reduz de 14 para 12 anos do limite de idade da vítima na qualificação do crime de “estupro de vulnerável”, que agrava o crime de estupro. Em passado bem remoto e circunstâncias inteiramente diferentes, foi apresentado pelo então senador José Sarney e teve como relator o então senador Antonio Anastasia. À falta de outro na fila do Congresso, Bolsonaro, certamente inspirado por seu gabinete do ódio, aproveitou-se desse projeto para assustar pais e mães desinformados com a hipótese de num novo governo Lula seus filhos e filhas serem alvo de pedófilos impunes.
Outra iniciativa de Bolsonaro na semana foi o anúncio de que pretende, ainda em março, “flexibilizar o estado de emergência sanitária”:
– A tendência – disse ele – é do Queiroga, que é autoridade nesta questão, e tem conversado na Câmara de Deputados, parlamentares, também o Supremo, que é o órgão federal. A ideia é que até o dia 31, é a ideia dele, passar de pandemia para endemia e vocês vão ficar livres da máscara em definitivo.
A declaração é suficientemente clara para percebermos que Bolsonaro tenta mobilizar os 20 a 30% de eleitores necessários para permanecer no segundo turno, antecipando-se a governadores e prefeitos que afrouxam as cautelas contra a Covid e garantindo que vão ficar livres da máscara em definitivo.
De fato o Brasil está com números persistentemente em queda quanto a mortes por Covid e casos de Covid, mas na Europa e principalmente na China os números voltam a ser alarmantes. E de Hong Kong, colada à China chega a notícia – de credibilidade discutível como tudo nestes dias – de que já faltam caixões para os enterros.
Presume-se que prefeitos e governadores levem em conta todas as circunstâncias locais de sua jurisdição ao liberar máscaras ououtras exigências. Bolsonaro, porém, pega o Brasil como um todo e promete que até o fim do mês todos nele vão ficar livres da máscara.
No mesmo dia da promessa, Bolsonaro esteve em Salvador, na Bahia, para visitar uma escola do Senai, e, segundo o noticiário, os alunos “ficaram à distância para que o presidente passasse e fizesse a visita”.
– Ei, Bolsonaro, vai tomar… – ”diziam os alunos, que também pediram uso da máscara, já que o chefe do Executivo federal e parte de sua equipe [a] dispensaram…”
“Coloca a máscara, filho da puta!” e “A pandemia acabou?” foram também invectivas registradas pela notícia, que acrescentava haver vídeos do momento circulando pelas redes sociais.
Bolsonaro certamente não se incomodou com as vaias nem com outras reações a sua promessa irresponsável. Sua expectativa no caso parece ser uma briga com governadores e prefeitos que continuarem a exigir a máscara. Se e quando isso acontecer, o conflito acaba chegando ao Supremo, que não poderá dar razão a Bolsonaro. Ele, então, poderá queixar-se de que mais uma vez o Supremo não lhe permite fazer a vontade do povo.
(*) José Augusto Ribeiro – Jornalista e escritor. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.
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