O papo no Eixão do Lazer, na capital, onde os frequentadores de esquerda são assíduos, para assistir os shows de samba, choro, rokc e jazz domingueiros, é de lamentação geral pelo episódio do assédio sexual do ex-ministro Sílvio Almeida sobre a ministra Anielle Franco.
Mas, a lição que se extrai é de que o governo Lula, urgentemente, tem que tratar no currículo escolar os dois temas fundamentais para a educação social: educação sexual e ecologia, porque o estrago na natureza das imprevidências e imprudências humanas chegou ao limite do insuportável.
Antes de mais nada, falando-se do Eixão do Lazer, consagra-se, pela movimentação popular, que o governador Ibaneis Rocha (MDB), deu tiro no pé, semana passada, ao interromper as atividades culturais nesse espaço nobre da capital federal, com justificativas inconsistentes.
Os domingos se transformaram, no Eixão, numa instituição, que o chefe do governo tentou eliminar.
Ibaneis, preconceituoso, quis acabar com o movimento cultural que cresceu no rastro do lazer, algo natural, que era de se esperar, chamando para ele os comerciantes, os empreendedores em geral, a turma da economia informal, responsável por dar um colorido todo especial, a cada semana, atraindo, para o plano piloto, gente das cidades satélites do DF, para fazer negócio.
Passeata de sucesso organizada pela esquerda repôs tudo no lugar: o comércio voltou, o chorinho está chorando, os sambistas sambando, os roqueiros rocando etc.
Desgaste total para o chefe do Palácio do Buriti, que agiu a pedido da classe média alta, servidora pública, bolsonarista anti-cultura, anti-mobilização popular, anti-alegria.
CONSPIRAÇÃO INTERNA NO PODER?
Mas, o tema central, nas considerações gerais, é o assédio sexual, enquanto a população se espraia no espaço da forma mais despojada possível, como se estivesse na praia de Copacabana.
Aliás, o Eixão virou, como se diz, a praia do cerrado, nesse tempo seco, sufocante, pois ninguém, aos domingos, fica mais em casa, deslocando-se para o Eixão para relaxar etc.
A sensação entre os esquerdistas é de que aconteceu algo muito estranho, não se descarta conspiração, no interior do governo, com o fito de desgastar o governo Lula.
Há o comentário, com tom indisfarçável de fofoca, de que a disputa dentro do poder, na esquerda, no PT e aliados, a partir, mesmo de lideranças partidárias, no Congresso, trabalhou para intensificar o vazamento e expansão dos comentários quanto ao assédio que defenestrou o ministro Sílvio.
Haveria disputa de espaço de poder nos dois ministérios, o da Igualdade Racial, ocupado pela ministra Anielle, e o dos Direitos Humanos, comandado por Almeida?
Há tempos, destacam observadores do Congresso em trajes de praia na passarela, o assunto vinha ganhando volume, enquanto nas esferas superiores, o esforço era o de jogar água na fervura, para não deixar entornar.
Então, havia ou não certo conformismo com o andamento das coisas?
No estouro da boiada foi como se houvesse surpresa, mas…
Não foi possível segurar a onda, quando a temperatura conspiratória ganhou dimensão insuportável.
Por aí, conclui-se que não foram pegos de surpresa nem o Planalto, nem o Congresso, nem os ministérios, onde o tititi começou e se expandiu, entornando o caldo.
REFLEXOS ELEITORAIS
Agora que o estrago ganhou proporções gigantescas, o temor da esquerda é quanto às consequências nas eleições municipais.
Afinal, a direita, aproveitando do tumulto político que o assunto provoca nas esferas mais altas da República, cuida de jogar mais lenha na fogueira, em escala incontrolável.
É puro urubu na carniça.
A lamentação é geral sobre como se chegou a tal ponto e sobre quem achou por bem aproveitar a confusão interna para jogar M no ventilador, fato que, indubitavelmente, favorece a direita e desgasta a esquerda em ano eleitoral.
O racismo direitista se exacerba, tratando-se de dois personagens importantes do governo da raça negra, que, segundo entendimentos maldosos dos fomentadores de divisões, na esfera do poder, não foram, suficientemente, previdentes nas relações institucionais.
A lição maior a tirar do episódio, por todos os ângulos, lamentável é a de que chegou a hora do governo Lula encarar para valer a educação sexual, especialmente, das crianças e jovens, em programa pedagógico, e, igualmente, da educação ambiental.
Os dois temas de há muito deveriam constar dos currículos escolares como preocupação central da sociedade.
Sem educação, ambos os assuntos são fadados à repetição, em termos de desgastes e preparação de tragédias, com potencial explosivo no ambiente sociocultural-político.
(*) Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site independência Sul Americana.