Segundo as pesquisas mais recentes, o presidente Bolsonaro (ex-PSL) está perdendo popularidade em vários seguimentos do eleitorado. Até mesmo entre os evangélicos, um dos setores que mais apoiam o presidente, que tem apoiadores convictos como Silas Malafaia, R.R. Soares, Valdomiro Santiago, Everaldo Pereira, que está preso, entre outros.
O seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT), tem se aproximado de segmentos evangélicos na busca de neutralizar o apoio do setor religioso a Bolsonaro. Levantamento feito em maio pelo Datafolha revelou empate técnico entre os dois no eleitorado evangélico.
O petista se reuniu nesta segunda-feira (31) com lideranças e pastores evangélicos no Rio de Janeiro. Lula avalia que o estado será o fiel da balança na disputa presidencial do próximo ano por ser base eleitoral do clã Bolsonaro e de grandes lideranças evangélicas no Congresso.
De acordo com a pesquisa, 35% dos eleitores evangélicos disseram votar em Lula e 34% em Bolsonaro. Com margem de erro de dois pontos percentuais, os dois estão tecnicamente empatados. Num eventual segundo turno entre os dois, segundo o Datafolha, cada um recebe 45% das intenções de voto do setor religioso.
Mesmo perdendo eleitores entre evangélicos, ainda sim Bolsonaro mantém quase 1/3 das intenções de voto na totalidade dos eleitores, ou seja, 32%, contra 55% de Lula, se a eleição fosse hoje.
Na busca de ampliar o número de evangélicos progressistas, religiosos da Bahia, Distrito Federal, Maranhão, Paraná e Santa Catarina estão organizando a Primeira Jornada de Intercâmbio com Evangélicos e Evangélicas do PT, que será realizado no próximo dia 5 de junho. Deputados federais, estaduais e vereadores participarão do encontro. Para participar é preciso se inscrever, gratuitamente, no site https://abre.ai/jornadanept.
As alianças de Bolsonaro com os evangélicos, de acordo com a jornalista e doutora em Ciências Sociais, Magali Cunha, colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas, estão consolidadas com as igrejas batistas, presbiterianas, metodistas e luteranas, que têm “personagens de grandes igrejas pentecostais (e de outras nem tanto) que alcançaram status, patrimônio e influência na mídia e no parlamento”.
De acordo com Magali, que publicou recentemente artigos na revista Carta Capital, lideranças presbiterianas seriam as principais responsáveis por credenciar ideologicamente o governo, inclusive “fornecendo quadros para os ministérios”. São essas lideranças, “que historicamente exercem influência na vida nacional”, acrescenta.
Para a especialista, a orientação de “seguir os líderes”, os que “têm a visão”, favorece o alinhamento dos fiéis com o bolsonarismo. Ela lembra que um dos imaginários utilizados pela campanha de Jair Bolsonaro em 2018 foi fundamental para a vitória do candidato de extrema direita. “Um deles é o do mártir salvador, messias ungido, evocado no ‘episódio da facada’, que, se configura no combatente dos ‘inimigos da pátria’ – movimentos sociais e partidos que atuam para destruir a família”.
No entanto, é importante destacar, que o bolsonarismo não é uma unanimidade entre os evangélicos. Há uma parcela importante que o rejeita. Segundo pesquisa Datafolha de março, 35% desse segmento no País classificam o governo Bolsonaro como “ruim ou péssimo”.
Está nesse grupo, de acordo com Magali, um significativo número de evangélicos “engajados em movimentos sociais que trabalham com pautas que, diretamente, lhes atingem a vida: associações de trabalhadores, de prestadores de serviços, movimentos de sem-terra, sem-teto, de atingidos por barragens”. Esses evangélicos, não se deixam seduzir pelos discursos messiânicos assumidos pelo presidente.