Mil dias de conflito, sem saída à vista
O ex-inspetor de armas das Nações Unidas, o fuzileiro naval estadunidense Scott Ritter, diz que governo Joe Biden, a Ucrânia e a OTAN querem aproveitar os dois meses que separam a posse de Donald Trump para tornar Kiev “de fato” integrante da aliança.
É neste contexto que, segundo ele, deve ser entendido o ataque ucraniano de hoje usando o Sistema Tático de Mísseis do Exército, conhecido pela sigla ATACMS, contra a região russa de Bryansk.
A autorização para usar os mísseis foi dada pelos Estados Unidos.
Ritter, especialista em armamentos, afirma que o ATACMS é operado por estadunidenses:
Não pode ser operado por ninguém a não ser pelos Estados Unidos. O sistema de orientação, os dados que são inseridos nele são desenvolvidos por um departamento especial da Defesa, na Europa, que define alvos para sistemas como este. Tudo é feito por analistas aeroespaciais estadunidenses, a comunicação é feita desta base [na Europa] por downlink para a Ucrânia, tudo manejado pelos Estados Unidos. A comunicação é secreta, usa criptografia da Agência de Segurança Nacional. Os ucranianos nem podem tocar nisso.
De acordo com Ritter, Joe Biden já autorizou que assessores estadunidenses trabalhem diretamente na Ucrânia para a manutenção dos caças F-16 e dos sistemas anti-mísseis Patriot.
Ataque a Kursk
Segundo ele, foram os Estados Unidos e a OTAN que planejaram e comandaram a ofensiva que permitiu à Ucrânia ocupar parte da região russa de Kursk.
Na opinião de Ritter, o objetivo era aumentar o poder de barganha da Ucrânia em eventuais negociações.
Porém, uma ofensiva russa nas próximas semanas teria o potencial de expulsar os ucranianos da região.
Daí os ATACMS, que a Ucrânia pode usar contra a retaguarda de tropas russas, depósitos de munição e outros pontos estratégicos.
Um nó em Trump
Na opinião de Ritter, os EUA e a OTAN estão criando uma situação “de fato” para que a Ucrânia esteja sob a proteção da aliança quando Donald Trump tomar posse.
Isso pode incluir uma decisão unilateral da Polônia de criar uma zona de exclusão aérea em parte do território da Ucrânia, facilitando a derrubada de mísseis de ataque.
Hoje, no Rio de Janeiro, numa entrevista paralela ao G20, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, concordou em parte:
Os ATACMS não podem ser usados sem especialistas estadunidenses, inclusive com dados de satélite e a programação dos alvos. O presidente [Putin] já mencionou isso várias vezes. Se mísseis de longo alcance forem usados desde a Ucrânia até território russo, significa que estão sendo operados por especialistas militares estadunidenses e será uma nova fase da guerra do Ocidente contra a Rússia.
Horas antes da confirmação do ataque à região de Bryansk, Vladimir Putin modificou a estratégia russa para eventual uso de armas nucleares.
Além de incluir a Bielorrússia sob o guarda-chuva nuclear de Moscou, Putin também abriu a possibilidade de usar armas nucleares contra um país que ameaçar a Rússia com um ataque convencional, desde que com apoio de uma potência nuclear.
Para Scott Ritter, a não ser que Donald Trump se antecipe aos eventos…
Vai ser o gatilho de uma guerra nuclear. Não é talvez. Será!