Na entrevista ao repórter Roberto D’avila, na Globonews, José Dirceu destacou que o país precisa de um projeto político para o seu futuro de nação pujante e reclamou que a elite nacional não tem – nunca teve – esse projeto, que será necessário construir, para maioridade do Brasil no concerto das nações em um mundo multipolar, na linha do BRICS.
O ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula (2002-2006) deixou claro, no entanto, que sem essa elite, aliada ao capital externo desde sempre, não é possível ir adiante, porque ela, sendo a direita que sempre se aproxima da ultradireita fascista, quando é necessário preservar o poder, como aconteceu na eleição de Bolsonaro, precisará ser atraída pela esquerda mais aliada ao centro, para lhe dotar de pendor nacionalista, comprometido com o futuro nacional.
O x da questão, portanto, é a aproximação da esquerda do centro para evitar que esse centro vá para a direita e, no limite, escorrega para a ultradireita, destino do fascismo, expresso no bolsonarismo.
O centro-direita, como já se referiu em declarações à mídia, é o foco de Dirceu, para juntá-lo às forças progressistas, ideologicamente identificadas com um centro-esquerda, comprometido com um projeto nacional de médio e longo prazo.
É o que, historicamente, aconteceu com a direita nos países capitalistas desenvolvidos, especialmente, na linha não propriamente social-democrata, mas liberal democrata.
Seria mera retomada de um passado que foi engolido pelo capitalismo ultra financeiro, depois da queda da União Soviética e ascensão do neoliberalismo, no rumo do imperialismo descrito por Lenin como fase superior do capitalismo, cuja essência é a guerra, colocada, agora, em risco pelo avanço do multilateralismo capitaneado por China e Rússia, na construção do BRICS, já ultrapassando o G7?
CRESCE DIREITA PRÓ-CHINA
Os conservadores de direita e ultradireita no Brasil, pragmáticos por excelência, percebem que o futuro brasileiro – e latino-americano em geral – não está mais no ocidente anglo-saxão unilateralista, imperialista, puxado pelos Estados Unidos, em crise fiscal irreversível, com moeda de guerra, o dólar, comprometido pelo superimperialismo, mas pela China que consome suas mercadorias primárias e semielaboradas, com compromisso de transferência cooperativa de tecnologia, por meio da filosofia comercial do BRICS, capaz de impulsionar industrialização.
Trata-se, portanto, de uma direita – puxada pelo agronegócio – forçada a se esclarecer pela realidade dos fatos segundo os quais é mais negócio estar ao lado dos chineses do que dos americanos, revertendo contexto histórico, como vem acontecendo desde o final do século 19, quando os Estados Unidos ultrapassaram a Inglaterra e sua libra esterlina.
Essa direita, em processo pedagógico de educação econômica cooperativa disseminada pelo capitalismo chinês, comandado pelo partido comunista, vê, agora, mais vantagem estar ao lado da China, consumidora dos seus produtos do que alinhada ao capitalismo imperialista americano que, seja quem for o vencedor lá, Trump ou Kamala, partirá para o protecionismo comercial, elevando tarifas alfandegárias, cujas consequências, para as exportações brasileiras, serão desastre.
Nesse sentido, tende-se a aproximar o campo entre o centro-esquerda brasileiro – e latino-americano – e o centro-direita, que domina a correlação de forças, conforme resultado das eleições municipais.
Tal aproximação favorece, no entendimento de José Dirceu, pelo que tem expressado, a construção de projeto de nação para modernização do capitalismo nacional, pela elaboração de novo perfil social numa linha econômica anti-neoliberal, heterodoxa, capaz de ultrapassar o neoliberalismo fascista que domina o país desde o golpe de 2016, que derrubou a ex-presidenta Dilma Rousseff.
PEC FISCAL, NOVO CONSENSO À VISTA
O processo histórico, evidentemente, não é linear e comporta negociações que precisarão ser construídas passo a passo por um novo centro-esquerda em aproximação com novo centro-direita, atualmente, majoritário no Congresso.
Nesse sentido, a proposta do presidente Lula de conduzir a política econômica, de agora em diante, mediante Proposta de Emenda Constitucional – PEC –, para tocar o ajuste fiscal, compatível com o desenvolvimento econômico com justa distribuição de renda, será o teste de aproximação do centro-esquerda com o centro-direita, majoritário no parlamento.
As forças de centro-direita, para alcançar o poder, seu objetivo central em 2026, dificilmente, serão vitoriosas mediante neoliberalismo anti social, anti-povo, anti desenvolvimento, pró-fascismo, na linha bolsonarista.
Porém, se elas, pragmaticamente, negociarem com o centro-esquerda, como defende José Dirceu(de volta à articulação política, depois de resgatado pelo STF, na decisão do ministro Gilmar Mendes, de cancelar seus processos na Operação Lava Jato e no Petrolão, tudo armação do fascismo tupiniquim para eliminar sua atuação política), haveria ou não possibilidade de construção de um novo consenso nacional, sintonizado, dessa vez, com a nova geopolítica multipolar do BRICS, distanciando-se da geopolítica unilateralista fascista do imperialismo, que não atende interesse nacional, com vista à construção de novo projeto nacional, voltado à integração econômica latino-americana, na linha da Constituição de 1988?
Foto – Agência Brasil
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site Independência Sul Americana.