Meus amigos, meus inimigos! O Futebol é emoção. O futebol é interpretação. Mas vamos aos fatos. Enquanto o Brasil avalia o retorno dos campeonatos, na Europa a temperatura já se mostra altíssima.
No Budesliga, o Bayern venceu e garantiu o título. É a única liga entre as grandes europeias que não tem disputa entre duas grandes camisas. O time bávaro é solitário, é isolado. Domina sem qualquer ameaça.
O campeonato francês parece caminhar na mesma direção, com o recente monopólio do Paris Saint-German. Mas um fato ainda evita tal domínio absoluto: os bastidores sempre quentes e desorganizados da equipe de Neymar.
Nas terras da Rainha, o virtual campeão Liverpool empatou. Mas para quem está vinte e três pontos à frente do segundo colocado, não se pode chamar de tropeço. Um respiro. Um pequeno interlúdio para ouvir Hey, Jude – pois o final é totalmente previsível. Let it be.
Na Espanha, a disputa está acirrada. Dentro e fora de campo. Com o tropeço do Barcelona e a contestada vitória do Real Madrid, o time da capital assume a liderança pelos critérios de desempate. E as manchetes da Catalunha espernearam: líderes pelo VAR.
Sim, tivemos três lances capitais. Primeiro o pênalti sobre o infernal Vinícius Jr. Muito discutível, sem dúvida. Um leve toque do zagueiro seguido pela estranha finalização (o que não é muito estranho para o atacante brasileiro). Muitos ângulos e mais argumentos ainda. O árbitro estava próximo e prontamente apontou a marca da cal. Fico com o árbitro.
Já naquilo que seria o empate da Real Sociedad, alguns argumentam que o goleiro merengue falhou em tardia reação ao chute colocado de fora da área. Outros apontam o fato de que nenhum jogador merengue reclamou impedimento. Mas isso é irrelevante para o caso.
Afinal, o que importa é a regra e a interpretação do árbitro, e não reclamações ou falhas individuais em campo. Havia um jogador em condição de impedimento na trajetória da bola – que precisou inclusive desviar-se da mesma – o que retarda, evidentemente a reação do goleiro. O árbitro nem consultou o VAR – prontamente marcou. O recurso eletrônico apenas confirmou. Regra pura e simples. Novamente fico com o árbitro.
O segundo gol do Real veio na matada de ombro de Benzema. O atacante limpou dois marcadores antes de finalizar colocado no contrapé do arqueiro. Choradeira geral: toque no braço! Um lance tipicamente interpretativo. O árbitro novamente nem pestanejou. Gol confirmado. Fico com o árbitro.
Os blaugranas reclamam até agora e já sabem como justificar uma possível perda do título – não fossem as enigmáticas palavras do zagueiro Piqué após o empate-tropeço contra o Sevilla dois dias antes, ao insinuar que o título já estaria perdido!
Todos somos torcedores, mas aqui não podemos defender camisas: devemos nos ater aos fatos – e às possíveis interpretações. Tanto aqui no Brasil quanto na Europa, o pesa das camisas sempre impressionaram e pressionaram os árbitros – e sempre a favor dos grandes!
Podemos recordar aquele longínquo ano de 1981, quando José Roberto Wright assombrou Belo Horizonte, depenou o pobre Galo mineiro com o apito e fez a festa do Mengão – fato que levou a renomada revista esportiva inglesa Four Four Two a classificar tal episódio como o maior roubo da história do futebol mundial!
Em 2002 pela Copa do Brasil, o nosso recém-nascido (infelizmente hoje apagado) Brasiliense (que contava com Gil Baiano em ótima fase e o cobiçado Wellington Dias) depois de campanha maravilhosa, despachou o Fluminense em pleno Maracanã e enfiou três a zero no Galo em nosso mini-mineirazzo.
Mas na final enfrentou não apenas o bom time do Corinthians de Carlos Alberto Parreira, que tinha o “melhor lado esquerdo do Brasil”, com Gil, Ricardinho e Kleber, mas também a má vontade de Carlos Eugênio Simon.
O árbitro gaúcho atuou como legítimo cirurgião dentista e deixou o nosso Jacaré destituído de suas arcadas – o que deu grande vantagem ao alvinegro paulista.
Com a chegada do VAR, o famoso e moderno recurso de vídeo, poderíamos supor que a história mudaria. Contudo, não é o que acontece: surpreendentemente, descobrimos que essas mesmas camisas causam interferência naquela minúscula sala cheia de telas.
Mas uma coisa também parece jamais mudar no futebol: o choro e as justificativas para a derrota. Faz parte do futebol. Faz parte da interpretação. Faz parte da emoção. O jogo continua depois do apito final – nos bares, nas casas, nas ruas, nas escolas, no trabalho. Ah, o futebol é emoção. Emoção até o fim. Até mesmo depois do fim. Até mesmo depois do fim, meus amigos.