Em editais anteriores, chamamos o presidente Bolsonaro de bobalhão, menos por considerá-lo bobo de fato, mas sim por entender que ele procura representar esse personagem, para divertir os seus eleitores e desviar o foco dos pífios resultados do seu governo. Mas os fatos vão nos mostrando que bobo ele não é. Ao contrário, é esperto politicamente, tem um plano bem elaborado e dá os passos necessários para atingir seu objetivo estratégico. Que nada mais é do que se tornar um ditador eleito. O que está longe de ser irreal, pois temos exemplos históricos, como o de Hitler.
Em primeiro lugar, ele gostaria de governar por decreto. Nada de passar os projetos de lei pelo crivo do Congresso Nacional. Muito menos ser fiscalizado pelo parlamento. Para governar por fora do Congresso, é fundamental vender a ideia – o que não é difícil, diga-se – de que deputados e senadores são um bando de corruptos e chantagistas. Ainda que por dentro faça negociações com o centrão, para evitar a possibilidade de impeachment.
A segunda ideia é desacreditar o Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal. Os três poderes constitucionais do país são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O nada bobo presidente Bolsonaro quer que os outros dois poderes fiquem o mais possível frágeis, para ele poder reinar absoluto. Quando disse, recentemente, “eu sou a Constituição!”, mostrou claramente sua vocação e seu projeto estratégico de se tornar um ditador eleito, mandando às favas o STF, que é o guardião da Constituição.
Paralelamente a isso, ele não descuida de aumentar o seu poder militar e paramilitar.
Por um lado, encheu de militares a Esplanada dos Ministérios. De outro lado, mantém a sua tropa de fanáticos seguidores – os famosos bolsominions – em permanente estado de mobilização. Ele não adotou o isolamento social – feito no mundo todo – para, prioritariamente, poder manter o seu exército paramilitar de fanáticos em constante atividade nas ruas, destilando ódio e agressões ao Congresso e ao STF, como vemos acontecer todas as semanas. A partir da ruptura com o ministro Sérgio Moro, este tornou-se também objeto de ataque feroz das hordas bolsomínians.
Queremos trazer à reflexão que o maior perigo neste país, para além de morrerem centenas de milhares de pessoas pelo Covid-19, é deixar que Bolsonaro se torne ditador eleito, com muito poder de fogo. A sociedade brasileira, que é majoritariamente democrática, precisa reagir e dar uma resposta à altura.