Zé Geraldo tem uma canção belíssima que no refrão diz que: “…tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos…” Mesmo que pesem desconfianças sobre os pombos que transmitem muitas doenças, quem me alertou foi um Paraense de Alenquer, que morre de medo de pombos; mas, o ato de dar milho aos pombos é uma tarefa idílica, lúdica e boa para o espírito.
Nas duas últimas semanas surgiram informações de catástrofes que estão por vir porque estamos cuidando muito mal do planeta. Um novo estudo, do Instituto Potsdam, sobre Impacto Climático (PIK) mostra que dos nove limites planetários, apresentados em 2009, sete já foram ultrapassados, ou seja, já passamos 78% do limite, o que é assustador!
Nobre leitor (a), não vou gastar seu tempo, mas vou descrever cada um dos níveis para que você reflita:
– Mudanças no uso da terra: O desmatamento e a conversão de ecossistemas em áreas para o agronegócio e a mineração destroem habitats naturais e afetam a regulação climática, como tem acontecido com níveis intensos de chuva e de seca no Brasil e no mundo.
– Mudanças climáticas: O aumento da temperatura causado pela emissão de gases do efeito estufa está em níveis perigosos e não há indício de reversão. A produção e o consumo de combustíveis fósseis-hidrocarboneto, como petróleo, gás natural e carvão, estão em crescimento, como foi demonstrado na COP 28.
– Perda de biodiversidade: A extinção de espécies devido à destruição de habitats naturais e a mudança do uso da terra, combinando com a exploração excessiva dos recursos naturais, coloca o planeta em alerta.
– Ciclo do nitrogênio e fósforo: A monocultura tem produzido descarte excessivo de insumos químicos que prejudica todo o ecossistema habitado e os aquáticos, produzindo contaminação e alterando a qualidade da água, que atinge com intensidade os mais vulneráveis.
– Uso de água doce: A demanda crescente por água doce combinando com as contaminações químicas produz escassez e torna a vida mais perigosa.
– Poluição química (microplásticos): A intensificação de despejo de produtos químicos tóxicos e microplásticos agudiza a escassez de água e a vida nos ecossistemas aquáticos.
– Acidificação dos oceanos: O aumento de CO₂ na atmosfera e a dissolução nos oceanos torna os oceanos mais ácidos, o que impacta os ecossistemas aquáticos, sobretudo os recifes de corais.
– Aerossóis na atmosfera: A presença de fuligem e poeira no ar alteram padrões climáticos, mesmo que os níveis não tenham sido ultrapassados no mundo, o Brasil não é um bom exemplo, pois as queimadas deste ano mostraram que em breve o país ultrapassará este nível.
– A Camada de ozônio não foi recuperada, mas os estragos diminuíram porque houve esforço internacional com a diminuição de uso de vários Gases de Efeito Estufa, mas lembremos que a emissão de CO2 continua crescente e os cursos de água contaminados com material orgânico emitem CH4 que é 20 mais grave do que o CO2.
É desesperador!
Mesmo que a arte diga, numa letra de Ivan Lins: “Desesperar, jamais/ Aprendemos muito nestes anos/ Afinal de contas, não tem cabimento/ Entregar o jogo no primeiro tempo”.
Estamos no jogo faz tempo, não é o primeiro tempo, o resultado não está do lado de um planeta saudável, porque o capitalismo acumulou nos últimos tempos com o aumento dos impactos ambientais e sociais.
Mas, não vamos desistir, cada um de nós tem muito o que fazer para mudar o Planeta. Fazer adaptação às mudanças climáticas; mudar as cidades para absorver água e diminuir as ilhas de calor com arborização; mudar o campo para diminuir o desmatamento, recuperar as matas ciliares, para preservar os rios; mudar o consumo exercitando o não consumismo e adquirir produtos mais duráveis sem obsolescência programada; diminuir o consumo de petróleo incentivando as energias renováveis. Mesmo que tenhamos momentos da vida para dar milho aos pombos, não devemos deixar tudo acontecer sem fazer nada.
(*) Artur de Souza Moret, físico, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos é pesquisador amazônico em Energia Renovável. Marxista, Ambientalista, Pacifista e anti Capitalista.