No começo do mês uma autointitulada Informa Connect Academy (“Academia da Informa Conexão”, em tradução literal) anunciou em seu relatório “Clube do Trilhão de Dólares 2024”, que o multimilionário Elon Musk está a caminho de se tornar o primeiro trilionário do mundo.
Essa “academia”, que com esse nome tenta assumir uma sofisticação intelectual que provavelmente não tem, dedica-se a “monitorar fortunas” chegou à conclusão de que Musk está próximo de seu primeiro trilhão de dólares – e vai chegar a ele já em 2027 – porque sua fortuna vem crescendo à média anual de 110%.
Mais reveladora e impressionante do que estar tão próxima a expectativa da primeira fortuna trilionária do mundo é a verificação de que a montanha de dinheiro de Musk mais do que dobra de tamanho a cada ano.
E o caso dele não é único. Segundo o mesmo relatório, o indiano Gautam Adani pode ser o trilionário número 2 e chegar ao trilhão de dólares em 2028 se o crescimento médio de sua fortuna permanecer na altura dos 123% verificados nos últimos anos.
Esse fenômeno, de fortunas bilionárias mais que dobrarem de tamanho de um ano para o outro é mais um desdobramento do processo de concentração de renda em escala planetária que em nossos dias se agrava não só de ano para ano, mas de momento a momento. Nesta fase do capitalismo, a tecnologia possibilita e estimula ganhos instantâneos de capital nas mais obscuras operações financeiras.
Não contente em ser o homem mais rico do mundo e estar prestes a tornar-se o primeiro trilionário da história, Musk ainda quer ter um papel de protagonista em todas as manchetes.
Ele, por exemplo, já se meteu com tal ímpeto na campanha presidencial dos Estados Unidos que já está publicamente convidado para aquele que será o cargo de mais poder no governo Trump, se Trump voltar à Casa Branca: o de presidente de uma comissão de eficiência do governo, com poderes amplos para cortar gastos, fechar órgãos e programas governamentais e promover demissões em massa.
Em seguida, bastou Taylor Swift declarar apoio a Kamala Harris (e com isso levar imediatamente mais de 300 mil pessoas a acessarem o site de registro eleitoral) para Musk improvisar seu showzinho de exibicionismo, com um post em que se oferecia para nada menos que engravidá-la – post que naturalmente viralizou na mesma hora, mais pelo prestígio dela que pelo dele:
– Muito bem, Taylor… Bom proveito.. Vou dar uma criança a você e tomar conta de seus gatos com todo o meu empenho.
Se Taylor estava ou não disposta a ter um filho – e um filho dele – foi coisa que não passou pela cabeça de Musk.
Musk é pai de 12 filhos – um inclusive com um nome escolhido por ele que é uma combinação de letras e números que parece a senha para abrir um cofre-forte – e não se deu ao trabalho sequer de explicar a Taylor como pretende engravidá-la, se tendo um caso com ela ou por inseminação artificial.
Aliás, Musk tem sido protagonista de notícias e boatos – talvez espalhados por ele mesmo – em que sempre aparece como um super-doador de esperma, até para os cem primeiros seres humanos a nascerem no planeta Marte quando ele liderar a marcha para essa migração interplanetária.
Enquanto Musk navega nesses delírios, o pobre Trump, tem de contentar-se com a condição de bilionário zinho de última ordem, só neste ano admitido na lista de super e sub bilionários da revista Forbes. Essa tardia admissão explica por que Trump lutou tanto para evitar a publicação de suas declarações do imposto de renda: não era porque ele precisasse esconder ganhos criminosos, era porque elas deixavam claro que ele não era tão rico quanto se proclamava.
Agora esses dois espécimes do pior do capitalismo contemporâneo estão unidos na campanha presidencial dos Estados Unidos sem que se possa dizer qual é o pior.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.