A transição para uma economia com zero emissões líquidas de carbono poderia contribuir para a criação de 15 milhões de novos empregos na América Latina e no Caribe até 2030. É o que revela um estudo feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O levantamento aponta para uma necessidade de “criar empregos decentes e construir um futuro mais sustentável e inclusivo”.
Denominado “O Emprego em um futuro de zero emissões líquidas na América Latina e Caribe”, o relatório aponta para um desaparecimento de aproximadamente 7,5 milhões de empregos na área de eletricidade com base em combustíveis fósseis e outras atividades. No entanto, essa perda seria compensada por novas oportunidades. Apenas no setor de agricultura e produção de alimentos, por exemplo, mais de 22 milhões de pessoas seriam empregadas. A atuação seria em eletricidade renovável, silvicultura, construção e manufatura.
“Essa transição garante que a troca seja equitativa e inclusiva. Isso significa assegurar que todas as pessoas e empresas tenham habilidades e capacidades necessárias para um futuro de serviços que cumpram as metas de carbono, com oportunidades de trabalho. Uma transição justa implica, por exemplo, que os governos apoiem os trabalhadores, as empresas e as comunidades que se verão afetadas negativamente pela redução das atividades”, afirma o diretor da OIT para a América Latina e o Caribe, Vinícius Pinheiro.
O diretor acredita que os resultados previstos podem ser alcançados a partir de diálogos sociais envolvendo o setor privado, os sindicatos e os governos. Essa aproximação seria, segundo ele, essencial para a elaboração de estratégias a longo prazo que levassem as emissões líquidas de carbono a zero, contribuindo, assim, para a desigualdade e atender aos objetivos de desenvolvimento sustentável.
O advogado especialista em Direito Internacional, Ariel Sangaletti, acredita que essa relação que aumenta a empregabilidade a partir de políticas de redução de emissões líquidas de carbono é possível. Segundo ele, essa meta será atingida a medida em que países signatários de acordos, protocolos e tratados internacionais se manifestarem a favor das diretrizes impostas por essas medidas.
“Se a proposta for viável para os países participantes desses eventos, com certeza haverá engajamento por parte dessas nações. Todavia, em 2015, nós tivemos o acordo de Paris, que veio para reafirmar a Emenda de Doha, que previa justamente as medidas de redução de gases de efeito estufa, mas, houve uma polêmica acerca da saída do acordo dos Estados Unidos e Brasil. Então, tudo isso só terá uma efetiva mudança se houver um esforço mútuo desses países”, pontua Sangaletti.
“Existe uma necessidade de recuperação sustentável. Inclusive, no aspecto intelectual, é uma prática muito mais comum nos países desenvolvidos, como Suécia, Dinamarca, Suíça e Alemanha, em que a promoção de mudanças culturais quanto ao meio ambiente já vem desde a educação base. Essa foi a saída de países mais desenvolvidos para conseguir promover tais mudanças”, complementa o advogado.
Dietas mais saudáveis
O relatório também chega a resultados de interferência em hábitos alimentares da sociedade. As informações são de que há tendência de redução do consumo de carne e de laticínios, ao mesmo tempo em que aumenta o de alimentos à base de plantas. Essa relação, inclusive, levaria o setor agroalimentar da região a criar cerca de 19 milhões de empregos em período integral. Haveria, portanto, uma compensação na redução prevista de 4,3 milhões de empregos nos setores de pecuária, avicultura, laticínios e pesca.
Para o especialista em Meio Ambiente, Charles Dayler, toda essa alteração acarreta em mudanças nos modelos de produção de alimentos. Segundo ele, já é possível observar essas alterações que vão, inclusive, demandar novas especializações profissionais.
“Se formos analisar a questão de produção orgânica, hidroponia, por exemplo, que surgem para atender mercados que não são atendidos pela agricultura convencional, estaremos gerando uma necessidade de uma mão de obra mais especializada”, avalia Dayler.
O estudo apresenta, ainda, um plano com sugestões que podem ser adotadas pelos países no sentido de criar novos empregos e promover a transição para alcançar zero emissões líquidas de carbono. Sobre isso, estão inclusas políticas públicas para viabilizar realocação de trabalhadores, oferecer novos modelos de negócios e melhorar a proteção social e o apoio às pessoas deslocadas.