Uma crítica à questão demográfica apontada no Censo 2023
“A população do Brasil atingiu, em agosto de 2022, 203.062.512 (203 milhões) habitantes. Desde 2010, quando foi realizado o Censo Demográfico anterior, a população do país cresceu 6,5%, ou 12.306.713 pessoas a mais. Isso resulta em uma taxa de crescimento anual de 0,52%, a menor já observada desde o início da série histórica iniciada em 1872, ano da primeira operação censitária do país” (Ministério do Planejamento e Orçamento, 28/06/2023).
Além de todas mazelas, nos falta memória. A pedido do Ministro da Justiça do Império, Eusébio de Queiroz Matoso Câmara, o médico Roberto Jorge Haddock Lobo realizou, em 1849, o levantamento populacional da sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro. O que nos importa neste levantamento, possivelmente com alguma falha metodológica ou técnica, é revelar que a capital do “Império do Brazil” era povoada, majoritariamente, por escravos: 41,2% de africanos e 13,5% de brasileiros.
O professor de História, da Universidade da Califórnia, Thomas H. Holloway tem, no entanto, a seguinte avaliação do trabalho do doutor Haddock Lobo: “Durante a segunda metade de 1849, foi realizado o primeiro levantamento demográfico do Rio de Janeiro feito em moldes modernos, com questionários distribuídos e recolhidos em todo o Município Neutro seguido por uma apuração minuciosa dos dados estatísticos. O diretor da tarefa, Roberto Jorge Haddock Lobo, escreveu um ensaio introdutório que é, em si, um valioso documento histórico. Haddock Lobo fez comentários detalhados sobre a importância de estatísticas precisas, e descreveu os procedimentos pelo qual se realizou o recenseamento. O propósito deste prefácio não é de repetir nem de substituir as observações tão instrutivas e reveladoras de Haddock Lobo”, Holloway prossegue comentando, em 1988 (historia_demografica.tripod.com/bhds/bhd50/thrj.pdf).
Um país de escravos não é apenas nódoa que não se tira da vida de um povo; deforma também, para os senhores, a compreensão do outro, gera a falta de humanidade, que produz a sociedade doente, apta a receber a exclusão do “Consenso de Washington” com tranquilidade e deixar à mingua, sem vacina, com fome e sem teto toda a população do País.
MENSAGEM DO CENSO
O que podemos adicionar a este mais recente censo? Que o Brasil, como um todo, aquele que populacionalmente crescia, que foi exportador de manufaturados, se desenvolvia tecnológica, econômica e socialmente, via o futuro com esperança, não mais quer ter filhos. Os que ainda os têm, se esforçam para exportá-los, na expectativa de que, fora do Brasil, eles viverão melhor.
Se for da classe média, ou melhor provido de meios, cursa universidade no Brasil, forma-se engenheiro, e será angariador de fundos, vendedor de ilusões, para seus pais, parentes, amigos e colegas, ou, neste mundo globalizado, qualquer outro de formação ideológica semelhante, para interesse e proveito de banco internacional, ou nos Estados Unidos da América (EUA), ou na Argentina ou na longínqua Cingapura. E o Brasil, que o sustentou por toda a vida estudantil, ao chegar à vida adulta o perde como colaborador do desenvolvimento nacional. E isso nos ocorre desde 1980, quando sentimos aqui a desregulação financeira, formadora do decálogo escravista, o “Consenso de Washington” (1989).
Caros leitores, essa é a realidade, não decorre de qualquer ideologia, nela estão mergulhados a direita bolsonarista, a falsidade da esquerda identitária, ambientalista, financiada por Soros & Ford & Bilderberg e mesmo os comunistas, que ainda hoje lançam pedras em Getúlio Vargas.
O Brasil sofreu, como toda América Latina e é o que nos une e deveria construir nosso processo conjunto de libertação, a colonização de duas potências do atraso: os reinos ibéricos e a igreja católica.
Pode-se imaginar os primeiros povos brasileiros, amigáveis na grande maioria, compostos, em toda faixa costeira das tribos tupis (conforme Mapa organizado pelo Museu Nacional), aqui e ali com algumas características mais agressiva, como os cariris, mais para o interior e do grupo tapuia, vivendo em condições climáticas menos favoráveis, ao receber os fedorentos, estranhos e todos vestidos portugueses, sedentos de sexo, algo tão natural para aquelas populações.
O antropólogo estadunidense Clark David Wissler elaborou o mapa das áreas de alimentação das Américas, reproduzido por Arthur Ramos (“As culturas indígenas”, 1943), onde o Brasil está situado na área da mandioca. Isso pode nos dar o grau civilizacional do nosso índio, não o do caçador coletor, mas já no estágio da agricultura.
Toda a mais avançada área andina, dos maias e astecas aos incas, está identificada como “de agricultura intensiva”, contrastando com as pradarias argentina e central do atual EUA, como “áreas de caça” (guanaco, bisão, caribu).
É sempre complexa e discutível a formação cultural de qualquer povo, especialmente de um povo miscigenado, como é o brasileiro. Porém não resta dúvida que a cultura fundiária, dos portugueses, e a extraterrena, dos jesuítas, foram basilares para a pedagogia colonial que formou os brasileiros.
Estamos mais por misticismo do que por fé, entregando nosso futuro a “Deus”, assim como aceitamos que os donos da terra, os que representam o poder, sabem o que fazer, no mínimo, melhor do que nós.
Esta base cultural, que nos chega inconscientemente desde o nascimento e é reforçada pela educação formal, pelas comunicações de massa, pela pressão da sociedade se torna a grande responsável por nosso atraso.
Como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Felipe Maruf Quintas, Fernando Corrêa de Sá e Benevides, e outros estudiosos da sociedade brasileira já apontaram: o Brasil cresceu em poucos momentos, quase sempre com governos autoritários, que enxergaram, divisaram o instante de oportunidade, e corajosamente enfrentaram as forças do atraso e impuseram o desenvolvimento nacional. E os vencedores de sempre, pois o Brasil continua colônia neste século XXI, irão se referir a estes heróis nacionais como ditadores, chamariam de corrupto se lhes fosse possível, porque pessoas desta fibra não visam seus interesses mas os da Nação.
Sob a condução do “Consenso de Washington”, o Brasil que precisaria hoje ter, no mínimo, o dobro, quiçá o triplo da população, para conduzir desenvolvimento compatível com sua riqueza natural, encolhe proporcionalmente, senão contabilmente.
SOB DIREÇÃO DAS FINANÇAS
O domínio das finanças é o da concentração, mais riqueza e renda para cada vez número menor de pessoas. Portanto, o fator demográfico é um dos inimigos que este poder apátrida tem a combater. Já afirmei outras vezes que esta luta é ainda mais importante porque é mais avassaladora na manutenção do status financeiro.
Examine, caro leitor, apenas neste século de 23 anos de idade, quantos vírus já foram identificados, já causaram mortes e consequências graves nas populações em todo mundo? E sua proliferação não se deu pelos avanços nas ciências relacionadas às epidemias, que nem foram tão notáveis nestes últimos 50 anos.
As pesquisas são no sentido de desenvolvimento de vírus em ritmo superior a descoberta de vacinas. Nesta guerra da OTAN contra a Rússia, travada na Ucrânia, foram descobertas meia dúzia de laboratórios, orientados por farmacêuticas estadunidenses e europeias, próximas à fronteira com a Rússia. Por que?
A pedagogia colonial tem feito sua parte no Brasil, com a redução do número de crescimento populacional. O ex-presidente Bolsonaro e sua equipe de governo também fizeram a sua, retardando a compra/fabricação de vacinas, criando cortinas de fumaça em torno do covid 19 e outros crimes a investigar.
Como João Fragoso e Manolo Florentino, dois excepcionais historiadores brasileiros deram título a um de seus livros, “o arcaísmo” aqui não é um acaso, é um “projeto”: a reprodução da sociedade colonial, transformando, cada vez mais, os trabalhadores em escravos, em “ubers”, em “MEI”, e com o Supremo Tribunal Federal (STF) e tudo retirando direitos previdenciários de pensionistas viúvos.
Celso Furtado (“Formação Econômica do Brasil”, 1959/1976): “a Colônia estava integrada nas economias europeias, das quais dependia. Não constituía, portanto, um sistema autônomo, sendo simples prolongamento de outros maiores”. Soberania, zero; autonomia, nenhuma.
É a leitura que fazemos deste CENSO 2023: um Brasil que regride, que é governado por interesses estrangeiros, nem de um país mas de um sistema, ainda mais cruel, o financeiro apátrida com grande participação de capitais marginais.
Não serão eleições, com “centrões”, rituais inconsequentes, que mudarão esta triste realidade, é a consciência do povo, é entender que este poder que nos governa é nosso inimigo, só um sistema nacional, construído no Brasil, entregue a nacionalistas poderá nos libertar, nos fazer crescer, começando pela população.
(*) Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), Consultor das Nações Unidas (UN/TCDD) e, atualmente, preside a AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás.
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