Quadrilha movimentou R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos, dos quais R$ 800 milhões apenas em 2024, segundo relatório da Polícia Federal
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta terça-feira um policial militar e um policial civil de São Paulo por suspeita de integrarem um esquema de lavagem de dinheiro do crime organizado por meio de fintechs. Um deles, o capitão da PM Diogo Costa Cangerana, estava na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes e trabalhava diretamente com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em sua segurança. Ele chegou a acompanhar o governador em viagens e receber prêmio pelos bons serviços prestados.
As informações foram reveladas pelo jornal “O Estado de São Paulo” e confirmadas pelo GLOBO. O outro agente preso foi o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) até dezembro de 2022, quando pediu afastamento não remunerado por dois anos. Ambos foram presos no câmbio da Operação Dólar Tai-Pei.
Cyllas foi citado na delação do empresário Antonio Vinicius Gritzbach, que foi morto no Aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro. O empresário havia denunciado o agente à Corregedoria da Polícia Civil oito dias antes de ser executado. Cyllas é dono do 2 GO Bank, e segundo as investigações, há indícios de que ele tenha relação com integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A PF investiga se a instituição faria parte de um complexo sistema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As fintechs, segundo a PF, atuariam na venda de moeda estrangeira em espécie, sem autorização do Banco Central, inclusive usando empresas “laranjas” para abrir contas bancárias para movimentar os recursos.
Segundo a PF, o esquema movimentou R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos, dos quais R$ 800 milhões apenas em 2024, tanto no Brasil quanto em outros países, como Estados Unidos, Panamá, Argentina, Bolívia, Paraguai, Itália, Dubai e China.
Foram cumpridos 16 mandados de prisão. Ainda de acordo com as investigações, o esquema contava com a atuação de policiais militares e civis, gerentes de bancos e contadores, que atendiam pessoas que queriam lavar dinheiro ou enviar e receber recursos do exterior, e há indícios de envolvimento de organizações voltadas ao tráfico de drogas e armas.
Cangerana atuava na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes como Chefe de Equipe da Divisão de Segurança de Dignitários do Departamento de Segurança Institucional, de 2012 até 3 de setembro deste ano. A partir dessa data, foi transferido para o 13º Batalhão, na região central. Enquanto estava na Casa Militar, recebia gratificações justamente por seu cargo ser considerado cargo de confiança do governador. As investigações apontam sua participação na abertura de contas nessas instituições financeiras.
Já Cyllas foi citado na delação de Gritzbach. Sobre ele, pairam as suspeitas de que o banco do qual é sócio, o 2 GO Bank, seria usado para praticar ilícitos para o crime organizado.
A instituição financeira tem atuação sobretudo no mundo esportivo, é patrocinadora do Esporte Clube Vitória e criou o Vitória Bank, uma fintech voltada para torcedores, além de ter uma parceria com a Torcida Independente, do São Paulo Futebol Clube. O 2 GO chegou a negociar uma parceria com o Corinthians, mas o acordo não foi para frente. Em nota, o clube paulista afirmou apenas que “recebeu um orçamento como tantos outros” que costumam receber. A reportagem tenta localizar a assessoria do 2 GO Bank.
Em nota, a SSP informou que a segurança do governador e das demais autoridades “é uma atribuição da Casa Militar” e que Cangerana “não exerceu funções de assessoria ou ajudância de ordens às autoridades, limitando-se a atividades de rotina da Polícia Militar, assim como outros 347 policiais que são designados às autoridades conforme escala de trabalho”. Segundo a pasta, a Corregedoria da Polícia Militar apura os fatos relativos à conduta do policial “e acompanha os desdobramentos da Operação Tai-Pen”, permanecendo à disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações.
O governador comentou a operação durante uma coletiva em Mogi-Guaçu. Ele defendeu a Polícia Militar e afirmou que desvios serão punidos:
— Quem desviar a conduta, vai sofrer as penalidades, porque a gente não tolera esse tipo de coisa. Agora, não podemos falar da Polícia, a Polícia é boa, é séria, é profissional e presta um relevante serviço para a sociedade. Toda instituição, infelizmente, tem as maçãs podres, e essas maçãs podres a gente vai tirar desse cesto e punir severamente.