Em janeiro de 1954, Getúlio Vargas, em um comício na Boca Maldita, no centro de Curitiba, anuncia ao povo ter assinado projeto de lei para a criação da Eletrobras, hoje uma das maiores empresas estatais de energia do mundo e um referente centro internacional de desenvolvimento tecnológico para a produção de eletricidade. Naquela manhã curitibana, o presidente Vargas confidenciou ao então governador do Paraná: “Minha intuição me diz que ao assinar projeto de lei da Eletrobras, assinei meu próprio atestado de óbito”. Seis meses depois aquele brasileiro estava morto!
Não era uma intuição vã aquela de Getúlio Vargas. Contra ele já se tinham organizado várias tentativas, armadas, de derrubá-lo. Em 1932, a oligarquia paulista, com o apoio de banqueiros ingleses, lança o país numa guerra civil de 6 meses, visando parar a auditoria da dívida externa que Vargas dera início e que resultaria na descoberta de grosseiras fraudes nos contratos da dívida e sua redução de valor em mais da metade.
A segunda tentativa armada de derrubá-lo foi em 1935, quando o país já havia realizado uma Assembleia Nacional Constituinte, que nacionaliza os bancos e criava o monopólio estatal dos seguros e resseguros, novo enfrentamento de Vargas com o poder financeiro internacional, além da auditoria da dívida externa. A terceira tentativa, a enlouquecida invasão armada dos Integralistas ao Palácio do Catete, obrigando Getúlio a defender a integridade de sua família de armas em punho, ainda de pijama. Desde então, Getúlio Vargas escrevera e guardara um Manifesto à Nação, no qual afirmava que “apenas morto abandonaria a sua luta pela independência do Brasil” E passou a andar armado.
Independência é energia. E esta independência é barrada sempre pelas aves de rapina do capital estrangeiro, com violência e golpes de estado. Não é por outra razão que na Carta Testamento que deixou ao povo brasileiro ao lado de seu cadáver no Palácio do Catete, Getúlio havia escrito: “A Eletrobras foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o povo seja independente”.
Novamente estamos diante dos mesmos dilemas de Getúlio Vargas, que não viu em vida o sonho de uma Eletrobras erguida, o que só veio a ocorrer pelas mãos de seu herdeiro político, o Presidente João Goulart, em 1961, a quem Getúlio havia entregue uma cópia da dramática Carta Testamento, na véspera de sua morte.
Portanto, quando estamos novamente diante da sanha das aves de rapina do capital estrangeiro, agora instaladas no Palácio do Alvorada, e que querem a todo o custo “matar Getúlio outra vez” e rapinar décadas de edificação desta Eletrobras que é uma referência mundial de desenvolvimento, no mínimo temos que nos conscientizar de que estamos enfrentando desafios gigantescos, de ter ou não ter Pátria, frente aos quais não podemos ser pequenos, medíocres, e ,para nos encorajar, temos o inapagável exemplo de Getúlio Vargas. O sangue da independência nacional de Getúlio Vargas deve correr nas veias das novas gerações de brasileiros, que devem se colocar a meta de não permitir o avanço deste vergonhoso entreguismo, escondido sob a bandeira nacional balançada por mãos enganosas, que usam um pseudo patriotismo para destruir a Pátria, o maior dos crimes que se podem cometer contra um povo. Enganá-lo, iludi-lo, escravizá-lo, escondendo as garras do poder externo com a sua própria bandeira nacional!
Nas atuais relações de força, as aves de rapina do entreguismo possuem maioria no Congresso Nacional. A privatização da Eletrobras já foi aprovada na Câmara, com facilidade, e caminha célere para ser aprovada também no Senado. É pouco provável que uma convencional batalha parlamentar possa impedir esta privatização lesa pátria. É indispensável que as forças progressistas ganhem as ruas como neste último dia 29 de maio e, baseando-se em exemplares lutas do passado, ergam um muro de mobilização cidadã e verdadeiramente patriótica que barre este golpe que visa, sem dúvida, o desmembramento da Nação Brasileira, destruindo seu sistema elétrico integrado, mas também seu desenvolvimento e sua soberania territorial.
Há exemplos anteriores, como na luta dos paranaenses que derrotou a privatização da COPEL, em 2001, com centenas de milhares de cidadãos assinando Projeto de Iniciativa Popular de Lei, mas, que para assegurar o seu êxito, chegou à memorável ocupação das dependências da Assembleia Legislativa do Paraná, momento em que a Ira Santa do Paranaenses impediu tenebrosas transações de parlamentares vendidos contra a Pátria Brasileira. Esse é o exemplo a seguir! Diante dos cenários extremos e extraordinários que estamos vivendo, é pouco provável que uma batalha parlamentar convencional e rotineira, num Congresso sob a cadência de Orçamentos Paralelos, possa ser vitoriosa uma bandeira nacionalista como a de garantir a Eletrobras Estatal. E para situações extraordinárias, reações e iniciativas extraordinárias.
É indispensável colocar nas ruas, imediatamente, em todas as capitais, em todos sindicatos e universidades, uma Campanha em Defesa da Eletrobras, instalando barraquinhas para a coleta de assinaturas para um Projeto de Iniciativa Popular de Lei visando derrotar a privatização-desnacionalização da estatal. A Manifestação do dia 29 de maio mostrou que se pode fazer manifestações com os cuidados e proteções necessárias. É urgente que os partidos que defendem a integridade da Nação, o desenvolvimento independente, os direitos da sociedade a uma energia limpa e barata, se mobilizem junto com sindicatos, universidades, movimentos sociais, igrejas, intelectuais e cientistas, em defesa da Eletrobras Estatal.
E que seja produzido um Manifesto à Nação , firmado por personalidades e entidades representativas como a OAB, ABI, CNBB, SBPC, UNE, no qual se faça, também, um chamado às Forças Armadas, porque a desnacionalização da Eletrobras implicaria , também, em grave crime contra a integridade do país, um verdadeiro problema de segurança nacional, inviabilizando por completo sua capacidade de Defesa, tal qual se registrou em vários países que, recentemente, também sofreram a intervenção das potencias imperiais, em nome do Consenso de Washington, impondo uma recolonização, como no Iraque, na Líbia e na esquartejada Iugoslávia.
(*) Carlos Alberto Almeida (Beto Almeida) é jornalista e diretor da TV Comunitária Brasília
Publicado originalmente no site Salve a Energia