Chefe da Defesa brasileira classificou como ‘questões ideológicas’ a interrupção de contrato com empresa israelense para adquirir novos veículos militares
A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), em mensagem publicada nesta quarta-feira (09/10), classificou como “impertinente’ o posicionamento do ministro da Defesa, José Múcio, que rotulou a interrupção do contrato de Brasília com uma empresa israelense para a aquisição de veículos militares como uma “questões ideológicas”, por conta da guerra em Gaza.
A Opera Mundi, o presidente da Fepal, Ualid Rabah, escancarou a contradição que é um ministro da Defesa de um país signatário das convenções para o genocídio, apartheid e colonialismo, defender a aquisição de armas de um Estado que vem promovendo um massacre televisionado na Faixa de Gaza.
“O Brasil, país de que José Mucio é o ministro da Defesa, aderiu à petição da África do Sul que pede a investigação de Israel por genocídio, sabendo, inclusive, que o regime sionista não obedeceu às decisões liminares da Corte Internacional de Justiça por cessar-fogo, entrega de ajuda humanitária e cessação de todos os atos genocidas”, pontuou.
Ualid também reforçou a inadmissibilidade da declaração proferida por Múcio no dia anterior, uma vez que o ministro está subordinado ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, considerado “persona non grata” por Tel Aviv após classificar Israel um país genocida e comparar suas ações ao Holocausto.
“Ou Múcio acha que é ministro de Netanyahu”, ironizou o presidente da Fepal, acrescentando que uma possível compra de armas de uma empresa israelense “mancha as mãos dos nossos militares de sangue palestino” e incentiva a continuidade do massacre em Gaza.
“Nos coloca, enquanto povo e país, na cena do crime de genocídio, apoiando-o ainda que indiretamente, pois, quando pouco, ajudamos a jorrar dinheiro nosso aos cofres de ‘Israel’ para que prossiga financiando sua máquina de extermínio”, concluiu.
“Disparate que merece ser estudado”
“O ministro da Defesa, José Múcio, conseguiu reduzir o genocídio promovido por ‘israel’ na Palestina a mero problema “ideológico””, declarou a Fepal por meio de uma nota. Segundo a maior organização palestina no Brasil, o chefe da pasta realizou um equívoco “disparate” que “merece ser estudado”.
A Fepal lembrou que a fala de Múcio “esbarra em uma investigação por crime de genocídio na Corte Internacional da Justiça, cuja petição acusatória – e admitida – é da África do Sul, com apoio formal do Estado Brasileiro” e também que Tel Aviv ignora a ordem do Conselho de Segurança da ONU por cessar-fogo imediato e incondicional no enclave.
Ressaltando que o conflito não é um mero problema ideológico, a Fepal informa que “é primeira vez na história das guerras e genocídios que 100% de uma população é declarada sob fome, assim como é inédito o deslocamento e morte de mais de 90% de uma demografia atacada por um agressor externo”.
“Logo, ministro José Múcio, trata-se de genocídio o óbice à aquisição de armamento de “israel” pelo Brasil, cuja aplicabilidade no terreno, para posterior comercialização, é testada sobre os palestinos sob extermínio, jamais de um “problema ideológico”. Talvez seja a sua opção ideológica, imoral porque genocidária, a razão de tamanha insistência na aquisição de equipamento bélico carregado de sangue palestino”, instou a Fepal contra o ministro, ao exigir sua retratação.
“Questões ideológicas”
Durante a Confederação Nacional da Indústria, na última terça-feira (08/10), Múcio declarou que “a questão diplomática brasileira interfere na Defesa” do país. “Por questão da guerra, do Hamas, dos grupos políticos, estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar”, afirmou o ministro.
Múcio também afirmou que “o povo de Israel, os judeus venceram” a licitação aberta pelo governo brasileiro para a compra de obuseiros 155 mm. Na verdade, quem ganhou a concorrência não foi o povo israelense, o Estado de Israel ou mesmo os judeus – de etnia ou religião – mas sim uma empresa com sede em Haifa chamada Elbit Systems.
Para a Fepal, “a confusão precisa ser desfeita, até porque os professantes do judaísmo e sua fé religiosa não devem responder pelos crimes do sionismo, ideologia colonial e racista análoga ao nazismo, tal qual os alemães não respondem pelo nazismo ou os brancos pelo apartheid na África do Sul”.
Ao explicar que o Tribunal de Contas da União (TCU) não permitiu que o governo brasileiro adquirisse os veículos militares do segundo colocado na licitação, o ministro disse “esperar que essas questões [ideológicas] passem”, ignorando a violência israelense no enclave palestino, que já deixou mais de 52 mil mortos, considerando as mortes e desparecimentos nos escombros, e destruiu toda a infraestrutura civil da região.
Anteriormente, em setembro passado, o ministro da Defesa fez declarações semelhantes. Segundo a Folha de S. Paulo, Múcio apresentou ao presidente Lula uma proposta para destravar a aquisição de obuseiros da Elbit Systems.
“A gente está brigando com uma coisa simples, boba. Não estamos fazendo uma compra gigantesca de Israel. Precisava provar que foi o dinheiro dos obuseiros que financiou aquela guerra. Dois obuseiros não movimentam absolutamente nada”, declarou o ministro;
“Com todo respeito às pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, afirmou à época, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Opera Mundi entrou em contato com a assessoria do ministro José Múcio. No entanto, não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
Contrato com a Elbit Systems
O Exército Brasileiro, desde 2017, busca substituir 36 obuseiros, remanescentes da Segunda Guerra Mundial. Em abril passado, a israelense Elbit Systems, que é uma das principais fornecedoras de equipamento militar para as Forças de Defesa de Israel (FDI, como é chamado o exército do país), venceu a concorrência por oferecer o melhor preço e soluções técnicas superiores, além de já possuir subsidiárias no Brasil.
O contrato, orçado em quase R$ 1 bilhão, enfrenta oposição de setores que consideram inadequado adquirir armamento do país responsável pelo genocídio na Faixa de Gaza. Os opositores alegam que a transação poderia, de certa forma, financiar os ataques israelenses contra os palestinos.
Assim, a assinatura do contrato foi adiada em maio deste ano por decisão de Lula, sem previsão de conclusão, em meio ao agravamento das operações militares israelenses na Faixa de Gaza e a pressão para que o governo Lula revogue as cooperações com Tel Aviv.
Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União (TCU) analisa se a legislação brasileira impede que empresas de países em conflito participem de licitações. A decisão pode ser crucial para destravar o processo e reduzir as resistências internas no governo.
Leia a nota da Federação Árabe Palestina do Brasil na íntegra
Nota pública: o Ministro da Defesa e a DEFESA IDEOLÓGICA do genocídio de “israel” na Palestina
José Múcio reduziu o genocídio promovido por “israel” na Palestina a mero problema “ideológico”, ao reclamar do cancelamento da aquisição, pelas Forças Armadas brasileiras, de obuseiros da empresa “israelense” Elbit Systems
O ministro da Defesa, José Múcio, conseguiu ontem, falando na Confederação Nacional da Indústria, reduzir o genocídio promovido por “israel” na Palestina a mero problema “ideológico”, ao reclamar do cancelamento da aquisição, pelas Forças Armadas brasileiras, de obuseiros da empresa “israelense” Elbit Systems. Mais do que isso, ineditamente, inclusive, em caso a ser estudado, tamanho o disparate, arguiu que a concorrência “venceram os ‘judeus’, o povo de ‘israel’”. Esta Federação esclarece ao ministro seus equívocos:
I. Tal qual Getúlio Vargas levou o Brasil à guerra contra a Alemanha Nazista não por problemas “ideológicos” mas, sim, porque este era um regime supremacista agredia o mundo em guerra de conquista e genocidária, assim é quanto ao regime supremacista sionista na Palestina, autoproclamado estado e autodenominado “israel”, que pratica apartheid contra todo o povo palestino, promove contra ele uma política de limpeza étnica, cuja faceta mais brutal se dá agora, com a maior matança proporcional da história, em que as crianças são exterminadas à cifra de 9.385 por milhão de habitantes em Gaza, 3,5 vezes mais que as 2.813 assassinadas por milhão nos seis anos de guerra nazista na Europa (em seis anos seriam 21 vezes mais).
II. O mesmo vale para a adesão do Brasil à política global de Boicote, Desinvestimento e Sanções ao regime supremacista branco da África do Sul, sem que jamais alguém tenha ousado acusar esta decisão de “ideológica”.
III. Por acompanhar as resoluções da ONU, o Brasil chegou a abster-se de comércio amplamente vantajoso com o Irã, perdendo bilhões de dólares anuais, sabendo que neste caso sim tratava-se de problema ideológico, mas não brasileiro, e sim dos EUA, que buscavam impor sua hegemonia contra o mundo.
IV. Já no caso genocidário de “israel” hoje, a impertinência do ministro esbarra numa investigação por crime de genocídio na Corte Internacional da Justiça, cuja petição acusatória – e admitida – é da África do Sul, com apoio formal do Estado Brasileiro.
V. Em 26 de janeiro a CIJ determinou a abertura da investigação de “israel” por genocídio, com o voto do Brasil e liminarmente a cessação de todos os atos de genocídio, sem “israel” tenha acatado, muito ao contrário, de lá para cá assassinou ao menos 30 mil palestinos e seguiu destruindo toda infraestrutura civil na Faixa de Gaza.
VI. Desde 28 de março vigora ordem do Conselho de Segurança da ONU por cessar-fogo imediato e incondicional, sem que, novamente, “israel” o tenha acatado, e de lá para cá assassinado pelo menos 20 mil civis palestinos.
VII. Em um ano de extermínio televisionado, “israel” eliminou 52.709 palestinos em Gaza, 2,33% de sua demografia, o equivalente a 4,8 milhões no Brasil e 18 milhões na Europa da 2ª Guerra Mundial por sua demografia atual, o que daria, em eventuais seis anos, como foi a duração daquela guerra, 75 milhões de europeus exterminados, mais que os até 70 milhões daquele momento histórico.
VIII. Segundo a Revista The Lancet, a mais respeitada publicação médica do mundo, em artigo veiculado em sua edição de 5 de julho, para cada morte dos ataques diretos de “israel”, outras quatro decorrerão da destruição, ferimentos, falta de comida, água, médicos, medicamentos e estruturas hospitalares, doenças e outras razões, estimando àquela data em 186 mil os palestinos assassinados, 7,1% da população de Gaza.
IX. Neste um ano de genocídio televisionado, a projeção lançada por The Lancet nos leva a inacreditáveis 213 mil palestinos exterminados, ou 9% da população de Gaza, equivalente a 18 milhões de brasileiros e 72 milhões de europeus.
X. Chegaria a 430 milhões se o extermínio se desse, nesta mesma escala, por seis anos na Europa, ou seja, 500% mais que a matança durante o período hitleriano.
XI. Segundo a ONU, neste um ano de genocídio, a destruição em Gaza pode estar na casa dos 90%, quase todo o território, algo jamais visto na história, superando em muito a mais destruída das cidades europeias em seis anos de 2ª Guerra Mundial.
XII. É, também, a primeira vez na história das guerras e genocídios que 100% de uma população é declarada sob fome, assim como é inédito o deslocamento e morte de mais de 90% de uma demografia atacada por um agressor externo.
XIII. “israel” exterminou 174 jornalistas, contra 69 nos seis anos da 2ª Guerra Mundial, o que faria com que, considerando tempo de guerra e tamanhos das demografias implicadas (2,2 milhões em Gaza e 520 milhões na Europa atingida pelo nazismo), em eventual aplicação pelos nazistas da mesma escala genocidária “israelense”, fossem 244 mil os profissionais de comunicação abatidos em solo europeu.
XIV. Além desta parcela pequena dos números deste genocídio campeão na história, há as centenas de declarações de autoridades de “israel” ordenando o extermínio do povo palestino, dentre elas do exterminador Benjamin Netanyahu, todas arroladas na petição da África do Sul admitida pela CIJ.
XV. Por fim, não foram os “judeus” que venceram a licitação defendida pelo ministro, mas o regime supremacista que se diz judaico, confusão que precisa ser desfeita, até porque os professantes do judaísmo e sua fé religiosa não devem responder pelos crimes do sionismo, ideologia colonial e racista análoga ao nazismo, tal qual os alemães não respondem pelo nazismo ou os brancos pelo apartheid na África do Sul.
Logo, ministro José Múcio, trata-se de genocídio o óbice à aquisição de armamento de “israel” pelo Brasil, cuja aplicabilidade no terreno, para posterior comercialização, é testada sobre os palestinos sob extermínio, jamais de um “problema ideológico”. Talvez seja a sua opção ideológica, imoral porque genocidária, a razão de tamanha insistência na aquisição de equipamento bélico carregado de sangue palestino.
Por tudo isso, esperamos que se retrate o ministro José Múcio, bem como que persista o Estado Brasileiro no bom caminho de recusar qualquer relacionamento com “israel” nos campos militar, de segurança e tecnológico, áreas diretamente vinculadas ao genocídio palestino.
Palestina Livre a Partir do Brasil, 9 de outubro de 2024, 77º ano da Nakba