Mais de 48 mil eleitores digitaram 13 na urna eletrônica para escolher o prefeito de São Paulo, neste domingo (6), anulando assim o seu voto, pois o candidato apoiado pelo PT, Guilherme Boulos (PSOL), disputou com o número 50. Como a diferença entre eles foi de 25 mil votos, o deputado federal teria passado em primeiro para o segundo turno, à frente do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
O levantamento foi feito por Dimitrius Dantas e Victoria Abel, do jornal O Globo, com base no Registro Digital de Voto, que é disponibilizado pelo TSE. Os metadados trazidos pelo Globo foram obtidos através de tratamento da base do tribunal e não estão disponíveis. Mas o sistema é aberto para consulta por zona e seção eleitoral, sem a identificação do eleitor, claro, neste link, para quem tiver curiosidade.
Apesar de Pablo Marçal ter batido na tecla da desinformação, tentando convencer que Boulos e até Tabata Amaral eram 13 na urna (a deputada disputou com o número de seu partido, o PSB, 40), o mais provável é que tenha sido falta de informação por parte do eleitorado.
Esta foi a primeira eleição municipal em que o Partidos dos Trabalhadores não teve candidato próprio desde 1985, preferindo indicar a vice, Marta Suplicy, e apoiar a cabeça de chapa com um aliado. Pesquisas Datafolha e Quaest apontam que o PT é a preferência de eleitores na capital paulista entre aqueles que dizem ser simpatizantes de um partido, seguido pelo PL, e não à toa elegeu o maior número de vereadores nesta eleição.
Ou seja, teve gente que votou na inércia no 13 porque sempre fez assim ou porque Boulos é “o candidato do Lula”.
Esse montante de 48 mil votos não é nada desprezível, sendo maior, por exemplo, que os quase 46 mil eleitores que foram à urna na aprazível São Roque (SP).
Outros números de partidos que não contavam com cabeças de chapa à Prefeitura de São Paulo, como PP (11) e PSD (55), também foram digitados na urna. A hipótese é que, nesse caso, há um movimento inercial da escolha da legenda para vereador. Mas, no caso do PT, só isso não explica. O Partido dos Trabalhadores elegeu oito vereadores e o Partido Liberal, sete. Mas enquanto o 13 recebeu mais de 48 mil votos para prefeito, o 22 do Partido Liberal de Jair Bolsonaro teve quase 19 mil votos, também considerados nulos.
O PL apoiava oficialmente Nunes, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou com um pé na canoa do prefeito e outro no do ex-coach. Os votos em 13 no candidato do Lula ajudam a explicar essa diferença significativa.
Além de mostrar que o presidente da República o apoia, Boulos terá que fazer um esforço extra neste segundo turno para informar seus eleitores que isso não significa que seu número seja 13, mas 50. Lembrando que bairros como Cidade Tiradentes e Capela do Socorro, historicamente petistas, tiveram perdas significativas com os votos anulados.
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O UOL já havia adiantado que a campanha de Boulos estava adotando estratégias para tornar o seu número mais conhecido. Tanto que lançou um jingle repetitivo em que explicava que “Guilherme Boulos é 50, Marta é 50”.
O PSOL estava de olho na situação vivida pelo então candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas. No primeiro turno de 2022, 521 mil pessoas digitaram 22, número do PL, acreditando que estavam apoiando-o, quando seu número era 10, do Republicanos.
A coluna conversou com a campanha do deputado, que afirmou ter que reforçado, na última semana, as ações para gravar o 50 na memória do eleitorado petista. Apontam que o próprio Lula vestiu uma camisa com o número na carreata de sábado na avenida Paulista. Dizem que isso será prioridade no segundo turno para evitar a perda de votos.
* Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.