Jorge Arbache ressalta a sabedoria do governo brasileiro em formalizar parcerias importantes, mas sem provocar Europa e Estados Unidos
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Xi Jinping, da China, assinaram 37 acordos bilaterais na última quarta-feira (20), consolidando o tigre asiático como maior parceiro comercial do país.
Para analisar o impacto desta parceria, o programa TVGGN 20H recebeu Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília e ex-vice-presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).
“Não tem como não reconhecer a importância da China para o Brasil e para a América Latina, que é muito grande e isso se traduz nos números que estão aí, sejam números de comércio, mas também de investimentos, seja na presença da China em vários setores críticos para a região. Eu destacaria a questão da infraestrutura e, cada vez, mais a China tem compartilhado tecnologias”, ressalta Arbache.
Apesar da longa agenda do presidente chinês no país, não aconteceu o que o tigre asiático mais almejava, que era a entrada formal do Brasil no Cinturão da Nova Rota da Seda.
“Acordos com China foram firmados, a relação com a China foi reafirmada em um plano ainda mais estratégico, ganhou a China, ganhou o Brasil. O Brasil se protegeu em não ter assinado e não ter entrado formalmente para o Belt and Road, então não provocou Europa e os Estados Unidos, mas por outro lado fez acordos que são tão importantes quanto”, concluiu o professor de economia.
Futuro
Na visão de Arbache, os acordos firmados com o Brasil foram vantajosos para a China, tendo em vista que o Brasil tem o peso da influência de ser ouvido pelos lados A e B. “Isso hoje em dia não é pouco. Nunca foi pouco, mas hoje em dia é mais destacado.”
Outro ganho do tigre asiático foi a influência no Brasil nas discussões sobre descarbonização da economia global, na agenda de segurança alimentar e na agenda de segurança energética. “Não tem como tratar desses assuntos sem que o Brasil esteja na mesa.”
O economista afirma ainda que, atualmente, ter proximidade com o Brasil em tais pautas é “ter proximidade com as soluções que a economia global vai enfrentar”. “O que nos dá uma força que a gente nunca teve na nossa história. jamais tivemos tanto vento a favor como a gente tem agora.”
Infraestrutura
O convidado observou ainda a postura da China, que percebeu que para estreitar as parcerias na América Latina, tem de abrir mais o mercado para a região, além de compartilhar mais tecnologias.
“A grande diferença da China para os Estados Unidos e Europa para a região hoje em dia está no apetite em fazer investimentos em especial em infraestrutura, que é o que a gente mais precisa”, emenda o Arbache.
O maior exemplo deste posicionamento foi a construção do porto multibilionário de Chancay, no Peru. Já em relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China, especialmente após a eleição de Donald Trump para a Casa Branca, Jorge Arbache acredita na disputa pelo protagonismo do mundo.
“A economia do futuro será a economia da descarbonização. E aqui a China partiu muito na frente dos EUA e Europa. Hoje, a China lidera várias cadeias importantes para a economia da descarbonização, como a energia solar, energia eólica, carros elétricos, terras raras, minerais para transição e tantas outras tecnologias”, emenda.
De acordo com projeções de bancos multilaterais e de grandes empresas de consultoria internacionais, a economia da descarbonização deve movimentar até US$ 100 trilhões de dólares até 2050. “A grande corrida é para saber quem vai ser o protagonista, quem é que vai comer esse bolo. Hoje, de maneira inequívoca, a gente pode dizer que é a China”, afirma o convidado.
Por fim, a eleição de Trump deve aumentar o processo de fragmentação do comércio e do investimento a nível global, o que não é favorável para o Brasil. “Por outro lado, esse tensionamento poderá criar oportunidades de comércio para o Brasil em várias áreas, inclusive, que o Brasil concorre com os EUA”, conclui.
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