[O jogo é duro e não tem juiz/ qualquer escore me faz feliz – Espírito esportivo, Moraes Moreira]
Quando estudante em Beagá, minhas aulas de educação física consistiam de, entre outras atividades, jogos de futebol de salão, kichute era o equivalente a chuteira.
Já de volta a terrinha, como aficionado do chamado violento esporte bretão, tive a ideia de, pelos fins de tarde, bater uma bola na quadra do Centro Educacional Santamariense, cuja autorização pras vibrantes partidas foi imediatamente dada pela diretora do estabelecimento.
A condição sine qua non pro aspirante a fazer parte dos plantéis era de que fosse usuário, ainda que eventual, da famosa marijuana, ou seja, jererê.
A garimpar os craques que comporiam os times; tarefa nada difícil, dada a imensa quantidade de chincheiros na cidade naqueles distantes anos 70s.
Alguns deles não tinham a mínima ideia do que era tática e muito menos estratégia do desporto que Charles Miller introduziu neste Brasil brasileiro em que coqueiro – incrível! – dá coco.
Alguns desses pseudo boleiros [Iato sensu] driblavam os próprios parceiros e arremessavam a pelota pra onde o nariz apontasse, mesmo que resultasse em gol contra.
Com frequência acontecia da gente buscar o atleta pra despachar o passe e, ora veja, o cara tava fora da quadra dando uns tapinhas no finório, viajandão…
Nosso escrete era composto por Alcino [goleiro], Zé Sugesta, Xaruto, Harnoldo e o locutor que vos fala.
Depois de uma dezena de peladas, a vizinhança da escola sentiu cheiro de pano queimado na área levado pelo vento, comunicou pras autoridades sobre aquele estranho odor provocando maresia nos caretas.
E assim se encerrou prematuramente nossa experiência futebolística sui generis [a la NovosBaianos Futebol Clube].
Biblioteca Campesina, 26jan24
(*) Por Joaquim Lisboa Neto, colunista do Jornal Brasil Popular, coordenador na Biblioteca Campesina, em Santa Maria da Vitória, Bahia; ativista político de esquerda, militante em prol da soberania nacional.