Prefeito se beneficia de ampla exposição no horário eleitoral; Tabata e Datena empacam
Em mais uma reviravolta na acirrada disputa eleitoral em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) reassumiu a dianteira numérica da corrida, com 27%, empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL), com 25%. Pablo Marçal (PRTB) se distanciou deles, com 19%.
Segundo nova pesquisa do Datafolha, Boulos e Marçal, este agora isolado em terceiro lugar, pontuam no limite máximo da margem de erro, no qual um empate é considerado improvável. A margem de erro é de três pontos, para mais ou para menos.
A pesquisa de agora sugere um recuo na já estancada onda Marçal, colocando em xeque a máxima de que propaganda gratuita era item ultrapassado em campanhas, noção cristalizada pela eleição quase toda via internet de Jair Bolsonaro (PL) em 2018.
A recuperação do emedebista pode ser bastante debitada do fato de o prefeito ter 65% do tempo na propaganda gratuita, a maior fatia na histórias dos pleitos paulistanos. Mas não só: as campanhas rivais, particularmente a do dito ex-coach, sofrem com problemas próprios.
De todo modo, até a véspera do horário de rádio e TV, há duas semanas, Nunes vinha se descolando de Boulos e do então ascendente Marçal. Na rodada de 20 e 21 de agosto, Nunes cravava 19%, enquanto o deputado tinha 23% e o influenciador, 21%. Era um empate na margem de erro, mas mostrava uma tendência negativa para o prefeito.
Ela já foi revertida com a entrada do horário eleitoral. Na pesquisa da semana passada, já captando o início dos programas, Nunes foi a 22%, numa situação de paridade com Marçal (22%) e Boulos (23%). O levantamento atual aponta uma nova rota.
Ele foi contratado pela Folha e registrado na Justiça Eleitoral sob o código SP-07978/2024. Foram ouvidos 1.204 eleitores na terça (10) e na quarta (11).
A pesquisa confirma o cenário desolador para o segundo pelotão. Tabata Amaral (PSB) oscilou de 9% para 8%, enquanto José Luiz Datena (PSDB) encolheu dentro da margem ainda mais, de 7% para 6%, metade do patamar do início de agosto.
Já os escalões inferiores da disputa trazem Marina Helena (Novo), com 3%, e Bebeto Haddad (DC), com 1%. Os demais não pontuaram. Declararam voto nulo 7%, ante 8% na semana passada, e se dizem indecisos os mesmos 4%.
Na pesquisa espontânea, quando o entrevistado é questionado sobre sua preferência sem ver a lista de candidatos, Nunes oscilou para cima, de 10% para 14%. Boulos segue à frente, oscilando de 19% para 20%, e Marçal empacou (14%, ante 15%).
As boas notícias para Nunes começam no perfil de seu apoio. Ele confirmou a dianteira numérica entre os mais pobres (34% da amostra populacional do Datafolha), marcando 27% no grupo. Boulos vem a seguir com 21%, e Marçal tem 13% —oscilação negativa de cinco pontos ante a pesquisa anterior.
A nova pesquisa também mostra novamente a melhora da avaliação de governo do emedebista. Para 31%, sua gestão é boa ou ótima, ante 26% que achavam isso na semana passada. Já 45% o avaliam regular (eram 46%) e 21%, ruim ou péssimo (eram 24%). A taxa de decepção com ele caiu de 68% para 61%.
Para o deputado do PSOL, a oscilação positiva contrasta com problemas em sua campanha. Apesar de ter se mantido alternando numericamente a liderança com Nunes ao longo da disputa, ele agora enfrenta dificuldades para subir.
A aposta na associação de seu nome ao do presidente Lula (PT), o padrinho de sua candidatura, não pagou grande dividendos: 48% dos eleitores do petista no segundo turno de 2022 votam em Boulos, ante 43% do grupo há uma semana. Nunes abocanha 19% desse eleitorado, em estabilidade.
Estrategistas do deputado já pedem para que Lula participe mais ativamente de agendas de campanha. Mas o fato é que, tendo abraçado Boulos, rifado o PT municipal e assumido a eleição paulistana como um tira-teima com o bolsonarismo, a transferência e votos de Lula é tímida.
Pesa na conta o antipetismo paulistano, claro, que se vê na força conjunta das candidaturas à direita —o que traz mais problemas para o psolista se chegar ao segundo turno. Por ora, Boulos tem apostado em atacar mais abertamente só Nunes, deixando a desconstrução do fenômeno Marçal na conta do prefeito.
Na lógica do psolista, baseada em dados como o do próprio Datafolha, Marçal é um candidato mais fácil de bater num segundo turno. Agora, se a desidratação do candidato do PRTB se acentuar, a tática terá de ser revista.
Já o autodenominado ex-coach viu sua vantagem no bolsonarismo cair. Ele tinha 48% dos votos do segmento ante 31% do prefeito, apoiado por Jair Bolsonaro (PL). A diferença caiu agora para 42% a 39%, respectivamente, um empate técnico.
Marçal tem sofrido reveses em sua campanha, baseada em agressividade e antipolítica. Bolsonaro o rejeitou, impedindo até subir em seu palanque na celebração contra o Judiciário do 7 de Setembro, no sábado passado na avenida Paulista.
Isso dito, Bolsonaro não está engajado na campanha de Nunes. O atual bom momento do prefeito beneficia outro bolsonarista, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que está participando ativamente ao lado do emedebista. Em troca, o eleitorado que votou no governador em 2022 agora vai de Nunes: eram 45% votando em Marçal na semana passada, ante 36% agora; o avanço do prefeito no grupo foi de 30% para 42%.
A dificuldade de Marçal também passa por sua ausência na propaganda eleitoral, dado que o PRTB não tem representação parlamentar mínima no Congresso. A largada do influenciador parecia provar a vitória das redes sobre a proverbial TV nas campanhas. O pleito atual desafia essa lógica, e o próprio Marçal diz apostar nos debates da semana que vem para se promover.