O telejornal mais importante do País, o Jornal Nacional, da TV Globo, entrevistou os quatro presidenciáveis que melhor aparecem nas pesquisas de intenção de votos, nas eleições de 2 de outubro, à Presidência da República: Jair Bolsonaro (PL); Ciro Gomes (PDT); Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB).
Os presidenciáveis foram abordados dentro do que as âncoras do JN William Bonner e Renata Vasconcellos afirmaram ser a linha adotada para tratar sobre os “temas que marcam cada candidatura”. Ao vivo, sem intervalos e com 40 minutos de perguntas, respostas e considerações finais, a tradicional entrevista com os presidenciáveis teve formato engessado, que não deu margem à checagem de afirmações dos candidatos, conferência de dados e desmascaramento de mentiras. Mesmo assim, as entrevistas dos principais postulantes ao Palácio do Planalto deram uma importante contribuição ao eleitorado, ao estimular os candidatos a falarem sobre questões de extrema relevância, tais como economia, pandemia da covid-19, posição sobre o teto de gastos, combate à violência contra as mulheres, concepções de governos e polêmicas que os envolve. Lula foi o único a falar em investimento em educação.
Veículo alternativo, focado em um público democrático, progressista e que defende causas justas, o Jornal Brasil Popular se permite analisar a entrevista que considerou ser a mais importante para o cenário atual, polarizado entre dois projetos totalmente diferentes, que têm a democracia como centralidade.
Terceiro presidenciável entrevistado do JN, Lula, simplesmente, “jantou” os experientes âncoras com um prato inusitado, o Lula à Chuchu, conhecido há pouco mais de 2 meses, e alcançou uma audiência de 31,4 pontos na faixa de horário de exibição da sabatina.
Surpreendendo Lula e a audiência, William Bonner, que tantas vezes disse e repetiu que Lula não era inocente, abriu a entrevista falando sobre a corrupção na Petrobrás, e afirmou: “O Senhor não deve nada à Justiça”. Afirmação impagável, deve ter pensado Lula, que soube aproveitar como nenhum dos outros três presidenciáveis, os 40 minutos que dispunha para falar. Lula foi estratégico: falou tudo o que foi impedido de dizer ao longo dos últimos anos no grande palanque eletrônico brasileiro chamado TV Globo.
Resgatou os crimes do ex-juiz Sérgio Moro que no comando da Operação Lava Jato, o levou à prisão sem provas e desrespeitando os mais elementares procedimentos jurídicos. Refrescou a memória nacional ao lembrar de ter dito ao juiz que ele estava condenado a provar as mentiras que dizia e, orgulhosamente, destacou que Moro foi declarado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Totalmente confortável e munido de dados e informações, Lula falou sobre o legado de seu governo de combate à corrupção ao dar autonomia aos órgãos controladores, tais como o Ministério Público, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União. Falou até que soube antes que a Polícia Federal iria invadir a casa de seu irmão, Chico, já falecido. E, num ato republicano, não preveniu o irmão.
O posicionamento de Lula não poderia ser diferente. Ele enfrentou o maior ataque midiático televisivo que se tem visto no Brasil contemporâneo. De acordo com estudo do sociólogo, cientista político e mestre em Filosofia, João Feres Júnior, “entre o final de dezembro de 2015 e agosto de 2016, foram ao ar, praticamente, 13 horas de notícias negativas sobre o ex-presidente, apenas 4 horas de noticiário considerado neutro e nem 1 segundo de notícias com viés positivo”. Trata-se de um estudo do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (Lemep), que produz o Manchetômetro.
No portal Lula, está escrito que “a parcialidade do Jornal Nacional em relação a Lula fica evidente pelo fato de que metade de suas reportagens não contemplou o contraditório do ex-presidente, de sua assessoria ou de seus advogados”.
Para quem acompanhou este tempo de perseguição midiática a Lula e de endeusamento do ex-juiz, deve lembrar que, apesar de tanta exposição negativa, Lula ou seus advogados não tinham o direito de serem ouvidos por um minuto sequer, para dar sua versão sobre as acusações. Tal prática, sabem os jornalistas mais tarimbados, não condiz com o que costuma pregar a TV Globo, sobre sua transparência e imparcialidade. Também destoa com o que professam os ensinamentos sobre o bom jornalismo.
Mas os tempos parecem ser outros. Na notória entrevista, Lula simplesmente engoliu os experientes jornalistas, do começo ao fim. Não por acaso, foi elogiado até mesmo por globais críticos a ele.
Em sua conta no twitter, a jornalista Miriam Leitão escreveu: “O ex-presidente Lula se saiu muito bem na entrevista do JN. Ele não se intimidou nas perguntas delicadas da corrupção, até agradeceu. Fez frases de fácil comunicação. Acertou o tom, não se irritou. Conseguiu contornar a dificuldade de explicar o governo Dilma”.
Também em sua conta no Twitter, Merval pereira, reconhecidamente contrário ao PT, escreveu: “O ex-presidente Lula vendeu bem a imagem moderada e fala à audiência do JN como se fosse um pai, que não governa, mas ‘cuida’ do povo”.
A jornalista Vera Magalhães escreveu no Twitter: “Lula foi bem no JN. Conseguiu se mostrar à vontade. Falou de futebol, cerveja, churrasco e endeusou Alckmin. Passou a mensagem moderada que queria. Nem citou o nome de Moro. Não arrumou treta com a imprensa”.
A jornalista Leilane Neubarth, afirmou: “Poderia citar muitas diferenças, mas me chama atenção o respeito de @LulaOficial pela Renata. Ele o tempo todo coloca ela presente e participando da entrevista.Homem que respeita mulher é outra coisa”.
Sem contar palavras, o jornalista Ricardo Kotscho cunhou, no título de sua coluna “Balaio do Kotscho”, do portal UOL: “Lula matou a pau no JN: falou com alma tudo que tinha entalado na garganta”. Para o jornalista – que acompanha Lula no final dos anos 1970, quando iniciou sua militância sindical no ABC Paulista –, Lula “deu a melhor entrevista da vida”.
Especialista em redes sociais, o diretor da Quaest Pesquisa, Felipe Nunes, classificou de “estrondosa” a participação de Lula no JN, mostrando que esse resultado se materializou no recorde de 15 milhões de internautas impactados no decorrer da exibição do telejornal, enquanto a presença de Bolsonaro alcançou 9 milhões de usuários e, a de Ciro, chegou a 2 milhões.
Bolsonaro passou os 40 minutos de sua entrevista mentindo cinicamente sobre a segurança das urnas eletrônicas, defendendo alianças com o Centrão e ameaçando só aceitar o resultado do pleito se a contagem de votos for do jeito que ele quer. Em português claro: se ele for reeleito.
Ex-ministro de Lula, Ciro Gomes criticou a polarização Bolsonaro X Lula, o que, segundo ele, leva as pessoas a votarem em Lula “porque querem se livrar do Bolsonaro e esqueceram que amanhã tem um País para governar”. Ele afirmou que representa “uma espécie de movimento abolicionista num sistema escravista” e garantiu que, se eleito, vai confrontar “aqueles que mandaram no Brasil nesses anos todos”.
Simone Tebet falou sobre corrupção, falta de apoio a sua candidatura dentro do seu partido, fome e miséria no País, candidaturas de mulheres, igualdade salarial entre homens e mulheres, teto dos gastos, taxação dos lucros e dividendos e defendeu a recriação do Ministério da Segurança Pública.
Verdade seja dita, Lula foi o melhor. Estava preparado, inspirado, determinado! Apresentou todas as condições de ser Presidente da República novamente. Não só por ser estadista, democrata e conciliador, mas, por ser inegavelmente reconhecido como o único, no atual momento conturbado do País, capaz de reposicionar o Brasil no rumo do desenvolvimento social e econômico, da democracia e da paz.
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