Com a crise humanitária da Covid-19, o mundo está quase inteiramente voltado para essa doença. Mas isso não quer dizer que o mundo da ciência está parado. A cada dia os cientistas buscam e fazem novas descobertas em outras áreas não relacionadas ao coronavírus.
Acompanhe cinco revelações desses últimos meses e que podem salvar muitas vidas.
1- A revolução da computação graças a prova da existência de uma partícula
Um pesquisador da Universidade Aalto, na Finlândia, foi responsável por comprovar a existência de partículas exóticas chamadas de “anyons”. São partículas que somente haviam sido exploradas teoricamente há quase uma geração. Comparando com uma outra grande descoberta, cita-se o Grande Colisor de Hádrons, feito na Suíça, em 2008. Agora, imagine algo assim, mas do tamanho de um diâmetro de um cabelo humano. Esses são os anyons, um avanço importante para a física e para o desenvolvimento de novas tecnologias, como a computação quântica. As partículas são capazes de viajar em estado sólido cercadas por outros fragmentos que se arrastam à medida que se movem.
Elaborados teoricamente em 1977, “os anyons foram alvos de experimentos, mas a verdadeira natureza quântica dessas partículas era desconhecida até agora”, diz a instituição de ensino.
2- Produção de vacina contra doença
Pesquisadores da Universidade de Navarra, na Espanha, desenvolveram uma vacina contra shigelose ou disenteria bacteriana, uma infecção que causa diarreia, dor de estômago e febre e, nos casos mais graves, leva ao óbito.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, cerca de 80 e 165 milhões de casos são confirmados em todo o mundo a cada ano e 600 mil pessoas já morreram.
A doença é transmitida principalmente pelo consumo de água e alimentos contaminados, e as crianças são as mais atingidas, principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Para tornar essa vacina uma realidade, será preciso confirmar sua eficácia em animais e só então será possível partir para testes de que ela é segura e funciona em humanos.
“Ambas as vias tiveram resultados muito promissores em camundongos que, após serem vacinados pelas duas vias, ficaram protegidos contra a infecção pela bactéria shigella”, diz Yadira Pastor, cientista que liderou a investigação.
3- Vida selvagem volta a prosperar em área atingida por tsunami em 2011
De acordo com a revista científica Frontiers in Ecology and Environment, cientistas japoneses notaram um aumento abundante da vida animal na costa leste do Japão, arrasada por um tsunami em março de 2011. Na época, grandes quantidades de material radioativo foram liberadas no meio ambiente e causaram o pior acidente nuclear desde 1986, quando ocorreu o desastre de Chernobyl. Desde então, vários animais morreram e muitas espécies desapareceram, o que vem mudando aos poucos.
Um dos líderes da pesquisa, o biólogo James Beasley, explica que o estudo, realizado entre 2016 e 2017, coletou, com câmeras colocadas em 106 lugares, mais de 267 mil imagens de 20 espécies de animais selvagens.
Esta é, diz Beasley, “a primeira avaliação em larga escala das comunidades de mamíferos em Fukushima” e o primeiro estudo das populações de vida silvestre na área levando em consideração a situação peculiar da baixa presença humana.
4- Segredos genéticos da massa cinzenta no cérebro
A Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) anunciou que “havia sido produzido o primeiro mapa genético do córtex cerebral, no qual foram identificadas mais de 300 variantes genéticas que influenciam a estrutura cortical” e, em alguns casos, distúrbios psiquiátricos e neurológicos.
O córtex é a camada de massa cinzenta que recobre o cérebro; é essencial para o pensamento, processamento de informações, memória e atenção.
Um dos coautores da pesquisa, Jason Stein, professor do Departamento de Genética e Neurociência, explica que o estudo identificou como as diferenças genéticas das pessoas afetam a estrutura de seus cérebros.
“Focamos especificamente no córtex, que, em comparação com o de outros primatas, se expande acentuadamente nos seres humanos. Acredita-se que esse prolongamento leve a um melhor desenvolvimento cognitivo e comportamento social. Portanto, é uma parte muito importante do cérebro”, diz Stein.
Para analisar a estrutura do cérebro, os pesquisadores estudaram exames de ressonância magnética do cérebro de 50 mil pessoas e se concentraram no tamanho e espessura da superfície. Além disso, recolheram amostras de DNA dos participantes para entender suas diferenças genéticas.
“Identificamos centenas de lugares em que variações do genoma têm impacto na estrutura cortical, no tamanho e na espessura do córtex. Curiosamente, essas diferenças foram encontradas em locais do genoma ativos durante o desenvolvimento inicial do cérebro, antes do nascimento, em um tipo de célula chamada célula progenitora neural”, afirma Stein.
5- Como o sistema nervoso detecta salmonellas e nos defende
Em dezembro, a Faculdade de Medicina da Universidade Harvard informou que um estudo em ratos mostrou como o sistema nervoso não apenas detecta salmonella, mas “defendeu ativamente o corpo” contra a ameaça.
Segundo a instituição americana, a pesquisa, publicada na revista especializada Cell, descobriu que os nervos no intestino dos ratos percebiam a presença da bactéria – a principal causa de intoxicação alimentar no mundo – e formavam “duas linhas de defesa”.
“Nossos resultados mostram que o sistema nervoso não é apenas um sistema simples de detecção e alerta. Descobrimos que as células nervosas no intestino vão além. Elas regulam a imunidade intestinal, mantêm a homeostase intestinal e fornecem proteção ativa contra infecções”, disse o líder do estudo, Isaac Chiu.
O trabalho aponta que o intestino delgado possui neurônios sensíveis à dor, que também estão localizados sob células chamadas placas de Peyer. Os experimentos revelaram que esses neurônios são ativados na presença de salmonella, que, segundo os pesquisadores, é a causa de 25% das doenças bacterianas diarreicas no mundo.
A infecção geralmente ocorre quando você come comida ou água contaminada com a bactéria. “Uma vez ativados, os nervos usam duas táticas defensivas para impedir que as bactérias infectem o intestino e se espalhem pelo resto do corpo”, diz a universidade.
Wyl Villas Bôas é jornalista e sempre otimista por dias melhores