O fogo já consumiu 22% do Pantanal neste ano. Dados do Inpe e da Nasa levantados pelo Instituto Centro de Vida, mostram 1,3 milhão de hectares de vegetação devastada, animais mortos e vidas humanas afetadas. Mas o fogo não atinge a todos por igual. Comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas são as que mais sofrem.
Moradores relataram o impacto nas comunidades pantaneiras, em audiência pública virtual realizada pelo deputado estadual Lúdio Cabral (PT) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, em 17 de setembro.
Mais de 80% da Terra Indígena Baía dos Guató foi queimada. O fogo destruiu roças, casas e a floresta onde estão as plantas medicinais. Presidente da Organização de Mulheres indígenas de MT, Alessandra Alves, contou que seu povo tem passado os últimos dias com tristeza. “É muita fumaça, pessoas com dificuldade pra respirar. Não temos mais segurança alimentar. Nossa vida está em risco.”
No Território Quilombola Vão Grande, uma família com sete crianças perdeu a casa no incêndio. “Não só os animais estão morrendo. As queimadas atingem nossas famílias”, lamentou Maria Helena Tavares.
A impotência diante das chamas na comunidade Pantanalzinho abalou a estudante Leidiane Nascimento, que destacou a resistência e a luta para preservar o Pantanal. “É aqui que residimos, é de onde tiramos nosso sustento”, disse.
Para a coordenadora da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira, Cláudia Sala, falta visibilidade a quem conserva o bioma, e o fogo é usado para expulsar as comunidades tradicionais. Muitos tiveram que fazer guarda dia e noite para o fogo não entrar nas casas.
Viver na maior área úmida do mundo preocupado com o fogo é uma contradição, como destacou o ambientalista Isidoro Salomão, da Sociedade Fé e Vida. “Enquanto para uns é o negócio, para nós é a vida que está ameaçada”, disse.
Os problemas da planície pantaneira começam no planalto, que não é protegido pela mesma legislação, e sofre com desmatamento para expansão da agricultura intensiva próximo às nascentes de rios, com centenas de projetos de pequenas centrais hidrelétricas e com o projeto de implantar uma hidrovia no Rio Paraguai.
Lúdio Cabral defende mudanças na legislação para preservar os rios que alimentam o Pantanal e, assim, evitar o agravamento da seca no bioma. “O fogo no Pantanal é a febre. Não adianta dar antitérmico sem tratar a doença. A doença é a falta de água. Mas essa é uma doença que não nasce no Pantanal”, afirmou.