Censo da Educação Superior do MEC mostra que maioria das matrículas do EaD está no ensino privado: 73% dos novos alunos
O Censo da Educação Superior, divulgado nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revela a crescente participação do Ensino à Distância (EaD) na formação dos brasileiros. Mais de 4,9 milhões de pessoas ingressaram em cursos de graduação em 2023, sendo 88,6% (4.424.903) na rede privada e 11,4% (569.089), na pública. Do total, a modalidade EaD representou 66,4% (3.314.402), e os cursos presenciais, 33,6% (1.679.590).
Os dados demonstram que o EaD tem ampliado o alcance da educação superior em todo o Brasil. Em 2023, a matrícula na modalidade EaD estava presente em 3.366 municípios brasileiros, por meio de campi das IES ou de polos EaD. Um aumento de 96% quando comparado com 2014. Somente 6,6% das cidades hoje não contam com educação superior.
“Os dados demonstram, sem sombra de dúvidas que a modalidade à distância democratizou o acesso ao ensino, atingindo regiões remotas e possibilitando a formação a uma parcela da população que tem mais dificuldade de estudar, pois não tem tempo para cindo dias de estudos semanais presenciais”, avalia o consultor de políticas educacionais da Fundação de Apoio à Tecnologia (Fundação FAT), Francisco Borges.
Idade média no EaD é maior
O EaD supera o ensino presencial em geral, mas na rede pública a maior parte dos ingressos ocorreu nas graduações presenciais: 85%. Na rede privada, 73% dos ingressos foram na modalidade EaD, mostra o Censo.
Outro ponto de destaque, segundo Borges, é o fato de os alunos do EaD serem mais velhos em média que os do presencial. “São pessoas com idade média maior, que trabalham e, por esse motivo, demoram mais para concluírem o curso. Mas, ao mesmo tempo, o que vemos é que eles têm o mesmo percentual de conclusão que o presencial. Em outras palavras, o EaD é para os alunos mais velhos e mais comprometidos”, destaca.
De acordo com Borges, o resultado apresentado deve servir de embasamento para que o MEC entenda a importância da modalidade de EaD como instrumento de democratização do ensino. “O atual ministro da Educação, Camilo Santana, tem construído moinhos para atacar, e um deles tem sido o EaD. É esperado que um governo de esquerda seja focado na inclusão. E colocar-se contra o EaD é ser contra a inclusão social. Isso é exatamente o que a modalidade proporciona em um país de dimensão continental e com diversidades enormes”, conclui.
EaD deve superar ensino presencial este ano no total de matrículas
O número total de estudantes dos cursos de ensino superior no Brasil, contando tanto os presenciais quanto os da modalidade a distância, cresceu 5,6% em 2023 na comparação com 2022. Segundo o Ministério da Educação, com base no Censo de Educação Superior, são 9,9 milhões de alunos matriculados, o maior registrado em nove anos.
O censo traz também que existem hoje 4,9 milhões de matrículas nos cursos EaD, o que representa 49% do total. Para o Inep, as projeções apontam que neste ano os estudantes nos cursos de educação a distância devem superar os matriculados em cursos presenciais. Hoje a diferença entre as duas modalidades é de apenas 150.220 matrículas.
Escolas federais e educação profissional
Pela primeira vez o Censo do MEC apresenta uma análise sobre o acesso à educação superior logo após a conclusão da educação básica. A rede federal, assim como a privada e o ensino médio articulado à educação profissional e tecnológica são mais eficientes em levar o estudante diretamente (no ano seguinte) do ensino médio para o ensino superior.
Dos concluintes do ensino médio em 2022, 27% ingressaram na educação superior em 2023. Quando se observam os concluintes do ensino médio de escolas federais, essa proporção sobe para 58%. O comportamento é similar aos concluintes das escolas privadas, com 59%.
Os alunos oriundos de escolas estaduais ficaram abaixo da média: apenas 21% ingressaram no ensino superior logo após concluírem o ensino médio.
Os estudantes que concluíram o ensino médio articulado com a educação profissional (integrado ou concomitante) também tiveram mais facilidade para ingressar na educação superior no ano seguinte. Desse grupo, 44% entraram em um curso de graduação logo após a formatura, outro número acima da média.
Alunos cotistas têm maior taxa de conclusão
De acordo com a pesquisa estatística, os estudantes que acessaram a educação superior federal por meio de cota em 2014 tiveram uma taxa de conclusão maior que a de não cotistas, em uma década (2014– 2023). O Censo revela que, no ano passado, 51% dos alunos cotistas da rede federal concluíram o curso, enquanto o índice entre os não cotistas foi de 41%.
Os indicadores de trajetória, calculados a partir do Censo da Educação Superior, apontaram, ainda, que o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) impactam positivamente no índice de concluintes dos cursos de graduação no Brasil.
Ao analisar os efeitos do Prouni na taxa de conclusão, verificou-se que 58% dos beneficiários concluíram a graduação, no ano passado, contra 36% entre os estudantes que não fazem parte da política. Já o índice de concluintes entre os alunos que contam com o Fies foi 15 pontos percentuais superior ao de quem não utiliza o auxílio: 49% para 34%.