Com recordes diários de novos casos, o Distrito Federal supera 172 países em número de mortes por Covid-19. Um dos dados que mais impressionam é o fato de o Japão, por exemplo, cuja população é 42 vezes maior do que a do DF, com 126 milhões de habitantes, ter contabilizado 1.052 mortes até esta terça-feira (11). O DF, com 3 milhões de habitantes, ultrapassou 1.760 mortes até esta terça-feira.
Essa comparação foi feita pelo jornal Metrópoles, que, segundo informa em matéria do site, coletou os números de mortes do DF nos boletins oficiais da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) e compilou dados dos outros países do portal Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. No caso do Brasil e do DF, todos os números são subnotificados por causa da falta de testagem em massa e até de informações das Secretarias de Saúde estaduais e municipais.
O fato é que, na manhã desta terça-feira (11/8), os dados da SES-DF mostram que o DF registrou 31 novas mortes nas últimas 24 horas decorrentes da doença, totalizando 1.752 óbitos por Sars-CoV-2. Dessas vítimas fatais, 1.591 são moradoras da capital federal. Levantamento da Secretaria de Saúde, divulgado às 18h de segunda-feira (10/8), dá conta de que a cidade já soma 126.069 infectados. Entre a noite de domingo (9/8) e a tarde de segunda-feira (10/8), surgiram 159 novos casos da doença.
Nas últimas 24 horas, entre segunda (10) e terça (11), 3.012 pacientes receberam diagnóstico positivo para a infecção pelo novo coronavírus, o que aumenta ainda mais o contingente de contaminados, revela que esse é o maior número desde o início da pandemia e indica que esta é a pior semana da crise sanitária desde o início da pandemia do novo coronavírus, podendo piorar nos próximos dias. Os registros mostram que o DF é a unidade da Federação cujo número de mortos por Covid-19 ultrapassa os óbitos contabilizados em 172 países, dos quais 96 tem mais de 3 milhões de habitantes, a quantidade da população do DF.
Retorno às aulas
Apesar disso, a Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEEDF) mantém um calendário de volta às aulas presenciais na rede pública de ensino que irá piorar em centenas de vezes a situação de contágio e mortes pelo novo coronavírus na capital do País. Com essa atitude, o governador Ibaneis Rocha, do MDB, dá uma lição de irresponsabilidade com a retomada das aulas. Essa situação preocupa a todos, sobretudo a pais, mães e responsáveis por quase meio milhão de estudantes da rede pública de ensino.
Também tem angustiado e adoecido todos(as) os(as) trabalhadores(as) do magistério público e privado do DF. Não é para menos. Análise de dados do Metrópoles mostra que o DF passou de uma média de 17 mortes a cada 24 horas, registrada no último dia de junho, para 32, em agosto, aumento de quase 90% no último mês. O levantamento do jornal aponta ainda que, ao ultrapassar a marca de 106 mil infectados pelo Sars-CoV-2, o DF teve um crescimento de 2,1 vezes, enquanto dados do Brasil inteiro aumentaram 1,8 vez.
Jonas Lotufo Brant de Carvalho, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), disse ao jornal que “a situação é grave porque, no início, tínhamos implantado algumas medidas de enfrentamento à disseminação do vírus; agora, a gente não está trabalhando com elas, estamos focados em aliviar as consequências da doença em quem já está contaminado”.
Política da omissão
A falta de dados reais e corretos é um tipo de ação política típica de governos militares autoritários. Contudo, a tragédia é tão profunda que alguns números escapam ao controle dos censores do governo federal e revelam como a pandemia se tornou tragédia no DF. A imprensa revelou, na manhã desta terça (11), que o Ministério da Economia, comandado pelo banqueiro Paulo Guedes, identificou 1.876 servidores da Esplanada dos Ministérios contaminados pelo novo coronavírus, mas “não sabe dizer” quantos morreram. Essa é a política da omissão que descuida dos servidores públicos e ameaça os 3 milhões de moradores do DF.
O silêncio dos enlutados não é capaz de comover nenhum gestor público. Até parece que estão amordaçados. O GDF, por sua vez, com ouvidos apenas para o barulho dos negacionistas, empresários e maus gestores públicos do governo federal, faz de conta que o aumento da Covid-19 e a ampliação do seu alcance na cidade não é nada e “toca a vida”, como disse o Presidente da República no dia em que o Brasil ultrapassou as 100 mil mortes por Covid-19, como se nada estivesse acontecendo.
A reabertura das escolas com atividades presenciais irá transformar a tragédia anunciada em crime de lesa-humanidade porque irá afetar mais da metade da população da capital. O risco, segundo projeções do Sinpro-DF com base nos números da Covid-19 apresentados pela SES-DF, é de que mais de 2 milhões de pessoas sejam contaminadas pelo novo coronavírus com a reabertura das escolas.