Toda a armação do comício bolsonarista neste 7 de setembro na Avenida Paulista foi montada a partir da ideia de demonizar o ministro Alexandre de Moraes e pedir seu impeachment, agora que não existe mais clima para demonizar Lula e que as tentativas de desconstruir seu governo esbarram nos bons resultados da economia e no clima de paz e tolerância política que ele conseguiu disseminar por todo o país.
A campanha contra o ministro estava articulada com a ofensiva de Elon Musk, que parecia disposto a continuar desafiando decisões judiciais até que seu X conseguisse derrubá-las.
Mas o X foi bloqueado, o bloqueio não causou qualquer revolta popular, pouca gente tentou contornar o bloqueio e logo a outra empresa de Musk, a Starlink anunciou que obedeceria às ordens da Justiça e bloquearia o sinal do X – o que a Anatel confirmou que ela fez. Uma rendição total, portanto, mal dissimulada por protestos retóricos de Musk e seus advogados.
A rendição de Musk teve um resultado que comprova a que ponto já chegou a interligação internacional entre os grupos nacionais de extrema-direita em cada país.
Mal a Starlink e Musk se acomodaram ao cumprimento da lei no Brasil e Bolsonaro também deu meia volta.
Em entrevista na quarta-feira ao canal Auri-Verde Brasil, Bolsonaro afirmou que o impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal seria “humilhante” e não seria bom para o país. Mas pediu, sem mencionar Alexandre de Moraes diretamente, que ele “abaixe um pouco a guarda e retire esse coração de maldade”.
Pouco antes o filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, tinha anunciado a apresentação ao Senado de um pedido de impeachment de Alexandre de Morais. Agora esse pedido fica perdido no ar ou vai em definitivo para alguma gaveta e o comício da Avenida Paulista não tem pais seu grito de guerra.
O recuo de Elon Musk, que teve tão imediata obediência por Bolsonaro, deve ter tido outras causas além da percepção, provavelmente passada a Musk por seus advogados, de que os cinco a zero da aprovação dos atos de Moraes na Primeira Turma do Supremo opunham uma barreira intransponível a sua pretensão de ganhar no grito.
Entre outras causas do recuo de Musk, está com certeza o fato de que, segundo o noticiado pelo insuspeito Financial Times, de Londres,”um número recorde de anunciantes pretende reduzir seus investimentos no X no próximo ano”, em decorrência da preocupação com a associação de suas marcas com conteúdos extremistas.
Segundo uma pesquisa da agência Kantar, 26% dos profissionais de marketing planejam cortar gastos com anúncios na plataforma em 2025. No ano passado, a mesma pesquisa da Kantar indicou que 14% dos publicitários planejavam cortar as verbas para o X em 2024. E em 2023 apenas 6% disseram ter essa intenção.
A crescente rejeição da X pelos anunciantes obrigaria Musk a pensar mais no dinheiro que nas fantasias narcisistas de seu ego de menino mimado. E seu recuo não foi nada mau para o Brasil e ainda obrigou Bolsonaro a sossegar um pouco.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.