Dia 12 de Agosto celebra-se o dia internacional da juventude, e nesse dia é importante ressaltar as dificuldades e enfrentamentos que os jovens e as jovens estão vivenciando neste momento de pandemia, com a restrição do isolamento social como medida preventiva. Uma crise sanitária, que pensava se que duraria apenas um mês, já perdura quase 5 meses, atingindo diretamente os jovens no quesito econômico e na saúde mental.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), houve um aumento no desemprego juvenil, com pesquisas para acompanhar e entender os impactos da pandemia na economia, observou se que a juventude está sendo desproporcionalmente afetada sobre os efeitos econômicos. Além da perda do emprego, interrupção de fonte de renda informal, há também a interrupção da educação e capacitação dificultando o ingresso no mercado de trabalho, onde se tratando em questão de gênero, mulheres continuam sendo as mais afetadas.
A estudante de psicologia, que pediu para não ter o nome divulgado, relatou as dificuldades financeiras enfrentada por ela, desempregada desde o início da pandemia. “No momento da pandemia ocorrem várias formas e dificuldades que vão desde dificuldades para alimentação e isso deixa mais vulnerável por que é você se ver precisando ainda mais do outro e ao mesmo tempo existe a questão do distanciamento social. As contas ficam mais caras, a gente se vê com dificuldades ainda maiores principalmente quando se é jovem periférica e desempregada”.
Além dos impactos econômicos, a propagação do novo coronavírus contribuiu para dados alarmantes na saúde mental da população jovem, em função da contenção da doença, a quarentena implica, muitas vezes, a vivência de situações desagradáveis que podem ocasionar impactos na saúde mental dos envolvidos. Alguns estressores na quarentena são: necessidade de afastamento de amigos e familiares, incerteza quanto ao tempo de distanciamento, medo, e aumento da violência doméstica.
“Agora não posso separar questões econômicas das psicológicas por que acaba interferindo diretamente, o que respinga da situação financeira nas questões de saúde mental. Tentamos subverter de várias formas, mas ainda assim: fica o questionamento de como podemos ter saúde em uma sociedade que supervaloriza o trabalho e não estamos tendo acesso ao mesmo e a vezes ficamos dependendo de contribuições de companheiros de luta, e de movimentos sociais. É um momento difícil a todos, contudo é fundamental perceber que estamos com muitas dificuldades e ainda precisando ainda mais dos outros do que antes da pandemia.”
Sara Ramos, 24 anos, integrante do grupo de maracatu virado formado por mulheres, o Baque Mulher Tocantins, fala de como o medo, principalmente de contagiar as pessoas mais velhas, afetou sua saúde mental e prejudicou seu desenvolvimento nos estudos.
Sara Ramos
“O medo é um desafio, sobretudo o medo de ser um risco para os meus mais velhos. Ainda tendo muito cuidado, a ansiedade causada por esse medo pode fragilizar nossa saúde mental e, no meu caso, isso vem prejudicando meus estudos. E financeiramente, as opções de trabalho sem grandes riscos são poucas, então têm sido um desafio constante.”
Com grandes impactos principalmente na população mais vulnerável, que com isso também inclui a população jovem, movimentos sociais da juventude consciente do seu papel social e humanitário, procurou meios para se proteger e continuar prestando serviço à comunidade.
Daniela Peixinho, militante do Levante Popular da Juventude, nos conta quais as medidas está tomando nesse momento: “Estou seguindo as orientações das organizações de saúde, fazendo o cuidado com a saúde e principalmente com a saúde mental nesse momento tão difícil para o mundo e principalmente para o povo brasileiro, que além de enfrentar o Coronavírus, enfrenta também a irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro. Que nega a gravidade da pandemia e não oferece condições para que as pessoas possam se proteger.
Daniela Peixinho
Mostrou cuidados com o consumo de notícias e falou sobre campanhas solidárias desenvolvidas no estado do Tocantins pelo movimento social Levante popular da Juventude:“ Então, é preciso evitar o consumo de informações falsas, fazer o combate às fake news, cumprir e defender o distanciamento social de forma correta para evitar a disseminação do vírus. E além disso considero que a solidariedade é um fator importante para enfrentar esse momento, pois para nós do Levante, ela é tida como um valor coletivo e que promove dentre outras coisas a autonomia da juventude. Por isso, o Levante Popular da Juventude do Tocantins realizou a Campanha de Solidariedade – Periferia Viva nós por nós, aqui em Palmas, fizemos campanha de arrecadação e entrega de cestas básicas para famílias que estão em situação de vulnerabilidade e que com a ausência de ações do Governo Federal enfrentam grandes dificuldades em meio a pandemia.”
Daniela salienta a importância da juventude organizada para enfrentar momentos de crises como esse. “A ação coletiva nos fortalece, não só como pessoa, mas como povo, por isso a importância da juventude está organizada. A formação Política é fundamental nesse momento, essencial eu diria, para os jovens e toda população, precisamos construir uma luta em busca da transformação estrutural da sociedade brasileira. Lutar por nossos direitos, pois é o povo que produz, com seu suor, toda a riqueza do nosso país.”
Por fim, perguntamos as jovens entrevistadas quais seria suas expectativas para um futuro pós pandemia, e as respostas nos mostra a esperança em mundo melhor, com consciência de classe, uma sociedade mais justa e democrática e a necessidade de reconstruirmos nossa forma de agir e pensar.
“Tenho a expectativa de um mundo que finalmente compreenda que estamos todos juntos, que ninguém pode se sobrepor a ninguém porque cada um é responsável pela sobrevivência de todos. Um mundo que deixe pra trás suas velhas convicções capitalistas, racistas e patriarcais.” – concluiu Sara Ramos.
“Difícil dizer quais as expectativas para o futuro em um cenário tão incerto como o que vivenciamos, o país enfrenta a pior crise sanitária dos últimos tempos, contexto que intensifica ainda mais a crise social, política e econômica que já existia antes da pandemia. Acredito que ainda sentiremos as consequências econômicas e sociais, que inclui o aumento do desemprego e da informalidade, porém será um tempo para recomeçar e se reinventar!”
Falando enquanto movimento social: “Nós enquanto movimento social permanecemos ao lado do povo brasileiro, continuaremos na luta por melhores condições de vida, e assim fortalecer também a relação com as comunidades, com as pessoas, levando informação de qualidade, fazendo os debates e trocas de ideias com a juventude. Inclusive o Levante tem feito diversos espaços de formação, como o curso sobre racismo e fascismo, o festival da resistência, com cultura e informação, fortalecendo a luta por um Brasil melhor, por um projeto popular para o país, sem esse desgoverno fascista.” – Daniela Peixinho, Militante do Levante Popular da Juventude Tocantins.
“Na pandemia, espero que consigamos sair vivas de tudo isso e que a nossa luta por direitos e condições melhores de saúde nos seus mais variados aspectos sejam possíveis para nós.”