Acolhimento, desidratação, atendimento psicológico e crise hipertensiva estão entre os principais cuidados. Levantamento foi feito entre os dias 6 e 8 de outubro, após chegada dos dois primeiros voos ao Brasil
Médicos, enfermeiros e psicólogos da Força Nacional do SUS realizaram 346 atendimentos médicos, assistenciais e psicossociais aos brasileiros repatriados do Líbano, entre domingo (6) e terça-feira (8). Os profissionais enviados pelo Ministério da Saúde atenderam os que chegaram nos dois primeiros voos da Força Aérea Brasileira (FAB). Entre os atendimentos, as maiores ocorrências foram de acolhimento, leve desidratação, primeiros cuidados psicológicos e crise hipertensiva.
Renato Santos, enfermeiro e coordenador da Força Nacional do SUS na missão, explicou que a equipe estava em interlocução com os médicos e psicólogos da FAB que acompanharam os repatriados dentro do avião. “Com isso, já sabíamos as principais queixas e nos preparamos para prestar o atendimento adequado”, detalhou Renato.
A operação foi dividida em três eixos:
- equipe de acolhimento que dava boas-vindas aos repatriados, em sua língua mãe;
- equipe com experiência em urgência e emergência que ficou em espaço estratégico, de prontidão para prestar assistência aos passageiros que precisavam de atendimento imediato;
- equipe na tenda montada com equipamentos e dispositivos necessários para prestar atendimento médico e psicossocial
Mariam, repatriada e técnica de enfermagem da FN-SUS, ao lado da tia e avó (Foto: Rafael Nascimento/MS)
Integrante da equipe de acolhimento, a técnica de enfermagem Mariam Nagi Deghaidi possui nacionalidades libanesa e brasileira e aceitou, com gratidão, o convite para servir na missão. Além de falar árabe, o que trazia segurança aos repatriados, ela vivenciou duas guerras e, juntamente com sua família, foi resgatada para o Brasil, onde se tornou profissional de saúde. Hoje, Mariam é voluntária na Força Nacional do SUS. “Passei por essa situação duas vezes. Além da língua e da cultura, entendo o sentimento do meu povo”, disse.
No Brasil, Mariam fixou residência, mas parte de sua família continuou no Líbano, o que trouxe grande preocupação por conta da guerra. Ela estava há seis dias sem notícias de seus parentes, quando no acolhimento dos repatriados, viu descerem do avião sua vó e sua tia. “Não sabíamos se tinha alguém vivo. Quando as portas do avião se abriram, vi minha vó descendo junto com a minha tia. Foi uma mistura de alívio e alegria. Choramos muito”, contou a profissional, emocionada.Nour, médica da FN-SUS, também repatriada, é libanesa e brasileira (Foto: Rafael Nascimento/MS)
Na equipe da tenda, estava a médica libanesa e brasileira, também repatriada, Nour Adnan Haidar. Seus pais vieram para o Brasil na guerra de 2006. Desde então, Nour fez sua vida, se tornou médica em São Paulo e hoje serve às pessoas que estão passando pela mesma situação.
“A Força Nacional do SUS representa esperança e recomeço. Poder recebê-los é o mínimo que posso fazer. Tenho orgulho em ser libanesa e brasileira. Me sinto bem representada e grata”, afirmou a médica, exaltando o trabalho humanizado do SUS. “Essa forma acolhedora tem feito toda a diferença no recomeço de ciclo dessas pessoas. O SUS tem sido fundamental para isso”, acrescentou.
Terceiro voo com repatriados chega nesta quinta (10)
Decolou às 13h15 (horário de Brasília) desta quarta-feira (9) o terceiro voo de resgate brasileiros e familiares da zona de conflito no Líbano. A bordo da aeronave KC-30 do Governo Federal, estão 218 passageiros, entre eles 11 crianças de colo e cinco animais domésticos. No percurso até o Brasil, haverá uma parada técnica em Lisboa, Portugal. A previsão é de que a chegada à Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, ocorra nesta quinta-feira, 10 de outubro, por volta das 7h30.
Quando esta terceira fase da Operação Raízes do Cedro for finalizada, o país vai alcançar a marca de 674 brasileiros e familiares resgatados, além de 11 animais domésticos. A prioridade de composição das listas é para mulheres, crianças, idosos e brasileiros não residentes no Líbano.Segunda doação de insumos de saúde para o Líbano (Foto: Rafael Nascimento/MS)
Doação de insumos em saúde
Além de resgatar os brasileiros e seus familiares, o voo de repatriação da FAB é usado para enviar insumos estratégicos em saúde para o Líbano. Nesta terça-feira (8), a aeronave levou 491 quilos de medicamentos, envelopes para reidratação e seringas descartáveis. A operação foi coordenada pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores.
O KC-30 também transportou sete toneladas de medicamentos arrecadados em iniciativa coordenada pelo Consulado-Geral do Líbano no Rio de Janeiro. No último domingo, 6 de outubro, um primeiro lote de doação do governo brasileiro foi enviado ao Líbano, após a chegada do primeiro grupo de brasileiros e familiares repatriados. A carga continha 20 mil seringas com agulhas e 4 mil agulhas individuais.
Força Nacional do SUS
A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) é um programa do Ministério da Saúde com foco em medidas de prevenção, assistência e repressão durante situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população, quando for esgotada a capacidade de resposta do estado ou município.
A FN-SUS contribui com o território afetado, levando orientações técnicas, ações de busca ativa e monitoramento de pacientes, atendimentos, liberação de medicamentos e apoio na reconstrução da rede de atenção à saúde local, dependendo do nível de resposta que a situação exija.
Vanessa Rodrigues
Ministério da Saúde