Na República dos Agiotas, em que se transforma o Brasil no país dos Bets, da jogatina financeira que reduz renda disponível para o consumo, a economia registra deflação de 0,02% de alimentos, bebidas e habitação, em agosto, mas o mercado especula que, nesta quarta-feira, o Copom do BC Independente deverá aumentar a taxa de juro Selic em 0,25%.
Contradição total: cai o consumo, mas aumenta o juro.
O mecanicismo economicista do BC roda apenas para frente, nunca para trás.
A lógica seria o seria o Copom iniciar a redução da taxa de juro para tirar o país do perigo de deflação, que é muito mais destrutiva que a inflação.
A inflação aleija, mas a deflação, mata, como diz o maior economista do século 20, John Maynard Keynes.
A deflação é sinal claro de disfunção aguda na economia: empobrecimento acelerado, destruição de riqueza, algo muito mais perigoso e letal que a inflação que rouba mas não mata, não destrói, totalmente, a base produtiva.
A deflação acelera a desestatização, barateando e sucateando o patrimônio nacional.
Contra a deflação, que considerou “erro eterno”, Keynes recomendou aumento dos gastos públicos para elevar a demanda global, mediante elevação da quantidade da oferta de dinheiro na circulação.
Por ser, segundo Keynes, a única variável econômica verdadeiramente independente no capitalismo, o aumento da oferta de moeda pela autoridade monetária, produz quatro fatores simultâneos que reanima o sistema capitalista: 1 – aumenta os preços, 2 – diminui salários, 3 – reduz juro e 4 – perdoa dívida acumulada a prazo.
O empresário, diante dessa conjugação de fatores pró-reaquecimento econômico, vai aos investimentos porque enxerga claramente a eficiência marginal de capital, isto é, os lucros.
EQUÍVOCO TOTAL
Keynes chamaria de equivocados os economistas do Banco Central, no mínimo.
A especulação com a taxa de juro, como faz o Banco Central, para favorecer o mercado financeiro, é a causa principal que leva a economia brasileira capitalista à deflação.
No caso, a deflação de agosto, de 0,02%, decorre do aumento da oferta em relação à demanda, segundo o IBGE.
Os preços então teriam caído em agosto por redução relativa do consumo em relação à oferta.
O que faltou, para evitar a deflação, foi consumo.
O salário médio nacional está baixando, consumindo pouco: 90% da população economicamente ativa ganha até dois salários-mínimos.
A classe média está pauperizada depois das reformas neoliberais do bolsonarismo, responsável por destruir direitos sociais e econômicos dos trabalhadores que elevavam a renda disponível para o consumo, complementando salários.
A redução dos custos de contratação que eleva a taxa de lucro dos empresários acelera a redução do poder de consumo interno.
A demanda relativamente cai, embora a massa salarial cresça.
No conjunto, há a sensação de riqueza, mas, individualmente, predomina a sensação de pobreza sob salário baixo.
PIB EM ALTA X DEFLAÇÃO
Contraditoriamente, a economia registra crescimento do PIB de 1,4% no segundo trimestre, mas, na prática, não reflete no bem-estar da população empobrecida que leva a economia à deflação de alimentos, bebidas e habitação, por causa do salário baixo.
Seria ou não o momento de o BC Independente iniciar redução da Selic de 10,5% com mais vigor para puxar a economia?
Seria ou não essa solução para elevar a arrecadação a fim de alavancar investimentos, emprego, renda e investimento, garantindo equilíbrio fiscal pelo crescimento e não pela restrição de gastos sociais?
Há um certo ar de conformismo dentro do governo com o diagnóstico que o mercado financeiro está fazendo de que é necessário aumentar os juros para segurar a inflação que pode ultrapassar a meta de 4,5%.
Ainda não foi alcançado esse patamar, girando, ainda, na casa dos 4,24%, mas a tigrada da Faria Lima tenta ganhar no grito mais um reajuste água- com-açúcar de 0,25%, para dar maior segurança ao mercado, segundo o consagrado especulador Luiz Cézar Fernandes, criador dos bancos de investimento Pactual e Garantia.
CORRELAÇÃO DE FORÇAS EM CENA
Esse visível conformismo da esquerda liberal que tomou conta do governo, para conviver com a adversidade legislativa comandada pelo Centrão, aliado do mercado especulativo, é ou não o sinal de que não haverá discurso radical contra o Banco Central?
A probabilidade é a de que deverá ocorrer acomodação pragmática do governo, até que ele tome o comando da autoridade monetária, com Gabriel Galípolo, a partir de janeiro de 2025.
Teoricamente, o figurino é que o jogo mudará.
Mas, seria totalmente correta essa estratégia ou ficará difícil diminuir os juros depois da saída do bolsonarista Campos Neto da direção do BC?
Será uma questão de correlação de forças.
Se a sociedade se mobilizar contra a taxa de juros anti-crescimento econômico sustentável, a probabilidade de cair seria maior dada a preponderância da política sobre a economia.
Mas, se predominar a passividade social decorrente da falta de mobilização social pela articulação política das forças progressistas pró-desenvolvimento, a sociedade, mais uma vez, vai perder, e o mercado continuará cantando de galo.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/09/10/ipca-precos-cai-002percent-em-agosto.ghtml
(*)Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site independência Sul Americana.