Reli recentemente “Aprendendo com a própria história”, de Paulo Freire e Sérgio Guimarães, edição esta ampliada, Clodomir Morais entrevistado pelo mesmo Sérgio, nuns bate-papos em Porto Velho, Rondônia.
Pela metade do livro, precisamente na página 86, o Patrono da Educação Brasileira se refere a três brasileiros de alto quilate político e sociocultural: Plínio de Arruda Sampaio, Thiago de Mello e Francisco Weffort.
Com cada um deles tive contatos de distintas maneiras. Nas linhas que se seguem vou me limitar a relatar como se deu meu encontro e subsequentes diálogos com o primeiro dos três.
Ao desembarcar, em inícios de abril de 1981, no Aeroporto Internacional Augusto César Sandino, Manágua, Nicarágua, fui mais uma vez recepcionado por ninguém menos que Clodomir Santos de Morais.
Honor intraducible en palabras, hermano!!!
No trajeto entre o aeroporto e a residência no bairro Las Colinas, em dado momento ele me disse:
— Olha, você vai conhecer logo mais um grande cara, foi chefe de gabinete do governo Carvalho Pinto (São Paulo), é um dos maiores expertos em questão agrária na América Latina. Plínio Sampaio se chama ele.
A amizade entre nós se criou já no primeiro contato. Morais certamente teria comentado pra ele acerca da minha atuação na Biblioteca Campesina e no jornal O Posseiro.
Como Plínio era muito religioso, tendo sido um dos grandes dirigentes do Partido Democrata Cristão, fui encarregado por Morais para levá-lo a uma missa dominical.
Eu já conhecia a capital nicaraguense desde 1980, de forma que cumprir essa tarefa seria moleza pra mim.
Levei o novo amigo ao bairro operário de Santo Domingo, acompanhei-o até a calçada, ele adentrou na igreja e eu fui curtir umas biritas num boteco nas cercanias enquanto apreciava a exuberante paisagem humana feminina barrial.
Terminada a missa, nos reencontramos, ele retado da vida porque quem comandou a homilia foi monsenhor Obando Y Bravo, arqui-inimigo da Revolução Popular Sandinista.
Já da moeda, córdoba, ele gostou muito, pois nela aparecia cunhada a inscrição “En Dios Confiamos”, plágio em espanhol do que se lê no dólar americano “In God We Trust”, coisas de colonizado.
Nas nossas conversações em casa de Morais e sua esposa Célia Lima, o grande intelectual ia, com muito jeito e clareza, me cooPTando, integibilizou leitor?
O partido tinha sido fundado no anterior em São Paulo.
As argumentações do grande agrarista foram tão convincentes que voltei a Santa Maria já decidido: oPTei!, citando essa sacada genial do grande publicitário e filósofo popular Carlito Maia.
Com algumas e alguns companheir@s demos o arranque a uma série de reuniões visando criar a referida agremiação partidária.
O projeto foi abortado por uma ala que considerava cedo, “a repressão podia cair em cima”; um deles propôs que deixássemos para depois. Papo de cerca-lourenço, como descobri na sequência.
Algum tempo depois, questão de semanas, fiquei sabendo que criaram o PT à minha revelia. Não queriam comunista no partido. Em decorrência disso fiquei impedido de atender a sugestão de um dos principais fundadores nacionais do partido de Lula.
No Chile, exilado, Plínio sempre foi solidário com os recém-chegados brasileiros em dificuldade; como escreveu numa carta Idalina Piau pro filho Clodomir “o exílio é uma espécie de prisão por fora, no qual sempre se sentirá sem liberdade”. [“Cenários da Libertação – Paulo Freire na prisão, no exílio e na universidade”, de Clodomir Morais, Expressão Popular, p. 115]
Cito um exemplo: sabedor de que Morais e Célia estavam desempregados em Santiago, era ele, o próprio Plínio, quem pagava as refeições no restaurante que o casal costumava frequentar, sem que soubessem quem estava bancando secretamente. Muitos pratos rolaram até ficaram cientes de quem era o fi-de-deus que andava praticando aqueles gestos de solidariedade
Voltando a América Central. Da Nicarágua Plínio Sampaio seguiu para Kingston, Jamaica, a fim de prestar consultoria para a FAO-Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ph.D. da zorra!
Me contou num dos bate-papos que, apesar de não ser comunista, foi encarregado pelo governador para recepcionar o comandante Fidel Castro no Aeroporto Internacional de Viracopos, o que fez com muito prazer, segundo suas próprias palavras; Fidel fez escala em Campinas, vindo da Argentina rumo à Cuba, Revolução Cubana nos seus primeiríssimos anos.
Assim que assumiu a presidência da República, Lula atribuiu a Plínio de Arruda Sampaio o comando da elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária, PNRA.
E em 2010 ele foi candidato a presidente pelo PSol.
A releitura do “Aprendendo com a própria história” me propiciou, portanto, um reencontro com momentos históricos que influenciaram na folha de rota e nos planos de voo da minha trajetória.
Biblioteca Campesina, 13 maio 2023.
(*) Joaquim Lisboa Neto, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.
SEJA UM AMIGO DO JORNAL BRASIL POPULAR
O Jornal Brasil Popular apresenta fatos e acontecimentos da conjuntura brasileira a partir de uma visão baseada nos princípios éticos humanitários, defende as conquistas populares, a democracia, a justiça social, a soberania, o Estado nacional desenvolvido, proprietário de suas riquezas e distribuição de renda a sua população. Busca divulgar a notícia verdadeira, que fortalece a consciência nacional em torno de um projeto de nação independente e soberana. Você pode nos ajudar aqui:
• Banco do Brasil
Agência: 2901-7
Conta corrente: 41129-9
• BRB
Agência: 105
Conta corrente: 105-031566-6 e pelo
• PIX: 23.147.573.0001-48
Associação do Jornal Brasil Popular – CNPJ 23147573.0001-48
E pode seguir, curtir e compartilhar nossas redes aqui:
https://www.instagram.com/jornalbrasilpopular/
️ https://youtube.com/channel/UCc1mRmPhp-4zKKHEZlgrzMg
https://www.facebook.com/jbrasilpopular/
https://www.brasilpopular.com/
BRASIL POPULAR, um jornal que abraça grandes causas! Do tamanho do Brasil e do nosso povo!
Ajude a propagar as notícias certas => JORNAL BRASIL POPULAR
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.