O atentado supostamente realizado por Israel, apoiado pelos Estados Unidos, em sua guerra no Oriente Médio, contra o Hezbollah, aliado dos palestinos, matando, em Beirute, no Líbano, uma dúzia de vítimas e ferindo milhares de outras por meio de acionamento tecnológico de pagers – hoje foram explosões em walkie talkies – abre novo capítulo na disputa geopolítica global.
Sobretudo, do ponto de vista comercial, ele vira ameaça global à tecnologia ocidental, desenvolvida, especialmente, pelos americanos, para utilização como arma de guerra pelos israelenses, devendo favorecer os concorrentes das inovações tecnológicas, com fins pacíficos, especialmente, China e Índia, e com propósitos preventivos, como Rússia, em disputa acirrada no comércio mundial.
Se tais inovações, desenvolvidas pela tecnológica ocidental, são, plenamente, utilizadas em iniciativas terroristas, sob controle da potência ocidental, por que não buscar alternativas de consumo com quem desenvolve mercadorias com propósitos opostos?
Não estaria aberta nova frente de luta no cenário geopolítico global, que confronta, mais intensamente, os que se alinham ao mundo unipolar, dominado pelos americanos, comprometidos com a guerra, com objetivo hegemônico, e os que buscam construir o mundo multipolar, com expansão do Sul Global, como são os casos dos BRICS, com Rússia, China e Índia, na vanguarda?
TECNOLOGIA DA MORTE MOSTRA SUA CARA
Ficou patente que a agora denominada tecnologia da morte se transforma em perigo e espantalho fatal para consumidores, facilmente, alcançados por atentados terroristas onde quer que estejam pelos adversários por meio de controles remotos.
A tecnologia macabra ocidental alerta a humanidade contra os propósitos terroristas dos que buscam a hegemonia tecnológica de guerra por meio do terror.
Ela cria, como se viu em Beirute, ambiente de desarticulação política disruptiva, rompendo o pressuposto entendido historicamente pela democracia ocidental, para dar lugar às investidas dos adversários inescrupulosos que lançam mão de todos os meios possíveis e imagináveis de modo a destroçar adversários em nome da conquista do poder.
Trata-se, como se verificou no atentado terrorista, no Líbano, de uma nova maneira de fazer política internacional por meio da subversão de todas as regras pacíficas de convivência humana.
A nova regra é surpreender adversários e inimigos potenciais, a fim de espalhar medo e impotência, rasgando, consequentemente, todos procedimentos e tratados internacionais que regulam relacionamento entre os povos.
Tudo está valendo.
O que se verificou, claramente, é que nova fronteira de agressão internacional, que se poderia caracterizar como expansão do uso da inteligência científica e artificial, subverte relações globais pacíficas, para dar lugar à barbárie tecnológica em escala incontrolável, ausente de toda e qualquer regulação.
NOVA GUERRA IMPERIALISTA URBANA
A guerra passa a prescindir-se de armas convencionais, utilizadas por aparatos bélicos e espaciais, até hoje desenvolvidos pela corrida armamentista, impulsionadas por dívidas públicas, mediante gastos keynesianos, para dar lutar à utilização dos mecanismos físicos, preparados em laboratórios, para atuarem de forma demoníaca à distância, nos meios urbanos densamente habitados.
Bilhões e bilhões de dólares são gastos nessa nova escalada, como prenuncia a parceria econômica e financeira entre Microsoft e fundo Black Bloc, objetivando investir 30 bilhões de dólares em Inteligência Artificial.
Tanto dinheiro para que, senão para desenvolver novas formas de dominação imperialista, a ser utilizada para o bem e para o mal, mediante critérios dos interesses vitais da guerra, principalmente?
A característica essencial desse novo modo de agir é a de pegar os inimigos de surpresa, sem capacidade de reação à priori, visando sua destruição e desarticulação de suas forças, produzindo pânicos e debandadas incontroláveis, como se verificou em Beirute.
Esse novo modus operandi imperialista poderia ou não ser acionado em Moscou, Pequim, Nova Deli etc, como está sendo experimentado em Beirute, nesse momento?
O atordoamento social é a forma expressa em que se manifestou, produzindo impossibilidades de ação, tal como se fosse realizada explosão atômica sobre populações desarmadas, como aconteceu com as barbáries perpetradas em Hiroxima e Nagasaki, em 1945, pelos Estados Unidos para dar aviso aos comunistas da União Soviética sobre o poder imperialista atômico.
Agora, o aperfeiçoamento tecnológico da destruição física dos adversários a distância cria nova dinâmica nas relações internacionais, cujas consequências passam a ser objeto de estudo tanto no campo científico e tecnológico, como comercial.
Essa tarefa leva a humanidade a buscar salvaguardas por meio de possíveis cancelamentos de encomendas de mercadorias realizadas por fornecedores cujos propósitos podem ser interpretados como sinistros pelos consumidores.
SINISTROSE GLOBAL EM MARCHA
A manipulação dúbia e ambígua de mercadorias tecnológicas que podem ser utilizadas para o bem e para o mal estará, portanto, relacionada aos propósitos ideológicos de dominação dos que as fabricam.
Nesse sentido, a tecnologia do mundo ocidental, que tem os Estados Unidos como vanguarda a abastecer, por exemplo, as demandas de guerra do seu principal cliente, Israel, empenhado na destruição explícita de inimigos, claramente, escolhidos, como os palestinos – e, por tabela, dos aliados deles, visto pelos israelenses como perigos iminentes à sobrevivência do povo judeu – torna-se alvo de desconfiança generalizada.
O critério de avaliação do consumo da tecnologia de informação de vanguarda, desenvolvida pelos países tecnologicamente avançados, como os Estados Unidos, relaciona-se, a partir de então, ao argumento da utilidade possível de tal aparato tecnológico, visto que o mesmo passa a ser interpretado como algo destrutivo e letal, como aconteceu, nesta terça-feira, no Líbano, com o propósito de destruir o Hezbollah.
A utilidade tecnológica mercantil passa a ser avaliada pelos consumidores, a partir de determinado momento, pelo julgamento geopolítico.
De onde vem o equipamento?
A partir dessa indagação, nascem os critérios de absorção ou rejeição dos aparatos tecnológicos.
Qual o objetivo das armas tecnológicas fabricadas pelo poder hegemônico americano, utilizadas por clientes, como o governo israelense, que as desenvolve, adicionalmente, conferindo-lhes artimanhas mortíferas para eliminar adversários?
Não seria, então, do ponto de vista das vítimas de tais artimanhas, necessário abandonar o consumo delas, buscando alternativas com outros fabricantes, concorrentes dessa hegemonia macabra, comprometida com um mundo unipolar, para consumir o seu oposto, isto é, tecnologias fabricadas por concorrentes comprometidos com visão oposta, de construção do mundo multipolar, pacífico, cooperativo?
(*)Por César Fonseca, jornalista, atua no programa Tecendo o Amanhã, da TV Comunitária do Rio, é conselheiro da TVCOMDF e edita o site independência Sul Americana.