Até ontem, entre as inúmeras mentiras de campanha e de governo, havia uma deslavada “fake news” de que Bolsonaro não tinha nada a ver com o Centrão – um conjunto de partidos que sempre apoia governos, desde que receba muitas verbas e cargos para montar suas estruturas de campanha eleitoral.
Em 27/5/2018, o presidente disse que a palavra “Centrão”era o mesmo que um palavrão. Que o grupo foi “satanizado” e que os deputados deveriam se desvincular “disso aí”. Em 15/6/2018, afirmou que, na disputa eleitoral, o “Centrão” estava contra ele “em nome do patriotismo e da ética”.
Bolsonaro enganou muita gente que estava a fim de ser enganada. Mas, todos os que votaram em Haddad sabiam que o medíocre deputado Jair Bolsonaro sempre fez parte do Centrão, em troca de migalhas, rachadinhas e coisas do gênero.
A partir de ontem, o “Centrão” passou a mandar no governo, oficialmente, com a nomeação do Senador Ciro Nogueira, para chefiar a Casa Civil, onde passam todas as ações de governo. Outras nomeações de membros do Centrão virão em seguida. Os generais de plantão no governo já avisaram que não estão gostando nada disso. Afinal, ele lutaram muito para chegar onde chegaram. Como todos sabem, a elite brasileira civil e militar se juntou ao Departamento de Estado dos EUA e deu golpe de estado destituindo a presidenta Dilma, condenando e prendendo o ex-presidente Lula – sem processo legal e sem provas –, tirando-o da disputa eleitoral e abrindo o caminho para o crescimento do projeto fascista e neoliberal representado por Jair Bolsonaro. Que começou mal, promovendo desemprego e redução de renda, bem como aumento da miséria e a volta da fome aos lares brasileiros.
A partir da pandemia do coronavírus, a situação piorou muito, com o atingimento de quase 600 mil mortos e milhões de pessoas sequeladas pela Covid-19. Tudo isso pela atitude do governo Bolsonaro de não informar ao povo os riscos das aglomerações – ao contrário, estimulou que elas ocorressem –, da necessidade de uso de máscaras o tempo todo e da inutilidade do tratamento precoce, com cloroquina e outras bobagens letais. Culminando com a adoção de política visando ao contágio massivo, em busca da fantasiosa imunidade de rebanho e, finalmente, transformando a aquisição de vacinas – único remédio eficaz para combater o coronavírus – numa busca desenfreada por ganhos de propina e de comissão, no leilão de horrores em que se tornou essa ação do governo Bolsonaro.
A CPI da Covid-19 está mostrando tudo isso com muita clareza e fartas informações. O que seria o suficiente para abertura de processo de impeachment e condenação e prisão dos envolvidos.
A elevada rejeição ao presidente Bolsonaro só faz aumentar as possibilidades de Lula vencer as eleições no primeiro turno, no ano que vem.
Nesse quadro, a elite brasileira mostra a cada dia que tudo fará para impedir: que Lula seja candidato, que vença as eleições, que constitua uma grande base no Congresso Nacional e que garanta um grande número de governadores(as) aliados(as) e, com isso, leve o país de volta ao crescimento e redução das desigualdades, desfazendo, inclusive, parte do desmonte do estado e dos direitos sociais, da Constituição Federal, elaborada em 1988.
Num derradeiro gesto de desespero, Bolsonaro faz aliança concreta com o Centrão, para impedir o impeachment e aumentar as ações de governo, com cargos e dinheiro a rodo. Ao mesmo tempo em que ameaça não ter eleições, visando estimular os militares a apoiá-lo na cruzada de novo golpe, com decretação de estado de sítio, única forma de Bolsonaro continuar no poder.
O presidente tem um último cartucho: uma renúncia negociada, em que resolveria todos os processos contra ele e seus filhos, continuando elegível e podendo tentar a eleição ao Senado, num estado em que tem total domínio eleitoral.
A luta está apenas se iniciando. Bolsonaro precisa ser afastado do poder. Mas parte significativa da população quer mais que isso e por isso milhões de brasileiros estão indo às ruas pedindo vacina, renda e impeachment de Bolsonaro. Tudo ao mesmo tempo, de preferência.