Valdo Cruz, repórter da Globonews, deu furo jornalístico nessa tarde: o novo homem forte do governo, senador Ciro Nogueira(PP-PI), levou ao Congresso, hoje, na retomada dos trabalhos legislativos, a proposta de aumentar o Auxílio Emergencial de R$ 150 para entre R$ 400/600, com novo nome: Auxílio Brasil; sai neoliberalismo radical e entra populismo eleitoral; de onde sairá dinheiro? Está por um triz o teto de gastos, que congela, desde 2016, com duração prevista para 2036, os gastos sociais orçamentários, permitindo sua correção, apenas, pela inflação; a principal medida econômica adotada pelos golpistas de 2016 sinaliza derrota eleitoral; por isso, está na marca do penalty para ser defenestrada; Ciro Nogueira, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL), líderes do Centrão, e o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco(DEM), estão em outra, vestido de populistas, já que o neoliberalismo condena-os à derrota infalível em 2022, jogando para as calendas o sonho reeleitoral bolsonarista. Ao lado da recriação do Auxílio Brasil, os líderes do Centrão discutiram novas regras para liberação de precatórios, cujas consequências seriam injeção de dinheiro, no mercado, para reativar o consumo congelado.
O novo chefe da Casa Civil do governo vem, portanto, com uma nova agenda, que irá contrastar com a agenda da oposição que é a de esquentar, ainda mais, os trabalhos da CPI e dobrar esforços de investigação da corrupção no Ministério da Saúde na compra de vacinas; o assunto que domina o Congresso há quase 90 dias, prorrogados por mais 90, abalou a popularidade de Bolsonaro, enquanto bombou a do seu principal oponente, ex-presidente Lula, colocando em risco a reeleição bolsonarista; o Centrão, ao mudar a pauta, focando a economia, em vez da política, terá ou não força de reverter a situação, capaz de favorecer o presidente em desgaste total, segundo pesquisas de opinião? O foco no Auxílio Brasil, certamente, dividirá as atenções e reformulará cálculos políticos, tanto da situação como da oposição; a situação respirará aliviada com a possibilidade de apresentar a sua base eleitoral outro argumento, o de que o governo, com o Auxílio Brasil, previsto para oscilar entre R$ 400 e R$ 600, alivia a fome que alastra no país, com desemprego na casa dos 20% da população economicamente ativa; a inflação, que está subindo por conta do subconsumismo, que leva os empresários a reduzir produção e elevar preços dos estoques para recompor taxas de lucro, ganha novo impulso com o Auxílio Emergencial, só que de outra natureza; com maior poder de compra no bolso, rolará o que rolou no ano passado: maior incremento do comércio, da indústria e dos serviços; a demanda cresce e a oferta poderá, no curtíssimo prazo, não ter força para atender, resultando em elevação dos preços. A oposição, por sua vez, terá que correr atrás do prejuízo.
O governo, com o Auxílio Brasil mais polpudo, será obrigado a aumentar importações, via valorização do câmbio, num primeiro momento, para combater a “nova” inflação, agora, de demanda; em vez de subconsumismo inflacionário, que a miséria social potencializa, haveria retomada da inflação de oferta, conjuntural em regime de semi-desenvolvimentismo bolsonarista, graças ao aumento do poder de compra, dado pelo bombeamento do Auxílio Brasil; haveria ou não repeteco circunstancial à lá Plano Real, de FHC, que sobrevalorizou a moeda para importar, de modo a derrubar os preços? O Centrão, portanto, cria novas expectativas, numa linha populista para dar injeção de poder de compra no bolso dos desempregados e dos miseráveis; esse movimento reverteria ou não impopularidade do presidente capitão? O ataque econômico populista do Centrão é o novo projeto bolsonarista na reta final de mandato, para tentar inverter a situação que lhe é desfavorável, econômica e politicamente. Ciro Nogueira, no comando do Centrão, dá cavalo de pau nas expectativas econômicas, para ganhar eleição, enquanto cria clima de insatisfação relativa no mercado financeiro.
Distensão econômica e política
Se, na prática, vingar essa estratégia econômica distensionista do Centrão, cria-se fato político novo que fortalece popularidade do governo bolsonarista; é de se lembrar que, em 2020, com aprovação, no Congresso, do Auxílio Emergencial de R$ 600, como socorro para os mais pobres poderem enfrentar a pandemia do novo coronavírus, ocorreu súbito apoio popular ao titular do Planalto, cujas consequências foram esfriar a espinha dos oposicionistas quanto suas chances eleitorais; a sustentação do auxílio de R$ 600, no entanto, levantou resistência da burguesia financeira, porque representaria suspensão do teto de gastos, com o qual a banca tem se beneficiado, graças ao achatamento das verbas orçamentárias destinadas aos setores sociais para garantir pagamento de juros e amortizações da dívida pública; a prioridade conferida aos especuladores com os títulos do governo que resultou em redução drástica do poder de compra dos salários, aprofundou recessão em meio à pandemia; as medidas compensatórias aprovadas pelos congressistas para tentar salvar setores produtivos em colapso, afetados pela redução do consumo interno, não resultaram em nada, porque os bancos não repassaram ao mercado de crédito mais de R$3 trilhões a eles repassados pelo tesouro nacional; a banca pegou o dinheiro e comprou mais títulos do governo e deixou a praça seca; manteve, dessa forma, taxas de juros elevadas aos comerciantes, industriais e consumidores; cresceram, consequentemente, inadimplências nos setores produtivos e a taxa de desemprego e de desocupados em geral na economia explodiu.
No jogo do Centrão, para ganhar eleição, deixou de ser, eleitoralmente, útil o ultraneoliberalismo radical de Paulo Guedes; O BC Independente, aprovado pelo Congresso, contra os interesses da população, terá, de acordo com a nova orientação populista centrista eleitoral, que mudar política monetária, de modo a distencionar a taxa de juros, como propõem os programas do PT, de Lula, e do PDT, de Ciro Gomes; a ideologia utilitarista, nos moldes cínicos dos ingleses, que representa o suprassumo do capitalismo, para se preservar, no poder democrático, vira, com o Centrão, em populismo eleitoral e cambial; o Posto Ipiranga de Bolsonaro, Paulo Guedes, torna-se, para o Centrão, politicamente, disfuncional; Guedes virou incômodo para Bolsonaro, que, certamente, vai despachá-lo em nome do pragmatismo eleitoral; a política monetária ultraradical terá que dar vez à maior oferta de moeda em circulação, para diminuir juros e incrementar o crédito, na linha da heterodoxia econômica, convergente com a Moderna Teoria Econômica das Finanças Funcionais; afinal, é com ela que os governos capitalistas desenvolvidos estão trabalhando para evitar avanço das esquerdas nas eleições.
(*) Por César Fonseca, jornalista, editor do site Independência Sul Americana