A ascensão do Neofascismo na política contemporânea da América Latina e do Caribe foi o tema do primeiro painel do Congresso Mundial contra o Fascismo, o Neofascismo e outras expressões semelhantes, realizado em Caracas.
Com as palavras de abertura de Jorge Arreaza, Secretário Executivo da ALBA-TCP, foi aberto o espaço, que contou com a presença dos palestrantes Irene Léon do Equador, Oscar Laborde da Argentina, Lucas Aguilera da Argentina e Abel Prieto de Cuba.
Irene León expressou que estas expressões do fascismo ocorrem em todo o mundo, no entanto, a Venezuela marca uma proposta socialista que estabelece um limite para a ação fascista e demonstrações de ódio. Na sua apresentação, destaca a convicção partilhada de que é urgente colocar sobre a mesa alternativas para uma Internacional Antirracista, o que foi proposto na Conferência inaugural desta manhã, no Centro de Convenções La Carlota.
Entre os detalhes dessas alternativas, León mencionou:
-Primeiro, entender realmente a proposta feminista e adicioná-la às nossas ações, pensamentos e ações políticas. Continuar com os processos de igualdade e equidade.
-A revisão das metodologias da esquerda, que precisam lutar contra o autoritarismo.
-A revisão e estudo da cronologia capitalista e neoliberal, onde é evidente uma política fascista de golpes de estado e dinheiro como frente.
-Fortalecer a ideologia e o nosso quadro conceitual: Há algum tempo enfrentamos realidades e seus desvios, atualmente convivemos com ideias como a democracia liberal, em nossos discursos e jornais, eles são até tomados como exemplo. Rever urgentemente o quadro conceptual da esquerda antes, falavam, como deviam, de democracia participativa.
-Verificar se os golpes de Estado são articulados e não apenas activos.
-Defender a ideia de vida acima do capital, que o feminismo também defende.
-Alcançar a soberania digital e por satélite.
-Bloquear a possibilidade de os EUA bloquearem as nossas nações, como Cuba sofreu durante tantos anos; e também influenciar a sua retirada da lista de países terroristas.
-A solidariedade deve ser restaurada. Fortalecer a integração como parte da resistência ao fascismo.
Abel Prieto, presidente da Casa de las Américas, começa retomando uma ideia do intelectual venezuelano Luis Brito: “Quando ouço falar de fascismo, trago à tona a minha cultura”.
Em seu discurso ele alerta sobre o perigo de os jovens votarem em fascistas como Milei; e expresso que convocar hoje um Congresso Mundial contra o Fascismo e o Neofascismo é verdadeiramente um sentido do momento histórico (como disse Fidel e Irene retomou no seu discurso). É assim que felicita a Venezuela, Arreaza, Maduro e o PSUV.
Retornou às ideias centrais debatidas nos recentes eventos realizados em Cuba e no mundo, fez um breve resumo do contexto histórico atual, tão necessário em momentos de integração e ação, e citou a ideia do presidente Díaz Canel de que não podemos hesitar em apoiar já a Venezuela Maduro nestes tempos. Não podemos duvidar do Solidariedade.
Abel retomou o apelo à formação de fileiras em torno da Rede de Redes em Defesa da Humanidade, apontando a necessidade de esta continuar a fortalecer-se e a rejuvenescer-se em cada um dos seus capítulos nacionais. Montar uma frente de comunicação é vital e bem articulada com alternativas comunitárias, como a rádio comunitária, que atinge as bases e os movimentos sociais.
Mais tarde aponto que “a batalha é pelo presente, pelo futuro, mas também pelo passado”. O fascismo está interessado no passado, está interessado em apagar a memória histórica das pessoas e em lavar muitos dos seus crimes e figuras do fascismo histórico. Para isso não têm moral, mas contam com a enorme força das redes no mundo.
Refere-se a um estudo sobre videogames e seu trabalho sobre as subjetividades de crianças e jovens. Videogames com temas históricos distorcendo a história, intervenções e educando os jovens para a violência, também voltados contra os povos originários, por exemplo, o jogo Império.
Finalmente, ele apela a uma frente unida e antifascista, para resgatar a memória histórica.
Os intelectuais argentinos Oscar Laborde Lucas Aguilera abordarão a polaridade global. O contexto e as causas do fascismo e as urgências e preocupações do debate. Eles também desenvolverão a razão do Neofacismo.
Especificamente, Aguilera tocou em um tema, um alerta, até agora não mencionado, é sobre o tema “tempo”, ou podemos dizer, a colonização e monopolização do tempo. A ideia central da sua intervenção é a relação entre o fascismo – tempo político – tempo social e a escravatura moderna ou luta popular.
Continua mencionando que a Argentina tem uma cifra de 10 jovens que morrem por dia, jovens que se suicidam, uma geração que sofre principalmente de problemas mentais, onde 50% sofre de depressão e angústia. A causa de votar em um fascista? As crianças têm, certamente desde os 3 anos, um telefone, um meio através do qual trabalham a sua subjetividade desde os 3 anos até à idade de votar e claro, votam naquele fascista que o YouTube lhes vendeu. O que acontece com os adultos enquanto isso acontece? Não têm tempos sociais ou políticos para acompanhar, para estar ali, porque a prioridade são os tempos de produção. É conveniente para o capitalismo, o imperialismo, o fascismo, o neofascismo o facto de acelerarem os tempos de produção.
Quando é que o capital vai socializar os meios de produção? Resposta: -Nunca!-. Quando trabalhamos no celular não há pagamento real, ou o tempo ósseo é compensado. Não somos livres através dos meios digitais, através do telemóvel, não temos liberdade nem em casa, porque o telefone supostamente permite-nos estar em dois mundos/lugares paralelos, estamos a trabalhar em casa, o bebé lá, os nossos colegas lá, mas estamos trabalhando com as plataformas.
Não se sabe mais se temos o “Tempo Humano” ou o “Tempo Animal”. Lucas explica com estas palavras: – _Hora do animal é: comer, cagar e fazer sexo. Estamos trabalhando para comprar comida, cagar e fazer amor, este último já reduzido em nossos tempos. Estamos trabalhando e dedicando nosso tempo social para que eles, os ricos, vivam bem, saiam de férias para lugares impensáveis e comprem mais coisas ridículas e privatizem mais.
Acrescenta que hoje não existe diversidade, só existe tecnologia à nossa volta e tudo é monopolizado. Com a IA eles vêm nos dizer que ela vai nos substituir no trabalho, foda-se a IA, que o que ela contém é a inteligência de todos nós durante séculos, coletada e colocada em um só lugar. Pessoalmente, acrescento a esta intervenção o perigo de como este suposto avanço nos aliena ainda mais e anula o pensamento e a criatividade.
Somos os novos escravos do século XXI e não vamos substituí-lo por nada, apenas por um povo que se levanta e luta!