A Fundação Abrinq, entidade que atua na defesa dos direitos da criança e do adolescente, apresentou levantamento realizado com dados e indicadores do Ministério da Saúde que mostrou que a mortalidade materna dobrou entre 2019 e 2021, após anos de redução. As causas estão relacionadas a pandemia da Covid-19, aumento das desigualdades no país, piora da qualidade de vida, redução do pré-natal e a falta de assistência.
Em 2019, os óbitos maternos estavam na faixa de 58 por 100 mil nascidos vivos. Em 2020, o índice passou para 72 e cresceu para 107 em 2021. Ainda no ano passado, em média, oito grávidas ou puérperas morreram por dia, 2.857 óbitos maternos foram registrados, 45% na comparação com 2020.
Durante a pandemia, as grávidas eram atendidas muitas vezes em UTI de Covid-19 e não em uma UTI obstétrica, partos tiveram que ser induzidos e gestantes vieram a óbito.
Cerca de 80% das gestantes do mundo que morreram por Covid-19 eram brasileiras, de cada 10 gestantes do mundo que vieram a óbito pela doença, 8 foram no Brasil. A gestante precisa ser vista de forma integral, com acompanhamento de uma equipe multiprofissional.
A negligência do governo Bolsonaro com a saúde pública, em especial com saúde da mulher, fez com que chegássemos nesses índices. Os desmontes de importantes políticas de assistência no acompanhamento da saúde como o programa Mais Médicos e a substituição do programa ‘Rede Cegonha pela “Rede Materna e Infantil’ (Rami) e a apresentação da nova ‘Caderneta da Gestante’ são exemplos dos desmontes.
Essas ações apresentadas pelo governo Bolsonaro representam o retrocesso das políticas integrais de atenção à saúde da mulher e gestante, onde o papel do acompanhamento dessa mulher por uma equipe multiprofissional é ignorado e práticas comprovadamente não eficazes são incentivadas.
A Rede Cegonha acompanhava a mulher de forma integral, garantindo assistência obstétrica no pré-natal, parto, puerpério e ao seu bebê até dois anos de idade por uma equipe multiprofissional. A implantação desse cuidado reduziu a mortalidade materna, neonatal e infantil, incentivou o parto humanizado e intensificou a atenção integral à saúde da mulher.
Não dá para fazer acompanhamento apenas por um profissional ou com um olhar engessado. A saúde da mulher é ampla e necessita do olhar permanente em suas escolhas, seja na opção da oferta de todos os tipos de contraceptivos, ou no acompanhamento desde o início da gestação. Só com olhar multiprofissional voltaremos a ter redução nas mortes das mães brasileiras.
(*) Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política no governo Lula, da Saúde no governo Dilma e Secretário da Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.
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