Além da defensora incondicional do presidente, Alexandre Saraiva apontou, entre outros, senadores e ex-ministro Ricardo Salles
O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva fez hoje (14) graves denúncias sobre o envolvimento de políticos bolsonaristas com o que ele chamou de Bancada do Crime na Amazônia. Entre os citados estão os senadores Jorginho Mello (PL-SC) e Telmário Mota (Pros-RR), além da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). “Nós temos uma bancada do crime. Uma bancada, na minha opinião, de marginais”, disse Saraiva, em entrevista para a GloboNews. O policial prestou serviços por mais de uma década em investigações na floresta.
“Bandidos, até pela forma como se comportaram em um dia em que fui convidado para ir na audiência na Câmara dos Deputados, na Comissão de Legislação Participativa. Eu, que já fui em tantas audiências criminais, com advogados e criminosos sentados à minha frente, nunca fui tão desrespeitado pelos criminosos ali, na Câmara”, completou. Além dos parlamentares, Saraiva citou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. “Vou dizer nomes: Zequinha Marinho, Telmário Mota, Mecias de Jesus, Jorginho Mello (de Santa Catarina) mandou ofício. Carla Zambelli foi lá também, defender madeireiro junto com Ricardo Salles”.
Repercussões
A denúncia do delegado agora repercute entre políticos e jornalistas, em rápida propagação pelas redes sociais. “O delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, escancara o descaso e as relações criminosas do governo Bolsonaro e dos seus aliados com atividades ilegais na Amazôniza”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE). O deputado federal Helder Salomão (PT-ES) completou: “Delegado Saraiva denuncia ‘máfia da Amazônia’ do governo Bolsonaro e cita nomes”.
A jornalista da GloboNews Leilane Neubarth disse estar “estarrecida”. “Hipnotizada com a clareza da fala do Delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva sobre as mazelas, crimes, mal feitos e apoios políticos irregulares que acontecem costumeiramente na Amazônia”.
Em entrevista recente para o jornalista Marcos Uchôa, Saraiva apontou que existem saídas para os crimes na Amazônia, mas acusou a ausência de vontade política. “Sobre o ponto de vista operacional, não é difícil. Em seis meses é possível acabar com garimpo e retirada ilegal de madeira. Ultrapassar as limitações burocráticas e conseguir vontade política é outra história (…) Ver onde está o problema é fácil (…) O tráfico de madeira não é como cocaína, ela ocupa muito espaço. A falsidade documental é facilmente observada a partir do processo administrativo”.
Uchôa comentou as denúncias de Saraiva: “É a indignação de um policial chocado com políticos que defendem criminosos. É muito dinheiro roubado e desviado na Amazônia! Quem se beneficia? É só ir atrás que descobre. O delegado Saraiva ia. Esse governo federal tirou ele de lá. Por que?”.
Convergência de crimes
As acusações de Saraiva aprofundam a indignação generalizada pelo desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na Amazônia. Ambos trabalhavam justamente para denunciar crimes na floresta.
Sobre o caso, Saraiva disse que Bruno ajudou em uma operação que destruiu 60 balsas de garimpeiros ilegais na Amazônia, quando trabalhava na Fundação Nacional do Índio (Funai). Logo após, foi afastado de suas funções pelo gabinete de Bolsonaro, após ordens do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, em coordenação com Salles.
Histórico
Alexandre Saraiva se destaca na luta contra o desrespeito do governo Jair Bolsonaro com questões ambientais e a defesa “oficial” a grupos que atuam ilegalmente na Amazônia: madeireiros, garimpeiros, especuladores imobiliários, entre outros. O delegado comandou a maior apreensão de madeira ilegal da história do país em 2021. Em reação sem precedentes pelo governo brasileiro, ele foi afastado de seu cargo após denunciar que Salles estaria dificultando as investigações. Sua denúncia chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), na forma de queixa-crime.
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