Brasília acaba de entrar na sua melhor idade, não necessariamente no melhor momento. Mas em um tempo de renovação do seu principal ideal, a esperança. Criada para ser um exemplo socialista, se apresenta como representante das elites que limitam o acesso dos pobres aos seus monumentos e exclui a periferia da benéfica forma de se viver em uma cidade planejada por grandes homens e construída com o viés da arte.
É uma verdadeira galeria a céu aberto. Suas obras são originais e nasceram com a capital. E ao longo do tempo foram sendo utilizadas pela cruel organização do capital patrimonial. Em 1969 o arguto jornalista Carlos Castello Branco, em sua coluna do JB, comentava sobre o alto custo das moradias no DF, que muito atrapalhou a rápida transferência dos funcionários federais, já indicando o abismo social que representa os moradores das cidades satélites e privilegiados habitantes do Plano Piloto de Lucio Costa, pois os bosques das lindas entrequadras, cheias de paisagismo e arte, contrasta com as ruas inundadas com esgoto a céu aberto (ironizado pelo atual presidente da República).
Nesta data trago a ideia de mudar a perspectiva como desenhista, e valorizar as pessoas que se sentem marginalizadas por serem periféricas, pois periferia é o entorno de uma localização importante, com essa mudança de olhar proponho que desta vez a periferia se transfira para as desertas ruas dos lagos, sul e norte, onde representa a imensa desigualdade que impera na capital da esperança. Assim transformamos os filhos e netos dos candangos pobres que morreram nas construções em protagonistas, levando a periferia ao centro, pelo menos em pensamento.