Se o futebol fosse uma religião – e para muita gente é – poderíamos dizer que vivemos a Era do Cristianismo Messiânico. Nunca houve na história uma rivalidade entre esses dois termos – até chegarmos a Cristiano Ronaldo e Messi.
E vou logo explicando que os nomes estão dispostos apenas em ordem alfabética – que é a única justiça que se pode alegar quando se põe o assunto em pauta.
O mundo está dividido outra vez entre Portugal e Espanha – sei que os argentinos irão me odiar, mas Messi apenas nasceu na Plata. Nunca existiu vestindo La Albiceleste.
O gênio extraterrestre só emerge quando possuído pelo espírito da Catalunha. Nunca vi nenhum jogador conduzir a bola de tal forma. Discípulo de Ronaldinho Gaúcho, La Pulga faz a geração que não viu Pelé suspirar em amores e êxtase: é o maior de todos os tempos!
Mas Portugal reclama sua metade do hemisfério bola. E trouxe à cena um menino desajeitado, cuja habilidade pode até ser posta em questão quando comparada a mestres do drible e da finta. Mas a persistência e a vontade fazem diferença em tempos de determinação e iniciativa.
E todos os termos que vierem a ser inventados para definir o goleador pertencem ao gajo: matador, finalizador, decisivo, artilheiro, fatal. Cristiano é sinônimo de gol. E o contrário.
Se Messi, em sua soberania e domínio, nasceu para ser rei no futebol, Cristiano Ronaldo se fez bola e debutou entre nós: força de vontade, garra, determinação. Eles trouxeram para os estádios o antigo debate ontológico: o homem nasce determinado ou ele se determina?
Messi é o predestinado, o que nasceu feito e pronto. Tudo lhe é natural e espontâneo. Tudo lhe é simples e harmonioso. Cada passo, cada toque, cada piscar de olhos. Cada gol. Messi é obra do Alto. Calvino vibraria.
Já Cristiano Ronaldo é superação, é vontade, é força, é emulação, é desafio. Cada passada, cada explosão, cada olhar agressivo para a bola e para o adversário, cada chute com raiva – o homem mostra sua vontade de potência, sua força, e desafia o destino que lhe parecia tão contrário. Nietzsche usa a sete.
Assim, os mais inseguros acerca da questão filosófica têm uma verdadeira aula de cosmologia nas voltas da bola. E o mundo se divide: os cristianos e os messiânicos. Soberbos, seguros e certos de que seus totens possuem a perfeição.
Ah, vida cheia de enigmas, onde o coração tem razões que a própria razão desconhece, e mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a vossa vã filosofia… Mas o Cristianismo Messiânico da bola veio nos revelar senão todos – ao menos dois desses mistérios.
Então nosso embate ganhou forma. O mundo se dividiu outra vez – Cristiano Ronaldo ou Messi? Para os desavisados da neutralidade, aquele que é o centro da História já sentenciou: Não podeis servir a dois senhores…
Assim, os ardorosos defensores de ambos os lados, dogmáticos, mantém sua convicção de superioridade. E certamente para onde quer que alguém se incline, sempre poderá ser dito sobre a questão: há controvérsias!
Mas mesmo nos opostos haverá alguma harmonia, pois onde quer que um seja pronunciado, o outro estará presente. Para o bem e para o mal.
Assim, só nos resta contemplar a sublime majestade e o fulminante poder que o futebol de Cristiano e Messi tem revelado. E considerarmo-nos privilegiados pela oportunidade de testemunhar seus prodígios com nossos próprios olhos – muitas vezes até incrédulos!